Helena foi convidada pela tia Madge para substitui-la na escola. A mestra pretendia tirar um mês de férias e aproveitar a ocasião para que a sobrinha fosse adquirindo alguma experiência. Ela esperava ceder a cadeira de mestra para Helena logo que se aposentasse.
Mas a menina não ficou muito animada. De alguma maneira ela já sabia que a realidade do dia-a-dia escolar em locais como o Rio Grande, onde as crianças pertenciam a famílias mais pobres, não era nem um pouco fácil.
Helena também preocupava-se com o seu curso na Escola Normal... Como vimos na postagem anterior, Tia Madge conseguiu dissuadi-la.
(...)
Apesar
de todos os temores, Helena entendia que a oportunidade tinha seu lado
interessante.
Substituindo a tia,
teria condições de avaliar se conseguiria mesmo passar seis horas de seu dia
numa escola. Uma de suas dúvidas era quanto ao seu próprio modo de ser, pois
era “inquieta e impaciente”.
Conseguiria
suportar a tarefa de levar os cadernos dos alunos para casa e corrigi-los? O
título de professora era ainda uma realidade distante para ela. Então
considerou que a experiência na escola de tia Madge lhe daria algumas respostas
que diziam respeito ao próprio futuro.
Na sexta-feira,
Helena levantou-se cedo e seguiu para o Rio Grande. Desceu uma longa ladeira
para chegar à escola.
(...)
Os alunos aguardavam
o início das aulas.
Eles perceberam que
Helena não tinha a menor ideia do que fazer. Viram quando ela perguntou a um
dos maiores meninos da turma como deviam começar. No mesmo instante todos se
levantaram e disseram que deviam cantar o hino.
Helena deu ordem para
que cantassem. Eles fizeram isso, mas gritaram de modo desordenado e
desafinado. Ela mandou pararem ao mesmo tempo em que dava reguadas na mesa. Depois
sentenciou que não precisavam mais cantar.
Quando a situação parecia controlada, Helena decidiu fazer nova
pergunta. Quis saber o que fariam na sequência. Cada um falou qualquer coisa
apenas para deixá-la mais confusa. Então novo tumulto teve início.
Ela não conseguiu esconder a dificuldade para controlar o grupo. Simplesmente
não tinha ideia da atividade que devia propor! De repente lembrou-se da época
em que estudava na “escola da mestra Joaquininha” e que ela mantinha uma rotina
que se iniciava com a correção dos cadernos dos alunos. Precisava conferir a
escrita de todos eles.
Helena decidiu que todos deviam escrever. Ela
não entra em detalhes sobre como essa atividade foi encaminhada, mas o fato é
que graças a isso ganhou certo fôlego... Depois de algum tempo os alunos foram
colocando seus cadernos sobre a sua mesa. Ela solicitou que abrissem os livros
nas páginas que deviam estudar. Basicamente essa atividade consistia na leitura
e talvez cópia de algum recorte de conteúdo.
A situação estava
encaminhada assim: enquanto os meninos e meninas se dedicavam aos trechos dos livros
que cada um devia estudar, ela corrigia cadernos.
(...)
Pode-se depreender que a classe não era homogênea nem em relação à faixa
etária nem ao nível de aprendizagem dos alunos. Certamente isso não
representava complicações para as mestras, pois este era quadro muito comum nas
escolas (principalmente nas rurais).
(...)
Com os encaminhamentos definidos, o ambiente de sala de aula deveria se
tornar menos agitado.
Mas,
como veremos, não foi isso o que ocorreu.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/06/minha-vida-de-menina-de-helena-morley_86.html
Leia: Minha
Vida de Menina. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto