sábado, 19 de março de 2016

“A Guerra do Futebol”, de Ryszard Kapuscinski – de viagens e mais notícias (muitas) sobre violências e desentendimentos políticos em Guiné, Rodésia, Gana, Daomé...

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/03/a-guerra-do-futebol-de-ryszard_15.html antes de ler esta postagem:

Kapuscinski deixou Argel em novembro de 1965...
O avião que o levava para Acra fez escala em Conakry, na Guiné. O aeroporto estava que era uma agitação só. O ambiente repleto de policiais e soldados do exército chamou a atenção do jornalista polonês que quis saber o que estava acontecendo.
As informações davam conta de que havia sido descoberto “um complô contra a República”... Sékou Touré sofrera atentados e, enquanto se faziam buscas aos golpistas, muitas prisões vinham sendo realizadas... Falava-se em muitas exonerações, e isso era um indicativo de que pessoas muito próximas ao governo estavam envolvidas.
(...)
Em Acra, Nkrumah convocou jornalistas para conceder uma entrevista coletiva para tratar de questões referentes à Rodésia*.

                        * que buscava emancipação em relação à Inglaterra; os ingleses,
                        amparados em decisão da ONU, impuseram sanções ao território;
                        esperava-se que as dificuldades impostas pelo “não reconhecimento
                        internacional” forçasse os rodesianos retrocederem;
                        evidentemente, Nkrumah, que era pan-africanista, se
                        posicionaria contra a arbitrariedade imposta à nação africana).

Kapuscinski explica que teve muita dificuldade para passar pela segurança... Todos eram minuciosamente revistados, mas os agentes implicaram com sua lapiseira... O objeto foi desmontado e remontado algumas vezes... Só depois de terem a garantia de que não se tratava de uma arma o liberaram.
Muitos comentavam que Nkrumah andava abatido... Provavelmente estava dormindo pouco, pois sua aparência revelava esgotamento... Dois meses antes, ele havia afastado o chefe e o subchefe do Comando militar... O próprio presidente “se autonomeou comandante-em-chefe do Exército” depois de reorganizar o Ministério da Defesa.
(...)
Na sequência, vemos Kapuscinski encaminhando-se para Lagos, então capital da Nigéria...
O caminho percorrido de carro até a fronteira de Gana foi marcado por bloqueios militares... Ao menos seis barricadas travavam o caminho e revistavam a todos os que pretendiam passar. O país vivia o Estado de Sítio desde as tentativas de golpe... Justifica-se a severa vigilância também como forma de evitar boatos que desarranjavam a economia.
Na fronteira que separa Gana de Togo havia um portão trancado por corrente... O militar de plantão teve certo trabalho para encontrar a chave que abria caminho ao repórter polonês.
A capital de Togo, Lomé, era pouco mais que uma “pequena rua” dotada de palmeiras e pequenas casas... Uma cidadezinha linda, “arenosa e quente”... Kapuscinski cita uma “cerca alta”, onde ocorreu o fuzilamento de Silvanus Olimpio, que era presidente do país. Há dois anos o Togo havia sido palco de golpe militar.
(...)
O autor se instalou no Hotel du Golf e enquanto descansava ouvia as notícias transmitidas pelo rádio a respeito do golpe no Congo... Como se sabe, Lumumba havia sido brutalmente assassinado em Katanga... Kasavubu foi mantido na presidência por algum tempo, mas durante a crise política com Moise Tshombe (primeiro-ministro), foi feito prisioneiro pelo general Mobutu, que anunciou a própria nomeação para a presidência do país por um prazo (?) de cinco anos.
Sabe-se que com o apoio dos Estados Unidos e de outras potências, Mobutu permaneceu ainda por mais tempo no poder... O certo é que naquele final de 1965, Kapuscinski tinha certeza de que para um tipo como Mobutu, amparado por soldados fortemente armados, não havia concorrência política nos países africanos... Nenhum partido político organizado nos moldes tradicionais poderia fazer frente às lideranças militares que conseguiam o apoio de países poderosos em tempos de Guerra Fria.
(...)
Kapuscinski seguiu de carro para Daomé (Benim)...
Novamente ele descreve as belezas locais... Fala sobre a longa estrada litorânea e o “vilarejo pesqueiro mais comprido do mundo”, que se estende desde Gana.
Em Cotonotu (capital administrativa), o polonês encontrou Jacques Lamoureux (jornalista francês) que, aos gritos, comunicou-lhe que o pequeno país estava passando por um Golpe de Estado...
Leia: A Guerra do Futebol. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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