sexta-feira, 2 de junho de 2017

“Minha Vida de Menina”, de Helena Morley – sobre o fim do episódio marcado pelo ataque de seu Domingos registrado em 8 de agosto de 1895; o convite de tia Madge para a sua substituição; receios e visão preconceituosa de Helena sobre as pobres crianças do Rio Grande; início dos registros de 18 de agosto de 1895

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/06/minha-vida-de-menina-de-helena-morley_2.html antes de ler esta postagem:

Helena explicou o que ocorreu logo após o grande susto que Nhanhá tomou ao ser agarrada e beijada pelo seu Domingos, a plena “luz do dia”, enquanto se encaminhava para a escola com as amigas.
(...)
Helena nada compreendeu quando viu sua prima estirada no chão... Mas é verdade que não pôde deixar de notar o constrangimento pelo qual Nhanhá passou. Apesar de também se assustar com a inusitada atitude do pacato Domingos, ela sentiu graça do que viu e não conseguiu conter o riso.
Nhanhá foi levada para a sala de sua casa, que não ficava distante do local da “ocorrência”. Seu pai deu-lhe água para que ela se acalmasse... Não demorou e ela já estava se zangando com Helena que continuava a rir.
Foi difícil se conter. Principalmente depois que ela viu que o seu Domingos entrou na sala “para aguardar o padre que faria o casamento”.
O homem era doido mesmo!

(...)

No dia 15 de agosto de 1895, Helena visitou a tia Madge. Naturalmente falaram sobre diversos assuntos, e num determinado momento a tia disse que resolvera tirar um mês de férias. Explicou que, em vez de chamar outra professora para as aulas, tinha resolvido convidá-la para a substituição.
No começo Helena resistiu um pouco à ideia de lecionar no lugar da tia, que insistiu que ela ganharia alguma experiência, além de receber o dinheirinho das aulas. Madge a fez ver que preferia ela a outra qualquer, além disso fazia planos de colocá-la em seu lugar logo que se aposentasse.
(...)
No chuvoso domingo, 18 de agosto, Helena aproveitou para escrever em seu diário a respeito da experiência que teve.
Logo no início de seu registro explica que “ter se livrado da escola da tia” havia sido um grande alívio... Nem podia acreditar! Parecia um sonho!
Em síntese, seus dias de professora foram trágicos. Suficientes para que concluísse que “nunca mais” desejaria a condição de “mestre de escola”.
Podemos antecipar que a experiência fora tão catastrófica que ela até chegou a fazer uma promessa para se livrar dos transtornos sem que sua relação com a tia sofresse maiores traumas.
Na ocasião em que a tia Madge a convenceu, Helena ainda argumentou que se faltasse durante um mês à escola poderia “perder o ano”. A sugestão da tia foi no mínimo questionável. Ela deu a entender que a chamada podia ser respondida por uma colega de Helena e dessa forma não teria nenhum prejuízo em relação aos apontamentos de assiduidade.
Mas não eram apenas as ausências na escola que incomodavam Helena. Ela sabia que com tantas faltas teria dificuldade para acompanhar as demais quando voltasse a frequentar regularmente. Em relação a isso, Madge foi incisiva e disse que em uma semana Helena recuperaria todo o estudo perdido.
Helena sugeriu ainda que a tia chamasse a Zinha. Madge respondeu que a mesma se encontrava adoentada. Todavia garantiu que pensaria se quinze dias bastariam para a substituição.
(...)
Helena retirou-se da casa da tia pensando na má sorte de tê-la como madrinha tão dedicada a protegê-la. Também sentiu-se amargurada pela possibilidade de ter de abandonar a escola por causa de um capricho dela.
A garota estava inconformada e entendia que faria um grande sacrifício. Tinha muitas dúvidas sobre a empreitada. Lamentou-se por ter de deixar a escola por uns dias “para ir ensinar meninos pretos e burros no Rio Grande”.
Leia: Minha Vida de Menina. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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