sexta-feira, 25 de março de 2016

“A Guerra do Futebol”, de Ryszard Kapuscinski – a caminho do território ioruba; estrada da morte, escapar com vida se tornara mais caro; vilarejos incendiados; viajantes considerados inimigos sofriam ataques mortais; nova barreira e Kapuscinski corre o risco de ser queimado vivo

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/03/a-guerra-do-futebol-de-ryszard_25.html antes de ler esta postagem:

Estamos neste ponto em que Kapuscinski foi barrado por rebeldes da UPGA na estrada que adentrava território ioruba... Cercado por tipos violentos e armados com rifles e facões, ele decidiu manter-se o mais calmo possível...
A certa altura começaram a exigir dinheiro como se isso fosse condição para sua filiação à UPGA... Kapuscinski entregou-lhes cinco xelins... Foi golpeado na cabeça... Deixaram claro que queriam cinco libras.
(...)
Novamente o autor recorreu às suas lembranças... Mesmo em situação de extrema pressão, concluiu que o trabalho dos jornalistas na cobertura dos conflitos na África estava se tornando oneroso demais... No Congo, por exemplo, os rebeldes agrediam com um golpe na cabeça e exigiam um maço de cigarros.
Aquele que parecia ser o líder dos rebeldes ordenou que colocassem fogo no Peugeot que Kapuscinski dirigia... O veículo pertencia ao governo polonês... Era certo faria falta.
Encharcavam o carro com gasolina quando o polonês estendeu-lhes as cinco libras. Depois disso foi autorizado a prosseguir.
(...)
De fato, havia passado por terrível sufoco.
Enquanto os rebeldes retiravam os troncos para que pudesse passar, teve tempo de notar que dos dois lados da estrada havia concentração de moradores dos vilarejos próximos... Esses permaneciam calados. Estavam ali para assistir ao espetáculo de terror... Também eles carregavam bandeiras da UPGA e fotografias de Awolowo... Algumas garotas estavam com seus grandes seios à mostra (neles haviam pintado a sigla do partido)...
(...)
Solitário, Kapuscinski prosseguiu sua viagem que cortava as belas paisagens da Nigéria...
Restavam mais cinquenta quilômetros, e sua preocupação passou a ser o pouco dinheiro que ainda lhe restava... Provavelmente insuficiente para sobreviver a uma nova barreira rebelde.
Passou por uma aldeia que ardia em fogo... Os moradores fugiram deixando animais para trás... Quilômetros à frente o carro foi barrado novamente.
Dessa feita a condição do polonês era ainda mais desfavorável...
Se o que havia sofrido no bloqueio anterior era o padrão adotado pelos rebeldes, não teria como pagar o “pedágio”.
Ele percebeu que os ativistas devidamente trajados com roupas que os identificavam como membros da UPGA enterravam um tipo que viajava pela estrada e que não quis (ou provavelmente não tinha como) pagá-los... Outro tipo que devia ser o passageiro do mesmo veículo jazia coberto de sangue.
(...)
Os rebeldes dessa segunda barreira se aproximaram de Kapuscinski e foram logo desferindo dois socos contra sua barriga... Sem delongas, rasgaram sua camisa e confiscaram o dinheiro que trazia.
A narrativa contida em “A Guerra do Futebol” está à altura dos roteiros cinematográficos... O polonês pensou que o queimariam vivo... Ele sabia que esse era um dos modos de agir daqueles rebeldes.
O método dos ativistas era o do terror... Apelavam para a selvageria.
De fato, começaram a ensopá-lo com benzol...
Leia: A Guerra do Futebol. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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