A respeito de Tanganica pode-se dizer que:
Seu passado foi marcado por colonização alemã (os colonizadores a chamavam de “África Oriental Alemã”, que atingia também o Burundi e Ruanda). Durante a Primeira Guerra Mundial, tropas britânicas atuaram na região e obtiveram algumas conquistas. Após os conflitos, a Liga das Nações aprovou a transferência da administração de grande parte dos territórios para a Inglaterra.
Os ingleses já possuíam o protetorado de Zanzibar, um sultanato que era obrigado a governar de acordo com as determinações dos administradores britânicos...
No final de 1961 a Tanganica obteve sua independência, e aos poucos constituiu uma Câmara Legislativa Independente.
Dois anos depois, O Zanzibar também obteve sua emancipação junto à Inglaterra. Poucas semanas depois, uma revolução pôs fim à Monarquia Constitucional que havia sido instalada... No início de 1964, os republicanos locais (que eram afinados com o bloco socialista) acertaram sua anexação à Tanganica... Dessa união surgiu a atual Tanzânia.
(...)
Estamos neste ponto em que Kapuscinski havia retornado
à África no começo de 1962...
Ele se instalou em Dar es Salaam, onde tinha a missão de abrir o
escritório da PAP. Graças a isso, acompanhou os primeiros passos da nação
emancipada em sua difícil transição para uma democracia pautada no Socialismo e
na busca da superação de sua realidade marcada pelo subdesenvolvimento.
O autor cita uma matéria do jornal Tanganyika
Standard do dia 21 de dezembro de 1963 destacando a discussão do Parlamento
em torno do projeto de “perfilhação”... O texto é interessante porque evidencia
um pouco do que foi sintetizado no parágrafo anterior... Deixa claro que havia
muitos problemas sociais a serem enfrentados, entre eles o da prostituição e o
de crianças sem famílias estruturadas...
Situações como essas não fugiam da percepção dos que governavam... Todavia
nota-se que, por vários motivos, entre os parlamentares havia muita
desconfiança em relação às iniciativas pretensamente modernizantes e de caráter
compensatório...
(...)
Kapuscinski esclarece que, para o citado jornal, o debate que se
processou foi “o mais tempestuoso” assistido pala Câmara Legislativa...
A vice-ministra de
Cooperativismo e deputada Lucy Lamek* era conhecida por defender uma maior
emancipação das mulheres africanas, e não escondia que apreciava uma educação
feminina “à moda europeia”...
* Sabe-se que ela prosseguiu em sua militância feminista por muitos anos,
tendo lutado inclusive contra a poligamia masculina.
Lamek apresentou o projeto
Affiliation Ordinance Amendment Bill destacando que a Tanganica, que estava se
encaminhando para a modernidade, teria de enfrentar “cada vez mais novos
problemas”... Ela salientou que era necessário criar e aprovar leis que
protegessem as crianças que nasciam “fora do matrimônio”... Principalmente
aquelas que viviam nos vilarejos... Essa proteção dizia respeito às
necessidades de amparo, educação e garantias de um destino mais digno... A
deputada deixou claro que antes da emancipação tais “princípios morais” não estavam
no foco das “forças externas”.
Uma pesquisa a
respeito da situação das mulheres das cidades africanas revelara que em Dar es
Salaam, de cada 340 trabalhadoras, 150 tinham “entre um e seis filhos ilegítimos”...
O rendimento dessas mães girava em torno de “cento e sessenta e oito xelins”
(mais ou menos 600 reais – em 2008). Dentre elas, apenas oito recebiam ajuda
dos pais das crianças...
A situação era das mais graves entre as adolescentes... Lamek disse que havia
escolas em que, a cada mês, cerca de quatro meninas entre 11 e 15 anos abandonavam
os estudos por causa da gravidez... Nem mesmo o diretor da instituição ginasial
que lhe passara essas informações podia saber do paradeiro das garotas.
Depois dessas declarações iniciais, a deputada
sentenciou que se tornara indispensável ao parlamento aprovar a lei que
obrigaria os pais das crianças a pagarem pensão às mulheres.
Leia: A
Guerra do Futebol. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto