quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Contribuição para um entendimento da realidade sul-africana anterior aos anos 1960 – introdução aos recortes temáticos sobre o apartheid listados em “A Guerra do Futebol”

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/12/a-guerra-do-futebol-de-ryszard_64.html antes de ler esta postagem:

Os fragmentos escritos em 1965, e selecionados por Kapuscinski em A Guerra do Futebol, explicam que o apartheid era uma doutrina política e social que se pretendia “Antropológica”... A partir de sua fundamentação, o “ódio racial” passou a ser legitimado por lei... E isso garantia o controle e a dominação branca... Em africâner, “apartheid significa segregação”.
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Para as próximas postagens reservamos considerações a respeito dos textos de Kapuscinski.
Na sequência segue breve síntese à guisa de “contribuição para um entendimento da realidade sul-africana anterior aos anos 1960”.
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Em 1652, holandeses que serviam à Companhia das índias Orientais começaram a aportar no sul do continente africano. Muitos deles se estabeleceram em amplas terras... Isso foi o início da “Colônia Holandesa do Cabo”...
Os colonos tomaram posse e se tornaram fazendeiros (“boeren” em holandês). Suas famílias se organizavam em comunidades patriarcais nos territórios mais a leste.
Sua sociedade primava por rigoroso “novo Calvinismo”, base de sua “Igreja Reformada Holandesa”, que legitimava o caráter sagrado de sua missão colonizadora... Assim, dedicaram-se a escravizar e a expulsar nativos para se tornarem os donos definitivos das terras que invadiam. Isolados, desenvolveram uma língua específica, o africâner, que mescla o holandês e outras línguas europeias (principalmente o alemão) que participaram do processo de ocupação branca na região...
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No final do século XVIII (1795), como consequência das guerras napoleônicas, tropas inglesas invadiram a Colônia Holandesa do Cabo”...
Essa intromissão teve prosseguimento no começo do século XIX, marcado pela pretensão britânica de estabelecer domínio imperial também naquela parte do continente... Os “boeren” não aceitaram a legislação, taxações e a submissão imposta pelos britânicos... É por isso que começaram a se transferir (a partir de 1835) mais para o norte, onde organizaram a República do Transvaal (onde em 1858 estabeleceu-se uma Constituição que previa a “separação das raças”) e o Estado Livre de Orange (Vaal e Orange são rios locais, sendo o primeiro afluente do segundo).
Em 1899 os ingleses voltaram a incomodar os “boeren”... A notícia da descoberta de ouro em terras do Transvaal espalhou-se rapidamente e aguçou a cobiça do império britânico... Essa guerra foi marcada pela superioridade numérica dos ingleses, que contaram com cerca de dez mil africanos em suas tropas que somavam quinhentos mil soldados...
A vitória foi esmagadora e os campos de prisioneiros (que muitos comparam aos de concentração dos nazistas) erguidos pelos britânicos impediu que as tropas africânderes recebessem reforços ou qualquer assistência dos compatriotas... As condições desses campos de prisioneiros eram tão degradantes que cerca de vinte e cinco mil pessoas morreram das mais horrendas formas.
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Após a derrota africânder no início do século XX (1902), os britânicos organizaram a União da África do Sul (1910)... O africânder Louis Botha tornou-se primeiro-ministro e, com ele no poder, os racistas continuaram a exercer domínio sobre ricos territórios minerais e impuseram textos discriminatórios à legislação do novo país...
A criação do Partido Nacional Africânder (1938) coincidiu com a ascensão do totalitarismo na Europa... Conforme o tempo passou, o segregacionismo se fortaleceu ainda mais na África do Sul...
A “segregação institucionalizada” já era uma realidade, mas podemos dizer que a doutrina do apartheid foi formalizada pela plataforma política desse partido africânder durante as eleições de 1948, nas quais saiu-se vencedor...
Leia: A Guerra do Futebol. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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