sexta-feira, 25 de março de 2016

“A Guerra do Futebol”, de Ryszard Kapuscinski – a caminho do território ioruba; contemplando bela natureza e a maravilhosa noite do Saara; estrada da morte, barreiras incendiárias

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/03/a-guerra-do-futebol-de-ryszard_23.html antes de ler esta postagem:

Então aconteceu de, por breve tempo, na área dos iorubas, conviverem duas administrações: a “oficial”, determinada pelo governo central; e aquela que os rebeldes da UPGA queriam impor.
Depois os membros do “governo rebelde majoritário” começaram a ser presos... A UPGA reagiu deflagrando o confronto contra todos os que simpatizavam com o pessoal do NNDP.
(...)
A guerra adquiriu formatação horrenda. O vandalismo predominou... Plantações e moradias tornaram-se alvos de incendiários... As estradas ficaram repletas de cadáveres e veículos carbonizados... Os vilarejos e as florestas iorubas arderam em chamas.
Disseram a Kapuscinski que certas estradas (aquelas que levavam aos territórios iorubas) eram proibidas aos brancos... Garantiram que os que ousassem atravessá-las terminariam mortos.
O correspondente de guerra precisava conferir... Ele não deixaria a oportunidade passar porque esse era o seu estilo de cumprir o ofício de repórter.
(...)
O caminho percorrido era marcado pelas belas paisagens que tanto chamam a atenção dos ocidentais... Mas a sensação de que a qualquer momento poderia ocorrer algum atentado fazia com que a viagem adquirisse ares temerários.
O autor registra que não há como não se encantar com as noites do Saara... Seu relato emocionado garante que em nenhum outro lugar do mundo as estrelas são “gigantescas”, como no deserto... “Elas se balançam sobre a areia como enormes candelabros”... “A noite no Saara é tão verde quanto um prado europeu”.
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Depois de passar por determinada colina, Kapuscinski dá a entender que não teria como retroceder... Enfim se posicionava em área dominada por rebeldes.
Logo pôde ver uma barreira em chamas... Não havia como passar pela estrada, pois os rebeldes haviam colocado fogo em troncos que arrastaram para o meio do caminho...
O polonês notou pelo menos dez jovens armados com espingardas, facas e facões... Eles vestiam as cores da UPGA (azul e branco) e traziam a fotografia de Awolowo, seu endeusado líder político.
Os tipos se comportaram de modo violento. Estavam tão agitados que suavam a ponto de ensopar as vestes. Pelo visto haviam fumado haxixe, “pois seus olhos estavam turvos e eles pareciam enlouquecidos”.
Arrancaram Kapuscinski do veículo... Gritaram a sigla do partido enquanto mantinham pontas de facas em suas costas... Ameaçam golpear a cabeça do gringo com os facões... Os que se posicionaram mais afastados mantinham as armas de fogo apontadas contra ele... Não havia como escapar!
(...)
Kapuscinski lembrou-se de experiências anteriores, quando (no Congo) teve a vida ameaçada por armas encostadas em seu corpo... Então decidiu permanecer imóvel, escondendo qualquer ponto fraco, inclusive para não provocar ainda mais a ira dos agressores...
Dessa forma, escondendo suas fraquezas e temores, o polonês esperava sobreviver. A única coisa que aqueles tipos sabiam é que ele se tratava de um branco... É claro que não teria chances de explicar que não se tratava de inimigo, até porque (para eles) qualquer branco devia ter vínculos com os antigos colonizadores, de quem queriam se vingar por todas as humilhações sofridas no passado.
(...)
É bom que se saiba que a movimentação rebelde que estava ocorrendo não tem relação direta com o processo de independência, que aconteceu em 1960.
Outras postagens apresentarão um quadro mais detalhado a respeito de Obafemi Awolowo. E também sobre as divergências entre os grupos étnicos aos quais os iorubas ofereciam resistência.
Leia: A Guerra do Futebol. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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