sábado, 26 de março de 2016

“A Guerra do Futebol”, de Ryszard Kapuscinski – o verão de 1966 e a influência religiosa na política nigeriana; publicações a respeito das iniciativas dos guias espirituais; apóstolos, vigários, profetas; a célebre profecia de Oba Salamu Aminu J. T. Durojaiye (de Ibadan)

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/03/a-guerra-do-futebol-de-ryszard_26.html antes de ler esta postagem:

Os guias espirituais nigerianos davam a entender que a instabilidade política do país só podia ser resultado do afastamento do povo em relação a Deus...
Alguns atuavam como profetas e anunciavam golpes e atentados contra dirigentes.
A lista dos periódicos que repercutiam as iniciativas de igrejas e religiosos não é pequena...
Os casos são variados... Em geral nota-se que os guias espirituais esperavam contribuir com suas orações e retiros para que Deus protegesse as lideranças políticas e a população do país.
Na última postagem conhecemos as citações que o autor extraiu de “Nigerian Daily Sketch”... Nessa conheceremos algumas outras.
(...)
Outro exemplo destacado por Kapuscinski é o do jornal “Morning Post”, que publicou a respeito da iniciativa do apóstolo Adeleke Adejobi, da Igreja do Senhor... Adejobi convocou os fiéis de sua igreja a participarem das orações no monte Tabor (nas proximidades de Ogere), onde pediriam “pelo retorno da paz e da unidade na Nigéria”.
O mesmo “Morning Post” evidenciou o sermão do vigário da Catedral de Cristo (Lagos)... F. O. Segun sentenciava que a crise política da Nigéria estava tão aguda que se o próprio “Jesus Cristo quisesse visitar Lagos, não Lhe seria concedido visto de saída e a televisão não se interessaria em filmá-Lo”.
Já o “Daily Times” deu espaço para as palavras de Nathanel O. Saleko, líder da Igreja Metodista (Ibadan)... O religioso chamou “o país inteiro para um renascimento moral” defendendo que apenas a união em torno dessa ação poderia tornar “possível uma luta sem tréguas contra o terrível demônio da discórdia” que destruía a nação.
A edição de 11 de agosto de 1966 do “West African Pilot” deu destaque à visão do profeta Glover Ola Olorum Ogung-Bamila Pedro Ilaie, que pertencia à Igreja de Jesus (Lagos)... De acordo com o jornal, o profeta teve a “revelação” em 6 de junho e decidiu comunicar imediatamente o chefe de governo do país, que na época era o general Aguiyi-Ironsi... De acordo com o profeta, o general corria perigo...
O “West African Pilot” lamentou o fato de não darem crédito ao líder espiritual, preso pela polícia... Duas semanas depois, Aguiyi-Ironsi “foi raptado e assassinado”.
Depois de libertado. O profeta anunciou que nova tragédia política ocorreria no país... Novamente preso, Glover Ola Olorum Ogung-Bamila Pedro Ilaie declarou à imprensa que sendo profeta que falava em nome de Deus jamais se calaria, pois se sentia na obrigação de alertar a nação sempre que tivesse alguma revelação sobre novas desgraças.
(...)
Manifestações de profetas a respeito de intempéries na política nacional não eram incomuns... É bem verdade que as situações de crise não eram incomuns... Havia os que davam muito crédito; havia os que viam os guias espirituais com muita desconfiança.
Pelo visto, o “West African Pilot” era dos que tinham os profetas em elevada consideração... A prisão de Pedro Ilaie não foi considerada prudente pelo jornal, que destacou que o golpe de 15 de janeiro (o primeiro na Nigéria) havia sido previsto pelo profeta Oba Salamu Aminu J. T. Durojaiye (Ibadan).
A respeito dessa “profecia”, Kapuscinski destaca que ela foi publicada na véspera do golpe pelo “Nigerian Tribune”... Reproduções fotográficas do primeiro-ministro Balewa e do presidente Akintola foram estampadas na edição juntamente com a fotografia de Durojaiye e o texto alusivo à profecia... Vinte e quatro horas após a “publicação histórica”, Balewa e Akintola foram assassinados pelos golpistas.
(...)
A publicação da profecia de Durojaiye (e das imagens dos líderes políticos que caíram em 15 de janeiro) é reconhecida como “uma das maiores curiosidades jornalísticas” da Nigéria...
No texto que saiu no “Nigerian Tribune” (e que foi reproduzido pelo “West African Pilot” no verão de 1966), o profeta explica que havia visto “um enorme rebanho caindo do céu sobre a Nigéria”... Por causa disso, o povo fugia para a selva e subia nas árvores... O esforço era extenuante e, por causa dele, todos suavam copiosamente... Um “grito retumbante” anunciava “Guerra! Guerra!”.
Durojaiye esclarece que perguntou a Deus o que aquela visão significava... O próprio Deus respondera que em breve a Nigéria estaria em guerra...
Depois Durojaiye quis saber o que devia fazer... E Deus o teria aconselhado a avisar ao Conselho de Ministros a respeito da visão... O povo devia orar pedindo a Deus para que Ele mesmo assumisse a defesa do país.
Por fim, Durojaiye deixa claro que em 1962, na companhia do rei Oba Akinyele, distribuiu folhetos com suas previsões, mas o governo não lhe deu atenção.
Leia: A Guerra do Futebol. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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