Kapuscinski deixou Argel em novembro de 1965...
O avião que o levava para Acra fez escala em Conakry, na Guiné. O aeroporto estava que era uma agitação só. O ambiente repleto de policiais e soldados do exército chamou a atenção do jornalista polonês que quis saber o que estava acontecendo.
As informações davam conta de que havia sido descoberto “um complô contra a República”... Sékou Touré sofrera atentados e, enquanto se faziam buscas aos golpistas, muitas prisões vinham sendo realizadas... Falava-se em muitas exonerações, e isso era um indicativo de que pessoas muito próximas ao governo estavam envolvidas.
(...)
Em Acra, Nkrumah convocou jornalistas para conceder
uma entrevista coletiva para tratar de questões referentes à Rodésia*.
* que buscava emancipação em relação à Inglaterra; os ingleses,
amparados em decisão da ONU, impuseram
sanções ao território;
esperava-se que as dificuldades impostas pelo
“não reconhecimento
internacional” forçasse os rodesianos
retrocederem;
evidentemente, Nkrumah, que era pan-africanista, se
posicionaria
contra a arbitrariedade imposta à
nação africana).
Kapuscinski explica que teve muita dificuldade para passar pela
segurança... Todos eram minuciosamente revistados, mas os agentes implicaram
com sua lapiseira... O objeto foi desmontado e remontado algumas vezes... Só
depois de terem a garantia de que não se tratava de uma arma o liberaram.
Muitos comentavam que Nkrumah andava abatido...
Provavelmente estava dormindo pouco, pois sua aparência revelava esgotamento...
Dois meses antes, ele havia afastado o chefe e o subchefe do Comando militar...
O próprio presidente “se autonomeou comandante-em-chefe do Exército” depois de
reorganizar o Ministério da Defesa.
(...)
Na sequência, vemos Kapuscinski encaminhando-se para Lagos, então
capital da Nigéria...
O caminho percorrido de carro até a fronteira de Gana foi marcado por
bloqueios militares... Ao menos seis barricadas travavam o caminho e revistavam
a todos os que pretendiam passar. O país vivia o Estado de Sítio desde as
tentativas de golpe... Justifica-se a severa vigilância também como forma de
evitar boatos que desarranjavam a economia.
Na fronteira que separa Gana de Togo havia um portão trancado por
corrente... O militar de plantão teve certo trabalho para encontrar a chave que
abria caminho ao repórter polonês.
A capital de Togo, Lomé, era pouco mais que uma “pequena rua” dotada de
palmeiras e pequenas casas... Uma cidadezinha linda, “arenosa e quente”...
Kapuscinski cita uma “cerca alta”, onde ocorreu o fuzilamento de Silvanus
Olimpio, que era presidente do país. Há dois anos o Togo havia sido palco de
golpe militar.
(...)
O autor se instalou no
Hotel du Golf e enquanto descansava ouvia as notícias transmitidas pelo rádio a
respeito do golpe no Congo... Como se sabe, Lumumba havia sido brutalmente
assassinado em Katanga... Kasavubu foi mantido na presidência por algum tempo,
mas durante a crise política com Moise Tshombe (primeiro-ministro), foi feito prisioneiro
pelo general Mobutu, que anunciou a própria nomeação para a presidência do país
por um prazo (?) de cinco anos.
Sabe-se que com o apoio dos
Estados Unidos e de outras potências, Mobutu permaneceu ainda por mais tempo no
poder... O certo é que naquele final de 1965, Kapuscinski tinha certeza de que
para um tipo como Mobutu, amparado por soldados fortemente armados, não havia
concorrência política nos países africanos... Nenhum partido político
organizado nos moldes tradicionais poderia fazer frente às lideranças militares
que conseguiam o apoio de países poderosos em tempos de Guerra Fria.
(...)
Kapuscinski seguiu de
carro para Daomé (Benim)...
Novamente ele descreve as belezas locais... Fala sobre a longa estrada
litorânea e o “vilarejo pesqueiro mais comprido do mundo”, que se estende desde
Gana.
Em Cotonotu (capital administrativa), o polonês
encontrou Jacques Lamoureux (jornalista francês) que, aos gritos, comunicou-lhe
que o pequeno país estava passando por um Golpe de Estado...
Leia: A
Guerra do Futebol. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto