Helena pensou que no final das contas ainda podia estar fazendo mal para a tia... Ela não se considerava competente o suficiente para ministrar aulas. A experiência estava se revelando um fracasso e estava “estragando a escola”. O melhor seria dispensar os alunos e depois perguntar à tia Madge o que deveria fazer.
(...)
Voltando-se aos
alunos, Helena perguntou se nenhum deles havia estudado a lição do dia... Eles
responderam que não e, além disso, todos a enganaram sobre os pontos que deviam
estudar. Um deles interrompeu a falação para garantir que havia feito tudo
corretamente. Os demais gritaram que ele estava mentindo, pois devia abrir o
livro em lições mais adiantadas.
A discussão não tinha fim... Então Helena bateu a régua na mesa e exigiu
que parassem. Sentenciou que haviam perdido o dia de estudos e que diria tudo à
tia Madge.
A
bronca não resultou em colaboração, já que passaram a rir e a provocar uns aos
outros pela advertência da “mestra”. Ela quis saber o que faziam “para terminar
a escola”. Eles responderam que rezavam.
Foi o que fizeram. Na
sequência ela os dispensou.
Eles
saíram na maior algazarra.
(...)
Assim que ficou
sozinha, Helena refletiu a respeito do que tinha vivenciado. Entendeu que só
havia uma decisão a tomar...
Pelo visto podia
dedicar-se a qualquer outra atividade, menos a de “mestra de escola”...
Enlouqueceria se tivesse de passar pelos mesmos transtornos!
Fechou a escola e seguiu para a casa da tia. Diria que era preciso
procurar uma saída para a situação porque ela estava decidida a não mais voltar.
Aconteceu que ao chegar à casa de Madge, esgotada fisicamente pela longa
subida, não teve chance de se pronunciar porque mal viu a tia e esta foi
querendo saber por que ela havia deixado a escola tão cedo... O período de
aulas se encerrava às quatro!
Helena explicou que não tinha condições de
continuar e que estava decidida a não retornar no dia seguinte. Contou que os
alunos não a respeitavam e que, no final das contas, a experiência só estava
servindo para torná-los ainda mais “endiabrados”. Avisou que a tia teria sérios
problemas para lidar com eles depois.
(...)
Madge não aceitou os
argumentos e emendou que não se convenceria da “incapacidade” dela. De modo
algum aceitaria que Zinha, “uma mulata”, tivesse mais condições de substitui-la
do que a sua inteligente sobrinha.
Helena redarguiu... Disse que não “prestava pra nada” e que a Zinha era
muito mais capaz do que ela. Madge irritou-se com o que ouviu e deu a entender
que as palavras da menina só podiam ser explicadas pela má influência que as “vadias
da escola” exerciam sobre ela. Depois insistiu que a sobrinha tinha de pensar
melhor, pois ela tinha o projeto de deixar-lhe a escola após aposentar-se.
Para
Helena, a situação que experimentara havia sido providencial. Talvez Deus tivesse feito tudo aquilo acontecer. Graças a
isso ela passou a ter certeza de que devia “procurar outro meio de vida”. Disse
isso e emendou a ideia de se tornar uma pessoa como Siá Generosa.
É claro que a tia
Madge objetou... Argumentou que a sobrinha devia se inspirar no exemplo dela e
de Quequeta (tia Henriqueta?), que fizeram os estudos quando já tinham quase
quarenta anos de idade. Graças ao seu esforço podiam gozar uma vida independente.
(...)
Helena
ouviu com atenção, mas deu a entender que não podia ser comparada às tias. É
verdade que gostaria de trabalhar e até se dispunha a fazer qualquer serviço...
Mas pelo visto não levava jeito para “ensinar menino burro e malcriado e ser
escrava de hora”.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/06/minha-vida-de-menina-de-helena-morley_8.html
Leia: Minha
Vida de Menina. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto