Certa vez Helena se dispôs a contar com Glorinha a quantidade de doidos que viviam em Diamantina...
Sem que levassem em conta os do hospício, notaram que havia muitos!
“Duraque, Teresa Doida, Chichi Bombom, Maria do Zé Lotério, João Santeiro, Antônio Doido, Domingos do Acenzo”... Todos esses tipos eram também muito engraçados.
Na ocasião, Helena sentenciara que “uma cidade sem doidos deve ser muito sem graça”. Todos eles têm manias, e a “mania de ficar rico” do seu Domingos era a mais engraçada.
(...)
O
pai de Helena o chamava para lhe cortar o cabelo em casa. Nessas oportunidades,
a garota não perdia a chance de ficar por perto para ouvir o que o doido tinha
a dizer. A cada visita, seus “planos para ficar rico” se tornavam mais
interessantes...
Helena não conseguia
conter o riso, então tinha de se retirar rapidamente para o quarto sem que
soubessem de sua inconveniência. Não era para menos! Seu Domingos tinha semblante
sério...
Certa vez ele contou
que estava juntando dinheiro para “matar onças na Lomba”. Sua ideia era obter
couros e negociá-los na cidade.
Mas será que o
cabeleireiro não tinha medo de enfrentar os felinos? Seu Alexandre quis saber,
e a resposta do empreendedor não podia ser mais desbaratada. Ele explicou que
já havia estudado o modo de anular a ação violenta do animal. Será que o seu
Alexandre não conhecia o pó venenoso piriate*?
* Pereat, de acordo
com a nota também era conhecido como “pó da Pérsia”.
Para seu Domingos, era tudo uma questão de conhecer o ambiente
frequentado pelas onças. Ele sabia que elas ficavam junto às árvores. Era só
subir numa delas com sua espingarda e uma lata cheia do veneno. Logo que visse
uma, tossiria para espantá-la. A fera dirigiria seu olhar para o alto e este seria
o momento de jogar o veneno contra os olhos dela. Depois era só disparar o tiro
certeiro.
Seu Alexandre não o desanimou. Disse que se tratava de um ótimo plano.
Animado, seu Domingos disse que também tinha um plano para criar sardinhas.
Esperava que alguém trouxesse uma lata das de querosene cheia do peixe vivo
desde o Rio de Janeiro. Ele os soltaria no “poço do Prata”...
Mas não era um “plano perfeito”?
(...)
Seu Domingos apostava
na própria ideia, mas não tinha dinheiro para dar início ao projeto. Ele
entendia que a solução seria encontrar uma jovem promissora. Talvez pudesse se
casar com ela...
Ele ouviu de seu Chico Lessa que podia comprometer uma moça se a
beijasse em público... E por que não tentar a sorte com Nhanhá?
Seu
Lessa disse que ela era a moça mais rica da cidade. Se a beijasse em plena rua “seria
obrigado a casar com ela”.
(...)
Helena conta que na quarta-feira,
7 de agosto, o seu Domingos vestiu-se elegantemente e se posicionou em frente
ao seu salão.
Ela e as demais
meninas (Nhanhá era uma de suas primas) seguiam para a escola e passaram
despreocupadamente pelo local. De repente o homem correu em disparada na
direção delas, deu um “agarrão” em Nhanhá e a beijou.
A garota soltou um grito daqueles!
Helena
nada compreendeu quando a viu estirada no chão.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/06/minha-vida-de-menina-de-helena-morley_74.html
Leia: Minha
Vida de Menina. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto