segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

“A Guerra do Futebol”, de Ryszard Kapuscinski – um pouco sobre a Tanganica e a formação da Tanzânia; retratos do subdesenvolvimento; Lucy Lamek e as justificativas para a proposta da Lei de Perfilhação

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/12/a-guerra-do-futebol-de-ryszard_12.html antes de ler esta postagem:

A respeito de Tanganica pode-se dizer que:
Seu passado foi marcado por colonização alemã (os colonizadores a chamavam de “África Oriental Alemã”, que atingia também o Burundi e Ruanda). Durante a Primeira Guerra Mundial, tropas britânicas atuaram na região e obtiveram algumas conquistas. Após os conflitos, a Liga das Nações aprovou a transferência da administração de grande parte dos territórios para a Inglaterra.
Os ingleses já possuíam o protetorado de Zanzibar, um sultanato que era obrigado a governar de acordo com as determinações dos administradores britânicos...
No final de 1961 a Tanganica obteve sua independência, e aos poucos constituiu uma Câmara Legislativa Independente.
Dois anos depois, O Zanzibar também obteve sua emancipação junto à Inglaterra. Poucas semanas depois, uma revolução pôs fim à Monarquia Constitucional que havia sido instalada... No início de 1964, os republicanos locais (que eram afinados com o bloco socialista) acertaram sua anexação à Tanganica... Dessa união surgiu a atual Tanzânia.


(...)

Estamos neste ponto em que Kapuscinski havia retornado à África no começo de 1962...
Ele se instalou em Dar es Salaam, onde tinha a missão de abrir o escritório da PAP. Graças a isso, acompanhou os primeiros passos da nação emancipada em sua difícil transição para uma democracia pautada no Socialismo e na busca da superação de sua realidade marcada pelo subdesenvolvimento.
O autor cita uma matéria do jornal Tanganyika Standard do dia 21 de dezembro de 1963 destacando a discussão do Parlamento em torno do projeto de “perfilhação”... O texto é interessante porque evidencia um pouco do que foi sintetizado no parágrafo anterior... Deixa claro que havia muitos problemas sociais a serem enfrentados, entre eles o da prostituição e o de crianças sem famílias estruturadas...
Situações como essas não fugiam da percepção dos que governavam... Todavia nota-se que, por vários motivos, entre os parlamentares havia muita desconfiança em relação às iniciativas pretensamente modernizantes e de caráter compensatório...
(...)
Kapuscinski esclarece que, para o citado jornal, o debate que se processou foi “o mais tempestuoso” assistido pala Câmara Legislativa...
A vice-ministra de Cooperativismo e deputada Lucy Lamek* era conhecida por defender uma maior emancipação das mulheres africanas, e não escondia que apreciava uma educação feminina “à moda europeia”...

                                                           * Sabe-se que ela prosseguiu em sua militância feminista por muitos anos, tendo lutado inclusive contra a poligamia masculina.

Lamek apresentou o projeto Affiliation Ordinance Amendment Bill destacando que a Tanganica, que estava se encaminhando para a modernidade, teria de enfrentar “cada vez mais novos problemas”... Ela salientou que era necessário criar e aprovar leis que protegessem as crianças que nasciam “fora do matrimônio”... Principalmente aquelas que viviam nos vilarejos... Essa proteção dizia respeito às necessidades de amparo, educação e garantias de um destino mais digno... A deputada deixou claro que antes da emancipação tais “princípios morais” não estavam no foco das “forças externas”.
Uma pesquisa a respeito da situação das mulheres das cidades africanas revelara que em Dar es Salaam, de cada 340 trabalhadoras, 150 tinham “entre um e seis filhos ilegítimos”... O rendimento dessas mães girava em torno de “cento e sessenta e oito xelins” (mais ou menos 600 reais – em 2008). Dentre elas, apenas oito recebiam ajuda dos pais das crianças...
A situação era das mais graves entre as adolescentes... Lamek disse que havia escolas em que, a cada mês, cerca de quatro meninas entre 11 e 15 anos abandonavam os estudos por causa da gravidez... Nem mesmo o diretor da instituição ginasial que lhe passara essas informações podia saber do paradeiro das garotas.
Depois dessas declarações iniciais, a deputada sentenciou que se tornara indispensável ao parlamento aprovar a lei que obrigaria os pais das crianças a pagarem pensão às mulheres.
Leia: A Guerra do Futebol. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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