Estamos neste ponto em que Kapuscinski foi barrado por rebeldes da UPGA na estrada que adentrava território ioruba... Cercado por tipos violentos e armados com rifles e facões, ele decidiu manter-se o mais calmo possível...
A certa altura começaram a exigir dinheiro como se isso fosse condição para sua filiação à UPGA... Kapuscinski entregou-lhes cinco xelins... Foi golpeado na cabeça... Deixaram claro que queriam cinco libras.
(...)
Novamente o autor recorreu às suas lembranças... Mesmo em situação de
extrema pressão, concluiu que o trabalho dos jornalistas na cobertura dos
conflitos na África estava se tornando oneroso demais... No Congo, por exemplo,
os rebeldes agrediam com um golpe na cabeça e exigiam um maço de cigarros.
Aquele
que parecia ser o líder dos rebeldes ordenou que colocassem fogo no Peugeot que
Kapuscinski dirigia... O veículo pertencia ao governo polonês... Era certo faria
falta.
Encharcavam o carro
com gasolina quando o polonês estendeu-lhes as cinco libras. Depois disso foi
autorizado a prosseguir.
(...)
De
fato, havia passado por terrível sufoco.
Enquanto os rebeldes retiravam os troncos para que pudesse passar, teve
tempo de notar que dos dois lados da estrada havia concentração de moradores
dos vilarejos próximos... Esses permaneciam calados. Estavam ali para assistir
ao espetáculo de terror... Também eles carregavam bandeiras da UPGA e
fotografias de Awolowo... Algumas garotas estavam com seus grandes seios à
mostra (neles haviam pintado a sigla do partido)...
(...)
Restavam mais cinquenta
quilômetros, e sua preocupação passou a ser o pouco dinheiro que ainda lhe
restava... Provavelmente insuficiente para sobreviver a uma nova barreira
rebelde.
Passou por uma aldeia
que ardia em fogo... Os moradores fugiram deixando animais para trás...
Quilômetros à frente o carro foi barrado novamente.
Dessa feita a condição
do polonês era ainda mais desfavorável...
Se o que havia sofrido no bloqueio anterior era o padrão adotado pelos
rebeldes, não teria como pagar o “pedágio”.
Ele percebeu que os ativistas devidamente trajados com roupas que os
identificavam como membros da UPGA enterravam um tipo que viajava pela estrada
e que não quis (ou provavelmente não tinha como) pagá-los... Outro tipo que
devia ser o passageiro do mesmo veículo jazia coberto de sangue.
(...)
Os rebeldes dessa segunda barreira se
aproximaram de Kapuscinski e foram logo desferindo dois socos contra sua barriga...
Sem delongas, rasgaram sua camisa e confiscaram o dinheiro que trazia.
A narrativa contida
em “A Guerra do Futebol” está à altura dos roteiros cinematográficos... O
polonês pensou que o queimariam vivo... Ele sabia que esse era um dos modos de
agir daqueles rebeldes.
O método dos ativistas era o do terror... Apelavam para a selvageria.
De
fato, começaram a ensopá-lo com benzol...
Leia: A
Guerra do Futebol. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto