sábado, 3 de junho de 2017

“Minha Vida de Menina”, de Helena Morley – os registros de 18 de agosto de 1895; Helena e seu primeiro dia como “mestra de escola” dos alunos do Rio Grande; indecisões de principiante; as crianças conferem a capacidade da professora

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/06/minha-vida-de-menina-de-helena-morley_74.html antes de ler esta postagem:

Helena foi convidada pela tia Madge para substitui-la na escola. A mestra pretendia tirar um mês de férias e aproveitar a ocasião para que a sobrinha fosse adquirindo alguma experiência. Ela esperava ceder a cadeira de mestra para Helena logo que se aposentasse.
Mas a menina não ficou muito animada. De alguma maneira ela já sabia que a realidade do dia-a-dia escolar em locais como o Rio Grande, onde as crianças  pertenciam a famílias mais pobres, não era nem um pouco fácil.
Helena também preocupava-se com o seu curso na Escola Normal... Como vimos na postagem anterior, Tia Madge conseguiu dissuadi-la.
(...)
Apesar de todos os temores, Helena entendia que a oportunidade tinha seu lado interessante.
Substituindo a tia, teria condições de avaliar se conseguiria mesmo passar seis horas de seu dia numa escola. Uma de suas dúvidas era quanto ao seu próprio modo de ser, pois era “inquieta e impaciente”.
Conseguiria suportar a tarefa de levar os cadernos dos alunos para casa e corrigi-los? O título de professora era ainda uma realidade distante para ela. Então considerou que a experiência na escola de tia Madge lhe daria algumas respostas que diziam respeito ao próprio futuro.
Na sexta-feira, Helena levantou-se cedo e seguiu para o Rio Grande. Desceu uma longa ladeira para chegar à escola.
(...)
Os alunos aguardavam o início das aulas.
Eles perceberam que Helena não tinha a menor ideia do que fazer. Viram quando ela perguntou a um dos maiores meninos da turma como deviam começar. No mesmo instante todos se levantaram e disseram que deviam cantar o hino.
Helena deu ordem para que cantassem. Eles fizeram isso, mas gritaram de modo desordenado e desafinado. Ela mandou pararem ao mesmo tempo em que dava reguadas na mesa. Depois sentenciou que não precisavam mais cantar.
Quando a situação parecia controlada, Helena decidiu fazer nova pergunta. Quis saber o que fariam na sequência. Cada um falou qualquer coisa apenas para deixá-la mais confusa. Então novo tumulto teve início.
Ela não conseguiu esconder a dificuldade para controlar o grupo. Simplesmente não tinha ideia da atividade que devia propor! De repente lembrou-se da época em que estudava na “escola da mestra Joaquininha” e que ela mantinha uma rotina que se iniciava com a correção dos cadernos dos alunos. Precisava conferir a escrita de todos eles.
Helena decidiu que todos deviam escrever. Ela não entra em detalhes sobre como essa atividade foi encaminhada, mas o fato é que graças a isso ganhou certo fôlego... Depois de algum tempo os alunos foram colocando seus cadernos sobre a sua mesa. Ela solicitou que abrissem os livros nas páginas que deviam estudar. Basicamente essa atividade consistia na leitura e talvez cópia de algum recorte de conteúdo.
A situação estava encaminhada assim: enquanto os meninos e meninas se dedicavam aos trechos dos livros que cada um devia estudar, ela corrigia cadernos.
(...)
Pode-se depreender que a classe não era homogênea nem em relação à faixa etária nem ao nível de aprendizagem dos alunos. Certamente isso não representava complicações para as mestras, pois este era quadro muito comum nas escolas (principalmente nas rurais).
(...)
Com os encaminhamentos definidos, o ambiente de sala de aula deveria se tornar menos agitado.
Mas, como veremos, não foi isso o que ocorreu.
Leia: Minha Vida de Menina. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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