terça-feira, 29 de março de 2016

“A Guerra do Futebol”, de Ryszard Kapuscinski – a libertação de Awolowo, “a grandiosidade em pessoa”; considerações diversas sobre a personalidade “iluminada e messiânica”

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/03/a-guerra-do-futebol-de-ryszard_27.html antes de ler esta postagem:

O dia 3 de agosto de 1966 ficou marcado pela libertação de Obafemi Awolowo.
O grande líder dos iorubas permaneceu preso por anos na carceragem de Calabar... O regime do tenente-coronel Gowon o libertou.
(...)
A leitura de “A Guerra do Futebol” permite conhecer um pouco do prestígio de Awolowo que, mais do que líder político, era considerado um “messias iluminado”.
O “Nigerian Tribune” destacou que a libertação de Awolowo ao meio-dia provocou um fenômeno que todos deviam conhecer: “as trevas se desfizeram e, no céu, raiou a aurora”.
Bola Oragbaiye era daqueles que labutava em reflexões que pretendiam entender os motivos de Awolowo possuir tanta “grandeza”... Qual seria o segredo?
Oragbaiye escrevia no “Nigerian Tribune” sem alimentar expectativas de que, um dia, pudesse apresentar resposta ao mistério fenomenal...
Havia outros, como Omo Exum, que entendiam que as virtudes de Awolowo eram infinitas...
O consenso era o de que o líder era dotado de “aura divina” e estava “acima de todos”. Então, qualquer manifestação de ceticismo devia ser vista como “insanidade mental”.
(...)
G. B. A. Akinyede escreveu “Awo Homem, Awo Profeta, Awo Salvador”, brochura que circulava em meio à população. Para o autor, a libertação do líder havia provocado “explosões de alegria em toda a África, em todos os países da Comunidade Britânica e em todo o mundo”...
Passava-se a ideia de que a Providência Divina havia intercedido para que sua libertação se efetivasse... E que, graças a Ela, “as trevas se dissiparam”...
É o próprio Akinyede quem dava a entender que, com a prisão (o Hades de Awolowo), “o mundo caiu na escuridão”, “o céu se cobriu de nuvens e o dia se fez noite”... Houve “terremotos, epidemias, perfídias e grandes sofrimentos”.
A libertação permitiu que Awolowo “solicitasse o retorno da luz”... Assim, a paz retornou e os terremotos (as epidemias, perfídias e demais sofrimentos) cessaram.
A partir desse ponto de vista, Awolowo, devia ser encarado como “glorioso salvador”... Sua personalidade só poderia ser comparada à dos profetas do Antigo Testamento... Uma vez que o consideravam profeta, devia ser entendido como “líder extraordinário”, a “grandiosidade em pessoa”.
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Relacionavam-no ao próprio Jesus Cristo.
Assim como o Crucificado, o líder político nigeriano também conviveu com traidores e pessoas que o renegavam... Sua presença em meio aos demais era um “milagre”, obra de Deus, que a todos perdoara ainda que “soubessem o que faziam”.
Elleh Kcorr ia ainda mais longe com suas apreciações sobre Awolowo... No “Nigerian Tribune” (saberemos por que este jornal publicava tanto, e de modo exagerado, a respeito da dignidade do grande líder) afirmava que a sua libertação representava o “nascimento do tão necessário messias” que salvaria a Nigéria “de um colapso total, excepcionalmente sua região oriental”.
Kcorr acrescentava que era espantoso que alguém tão grandioso como Awolowo tivesse corpo e alma (e “aparência de homem comum”) como os demais mortais.
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O poeta Jola West escreveu “A história de coragem de Awolowo”, poema que celebra a libertação do grande herói e canta a sua majestade, direito de reinar e sua celebridade diante de uma multidão de anjos e almas...
Norte, Sul Leste e Oeste deveriam se curvar diante dele.
Leia: A Guerra do Futebol. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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