sábado, 5 de dezembro de 2015

“A Guerra do Futebol”, de Ryszard Kapuscinski – um pouco sobre Gizenga e seu governo de resistência em Stanleyville; precariedade das tropas; um pouco sobre Lundula; esperava-se que os três jornalistas intermediassem o recebimento de ajuda dos países do leste europeu; Kapuscinski, Jarda e Duszan seriam “atirados aos leões”?

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/12/a-guerra-do-futebol-de-ryszard_4.html antes de ler esta postagem:

Os aliados de Lumumba se reuniram em torno de Gizenga*...

                                                           * Antoine Gizenga havia sido vice primeiro–ministro de Lumumba. Ele próprio liderou um pequeno grupo que conseguiu se transferir de Leopoldville para Stanleyville, onde tentava reorganizar o governo e combater Mobutu e seus rebeldes.
Os países socialistas do leste europeu, a União Soviética e muitos países africanos haviam reconhecido Gizenga e sua equipe como “governo legítimo” do Congo... Por outro lado, a Bélgica e as potências capitalistas vinham apoiando os movimentos separatistas (Katanga e Kasai) e o golpe militar capitaneado por oficiais em Leopoldville...

Kapuscinski, Jarda e Duszan passaram a contar com a consideração desse governo alquebrado, principalmente porque ao que tudo indicava eram os únicos europeus naquele palco conflituoso. Mais do que jornalistas, passaram a ser tratados como “embaixadores” ou “ministros de Estado”...
Mas então, o que dizer dos momentos de alta periculosidade enfrentados pelos rapazes?
A verdade é que a equipe de Gizenga não tinha condições de controlar a fúria de soldados e do povo em geral... Mesmo os seus ministros nomeados sofriam ataques e agressões físicas nas ruas...
O governo instalado em Stanleyville precisava de ajuda urgentemente... Os três jornalistas eram vistos como intermediários que podiam convencer os países socialistas a enviarem socorro...
(...)
Não era por acaso que nos dias em que aparentemente não ocorreriam violências extremadas, os rapazes seguissem para o aeroporto, onde ficavam a observar se algum avião procedente da Tchecoslováquia ou Polônia aterrissaria...
Havia muitas casas abandonadas por europeus... Eles escolheram uma que garantia excelente visão da pista de pouso e decolagens... É bem verdade que Kapuscinski não acreditava em qualquer possibilidade de ajuda externa, mas Jarda e Duszan permaneciam firmes em sua convicção de que de uma hora para outra a “aeronave redentora” surgiria no horizonte.
Será que Jarda tinha informações privilegiadas e por isso insistia que a ajuda externa ainda chegaria?
Porém a situação piorava a cada dia...
(...)
Certa ocasião um grupamento militar apareceu no hotel para levar os rapazes até o acampamento militar... Kapuscinski compara o local a um aglomerado cigano... As mulheres e filhos dos soldados perambulavam pelo quartel, onde cozinhavam, lavavam roupas, se alimentavam, dormiam...
O major Sabo conversou com os jornalistas... Quis saber quando a ajuda chegaria... De fato, foi Jarda quem tomou a frente para responder que os aviões estavam no Cairo... Emendou que o general Abboud, ditador do Sudão, não permitiria que eles atravessassem o seu espaço aéreo... A dificuldade estava também no fato de não haver outra rota possível...
O major Sabo sentenciou que a crise estava grave demais... Tudo o que podiam ver ali era resultado da precariedade e falta de auxílio externo... Faltava alimento e também munições... Se não fosse a generosidade do general Lundula*, dificilmente teriam como abastecer os veículos.

                                                           * Victor Lundula era parente de Lumumba... Logo que começou a crise, Lundula se destacou na defesa de europeus que sofriam ultrajes... Depois que Lumumba foi destituído, Lundula permaneceu em cárcere por dois meses... Após sua libertação, ingressou na equipe de Gizenga em Stanleyville, tornando-se chefe militar.

A situação era clara... Se as tropas fiéis a Gizenga não recebessem auxílio, seriam capturadas pelos mercenários de Mobutu... Até os mais ingênuos percebiam a gravidade... Não havia sequer o básico para alimentar os soldados... Eles começavam a se rebelar, pois tinham famílias para sustentar... Famintos, e insatisfeitos com os rumos do movimento, se tornavam rebeldes ao comando... Viviam querendo saber por que a ajuda externa nunca chegava...
O major deixou claro que talvez tivesse de comunicar aos seus homens que a culpa era dos três jornalistas...
Isso não resolveria o principal problema, mas, entregando-os aos soldados, provavelmente o comando estabeleceria alguma disciplina.
Leia: A Guerra do Futebol. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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