quarta-feira, 7 de junho de 2017

“Minha Vida de Menina”, de Helena Morley – os registros de 18 de agosto de 1895; encerrando o dia letivo antes da hora; a substituição dera em fiasco; Madge não se conforma com o desânimo de Helena diante das dificuldades do primeiro dia

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/06/minha-vida-de-menina-de-helena-morley_86.html antes de ler esta postagem:

Helena pensou que no final das contas ainda podia estar fazendo mal para a tia... Ela não se considerava competente o suficiente para ministrar aulas. A experiência estava se revelando um fracasso e estava “estragando a escola”. O melhor seria dispensar os alunos e depois perguntar à tia Madge o que deveria fazer.
(...)
Voltando-se aos alunos, Helena perguntou se nenhum deles havia estudado a lição do dia... Eles responderam que não e, além disso, todos a enganaram sobre os pontos que deviam estudar. Um deles interrompeu a falação para garantir que havia feito tudo corretamente. Os demais gritaram que ele estava mentindo, pois devia abrir o livro em lições mais adiantadas.
A discussão não tinha fim... Então Helena bateu a régua na mesa e exigiu que parassem. Sentenciou que haviam perdido o dia de estudos e que diria tudo à tia Madge.
A bronca não resultou em colaboração, já que passaram a rir e a provocar uns aos outros pela advertência da “mestra”. Ela quis saber o que faziam “para terminar a escola”. Eles responderam que rezavam.
Foi o que fizeram. Na sequência ela os dispensou.
Eles saíram na maior algazarra.
(...)
Assim que ficou sozinha, Helena refletiu a respeito do que tinha vivenciado. Entendeu que só havia uma decisão a tomar...
Pelo visto podia dedicar-se a qualquer outra atividade, menos a de “mestra de escola”... Enlouqueceria se tivesse de passar pelos mesmos transtornos!
Fechou a escola e seguiu para a casa da tia. Diria que era preciso procurar uma saída para a situação porque ela estava decidida a não mais voltar.
Aconteceu que ao chegar à casa de Madge, esgotada fisicamente pela longa subida, não teve chance de se pronunciar porque mal viu a tia e esta foi querendo saber por que ela havia deixado a escola tão cedo... O período de aulas se encerrava às quatro!
Helena explicou que não tinha condições de continuar e que estava decidida a não retornar no dia seguinte. Contou que os alunos não a respeitavam e que, no final das contas, a experiência só estava servindo para torná-los ainda mais “endiabrados”. Avisou que a tia teria sérios problemas para lidar com eles depois.
(...)
Madge não aceitou os argumentos e emendou que não se convenceria da “incapacidade” dela. De modo algum aceitaria que Zinha, “uma mulata”, tivesse mais condições de substitui-la do que a sua inteligente sobrinha.
Helena redarguiu... Disse que não “prestava pra nada” e que a Zinha era muito mais capaz do que ela. Madge irritou-se com o que ouviu e deu a entender que as palavras da menina só podiam ser explicadas pela má influência que as “vadias da escola” exerciam sobre ela. Depois insistiu que a sobrinha tinha de pensar melhor, pois ela tinha o projeto de deixar-lhe a escola após aposentar-se.
Para Helena, a situação que experimentara havia sido providencial. Talvez Deus  tivesse feito tudo aquilo acontecer. Graças a isso ela passou a ter certeza de que devia “procurar outro meio de vida”. Disse isso e emendou a ideia de se tornar uma pessoa como Siá Generosa.
É claro que a tia Madge objetou... Argumentou que a sobrinha devia se inspirar no exemplo dela e de Quequeta (tia Henriqueta?), que fizeram os estudos quando já tinham quase quarenta anos de idade. Graças ao seu esforço podiam gozar uma vida independente.
(...)
Helena ouviu com atenção, mas deu a entender que não podia ser comparada às tias. É verdade que gostaria de trabalhar e até se dispunha a fazer qualquer serviço... Mas pelo visto não levava jeito para “ensinar menino burro e malcriado e ser escrava de hora”.
Leia: Minha Vida de Menina. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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