sexta-feira, 2 de junho de 2017

“Minha Vida de Menina”, de Helena Morley – registros de 8 de agosto de 1895; Helena cita alguns doidos que conhecia em Diamantina; seu Domingos cabeleireiro e sua mania de “ficar rico” a todo custo; o plano de matar onças na Lomba para vender os couros na cidade; a ideia de criar sardinhas no poço do Prata; seu Lessa e a conversa sobre beijar uma moça rica em público e ser obrigado a se casar com ela

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/06/minha-vida-de-menina-de-helena-morley_1.html antes de ler esta postagem:

Certa vez Helena se dispôs a contar com Glorinha a quantidade de doidos que viviam em Diamantina...
Sem que levassem em conta os do hospício, notaram que havia muitos!
“Duraque, Teresa Doida, Chichi Bombom, Maria do Zé Lotério, João Santeiro, Antônio Doido, Domingos do Acenzo”... Todos esses tipos eram também muito engraçados.
Na ocasião, Helena sentenciara que “uma cidade sem doidos deve ser muito sem graça”. Todos eles têm manias, e a “mania de ficar rico” do seu Domingos era a mais engraçada.
(...)
Seu Domingos era cabeleireiro.
O pai de Helena o chamava para lhe cortar o cabelo em casa. Nessas oportunidades, a garota não perdia a chance de ficar por perto para ouvir o que o doido tinha a dizer. A cada visita, seus “planos para ficar rico” se tornavam mais interessantes...
Helena não conseguia conter o riso, então tinha de se retirar rapidamente para o quarto sem que soubessem de sua inconveniência. Não era para menos! Seu Domingos tinha semblante sério...
Certa vez ele contou que estava juntando dinheiro para “matar onças na Lomba”. Sua ideia era obter couros e negociá-los na cidade.
Mas será que o cabeleireiro não tinha medo de enfrentar os felinos? Seu Alexandre quis saber, e a resposta do empreendedor não podia ser mais desbaratada. Ele explicou que já havia estudado o modo de anular a ação violenta do animal. Será que o seu Alexandre não conhecia o pó venenoso piriate*?

                  * Pereat, de acordo com a nota também era conhecido como “pó da Pérsia”.

Para seu Domingos, era tudo uma questão de conhecer o ambiente frequentado pelas onças. Ele sabia que elas ficavam junto às árvores. Era só subir numa delas com sua espingarda e uma lata cheia do veneno. Logo que visse uma, tossiria para espantá-la. A fera dirigiria seu olhar para o alto e este seria o momento de jogar o veneno contra os olhos dela. Depois era só disparar o tiro certeiro.
Seu Alexandre não o desanimou. Disse que se tratava de um ótimo plano. Animado, seu Domingos disse que também tinha um plano para criar sardinhas. Esperava que alguém trouxesse uma lata das de querosene cheia do peixe vivo desde o Rio de Janeiro. Ele os soltaria no “poço do Prata”...
Mas não era um “plano perfeito”?
(...)
Seu Domingos apostava na própria ideia, mas não tinha dinheiro para dar início ao projeto. Ele entendia que a solução seria encontrar uma jovem promissora. Talvez pudesse se casar com ela...
Ele ouviu de seu Chico Lessa que podia comprometer uma moça se a beijasse em público... E por que não tentar a sorte com Nhanhá?
Seu Lessa disse que ela era a moça mais rica da cidade. Se a beijasse em plena rua “seria obrigado a casar com ela”.
(...)
Helena conta que na quarta-feira, 7 de agosto, o seu Domingos vestiu-se elegantemente e se posicionou em frente ao seu salão.
Ela e as demais meninas (Nhanhá era uma de suas primas) seguiam para a escola e passaram despreocupadamente pelo local. De repente o homem correu em disparada na direção delas, deu um “agarrão” em Nhanhá e a beijou.
A garota soltou um grito daqueles!
Helena nada compreendeu quando a viu estirada no chão.
Leia: Minha Vida de Menina. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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