Phileas Fogg não sentiu a menor necessidade de adquirir armas para a longa viagem de trem que faria. Todavia considerou que seu criado podia tomar a decisão que achasse melhor. Até porque era Passepartout que arregalava os olhos ao pensar na atuação dos Sioux e Pawnies.
O inglês deixou clara a sua posição e seguiu para o escritório consular britânico.
(...)
Depois de apenas uns
duzentos passos em direção ao escritório, Fogg deparou-se com o senhor Fix. Era
espantoso, pois haviam feito a travessia do Pacífico na mesma embarcação e não
se encontraram em nenhum momento!
O policial disfarçou bem e mostrou-se surpreso. Manifestou que se sentia
honrado por revê-lo... Jamais se esqueceria da generosidade demonstrada pelo
cavalheiro desde que haviam perdido o embarque no Carnatic em Hong Kong!
Fix
emendou que tinha de retornar à Europa... Salientou que, pelo visto,
prosseguiriam juntos. Estava encantado por permanecer em “tão agradável
companhia”.
Respeitoso, Fogg
respondeu que era ele quem se sentia honrado.
Como
não quisesse perdê-lo de vista, Fix foi rápido ao se incluir no passeio pela
fascinante cidade.
E foi assim que, na
sequência, Fogg e Aouda caminharam pela concorrida Montgomery Street
acompanhados por Fix.
(...)
O movimento de
bondes, charretes e ônibus era intenso... Tipos fantasiados de sanduíche
circulavam por entre as pessoas. A agitação estava no ar! Era impossível não
notarem a grande quantidade de bandeirinhas agitadas por pessoas nas calçadas,
no interior de lojas, casas e até nos telhados.
Os três se viram no
meio de um meeting... Essa foi a
conclusão de Fix. Havia uma disputa pelos votos dos eleitores... Uma campanha política!
É por isso que de toda parte ouviam gritaria. Pelo visto os “candidatos” eram
Kamerfield e Mandiboy... Seus correligionários berravam a propaganda eleitoral.
O fanatismo assustava.
O policial sugeriu
que o melhor que tinham a fazer era evitar o tumulto. O que teriam a ganhar
permanecendo ali? Os mais empolgados podiam partir para a agressão física e
certamente sobrariam socos para tudo quanto era lado.
Phileas Fogg observou que não fazia o menor sentido continuarem em meio
à multidão. Um soco por motivações políticas era tão agressivo quanto qualquer
outro.
Fix achou graça daquelas palavras. Para que pudessem observar a
movimentação sem correr grandes riscos, os três se posicionaram no alto de uma
escada que dava para um terraço no fim da avenida.
Em segurança, viram as lojas do outro lado...
Notaram a de um comerciante de carvão e outra de um que negociava petróleo...
Mais à frente estava um grande espaço para onde as pessoas afluíam. Tudo
indicava que ali ocorreria a manifestação.
Para os estrangeiros,
não havia como adivinhar o motivo de toda aquela agitação. Talvez fosse devido
à nomeação de algum alto funcionário... Talvez um governador ou congressista...
(...)
Não dava para saber.
O
certo é que alguma decisão importante estava sendo tomada ali... De repente
erguiam os braços... De repente uma gritaria... Estavam votando e agitando as
bandeirinhas.
Fix observou mais uma
vez que aquilo era um meeting... Mas afinal,
o que discutiam? A “Questão do Alabama”* já estava decidida!
* Essa questão se relaciona a episódios da Guerra de
Secessão (1861-1865). Após o conflito, os Estados Unidos protestaram
formalmente contra a Inglaterra.
De modo simplificado, o Reino Unido (que se declarara neutro) reconheceu
que contribuía junto aos confederados em manobras que favoreciam o afundamento de
navios da União.
O processo, que se encerrou
no começo da década de 1870, esclareceu também o caso de “extravio” de embarcações
norte-americanas... Uma arbitragem internacional definiu as punições indenizatórias.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/06/a-volta-ao-mundo-em-oitenta-dias-de_18.html
Leia: A
Volta ao Mundo em Oitenta Dias – Coleção “Eu Leio”. Editora Ática.
Um abraço,
Prof.Gilberto