Helena explicou o que ocorreu logo após o grande susto que Nhanhá tomou ao ser agarrada e beijada pelo seu Domingos, a plena “luz do dia”, enquanto se encaminhava para a escola com as amigas.
(...)
Helena nada
compreendeu quando viu sua prima estirada no chão... Mas é verdade que não pôde
deixar de notar o constrangimento pelo qual Nhanhá passou. Apesar de também se
assustar com a inusitada atitude do pacato Domingos, ela sentiu graça do que
viu e não conseguiu conter o riso.
Nhanhá foi levada para a sala de sua casa, que não ficava distante do
local da “ocorrência”. Seu pai deu-lhe água para que ela se acalmasse... Não demorou
e ela já estava se zangando com Helena que continuava a rir.
Foi
difícil se conter. Principalmente depois que ela viu que o seu Domingos entrou
na sala “para aguardar o padre que faria o casamento”.
O homem era doido
mesmo!
(...)
No
dia 15 de agosto de 1895, Helena visitou a tia Madge. Naturalmente falaram
sobre diversos assuntos, e num determinado momento a tia disse que resolvera
tirar um mês de férias. Explicou que, em vez de chamar outra professora para as
aulas, tinha resolvido convidá-la para a substituição.
No começo Helena resistiu
um pouco à ideia de lecionar no lugar da tia, que insistiu que ela ganharia
alguma experiência, além de receber o dinheirinho das aulas. Madge a fez ver
que preferia ela a outra qualquer, além disso fazia planos de colocá-la em seu
lugar logo que se aposentasse.
(...)
No chuvoso domingo,
18 de agosto, Helena aproveitou para escrever em seu diário a respeito da
experiência que teve.
Logo no início de seu
registro explica que “ter se livrado da escola da tia” havia sido um grande
alívio... Nem podia acreditar! Parecia um sonho!
Em síntese, seus dias
de professora foram trágicos. Suficientes para que concluísse que “nunca mais”
desejaria a condição de “mestre de escola”.
Podemos antecipar que a experiência fora tão catastrófica que ela até
chegou a fazer uma promessa para se livrar dos transtornos sem que sua relação
com a tia sofresse maiores traumas.
Na ocasião em que a tia Madge a convenceu, Helena ainda argumentou que
se faltasse durante um mês à escola poderia “perder o ano”. A sugestão da tia
foi no mínimo questionável. Ela deu a entender que a chamada podia ser
respondida por uma colega de Helena e dessa forma não teria nenhum prejuízo em
relação aos apontamentos de assiduidade.
Mas não eram apenas as ausências na escola que
incomodavam Helena. Ela sabia que com tantas faltas teria dificuldade para
acompanhar as demais quando voltasse a frequentar regularmente. Em relação a
isso, Madge foi incisiva e disse que em uma semana Helena recuperaria todo o
estudo perdido.
Helena sugeriu ainda
que a tia chamasse a Zinha. Madge respondeu que a mesma se encontrava
adoentada. Todavia garantiu que pensaria se quinze dias bastariam para a
substituição.
(...)
Helena retirou-se da casa da tia pensando na má sorte de tê-la como
madrinha tão dedicada a protegê-la. Também sentiu-se amargurada pela
possibilidade de ter de abandonar a escola por causa de um capricho dela.
A
garota estava inconformada e entendia que faria um grande sacrifício. Tinha
muitas dúvidas sobre a empreitada. Lamentou-se por ter de deixar a escola por
uns dias “para ir ensinar meninos pretos e burros no Rio Grande”.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/06/minha-vida-de-menina-de-helena-morley_3.html
Leia: Minha
Vida de Menina. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto