quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

“A Guerra do Futebol”, de Ryszard Kapuscinski – a atuação dos esquadrões de extermínio; o governo não tem controle sobre os militares e solicita que os brancos deixem o Congo; invasão ao “Residence Equateur”; depois de escaparem por um triz, Kapuscinski e os tchecos caem nas mãos de matadores

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/12/a-guerra-do-futebol-de-ryszard.html antes de ler esta postagem:

Os três jornalistas hospedados no “Residence Equateur”, hotel em Stanleyville, foram despertados no início da manhã... Gritos pavorosos vindos da rua soaram como assombrações de pesadelo do qual queremos nos libertar a qualquer custo.
(...)
No dia anterior souberam do brutal assassinato de Patrice Lumumba... A noite havia sido muito agitada e as ruas se tornaram palco de violências.
De sua janela, Kapuscinski observou que um grupo de vários gendarmes linchava um tipo branco... Totalmente dominado, de joelhos dobrados, ele era agredido com chutes na cabeça e nas costelas.
Também o “Equateur” foi invadido... Os tiras arrombaram as portas dos quartos e começaram a arrancar europeus de seus interiores... Os brancos sofriam espancamentos e eram conduzidos para um caminhão estacionado ali perto.
Estava claro que os gendarmes tinham resolvido fazer justiça com as próprias mãos perseguindo opositores políticos e brancos... Para eles, aquela “raça” era culpada pela morte de Lumumba.
Kapuscinski e os amigos jornalistas tchecos trataram de se vestir... Ao menos não seriam capturados de pijama... Todavia estavam apavorados, pois pressentiam que o pior estava para acontecer...
O polonês achou espantoso notar a grande quantidade de pessoas que eram retiradas do hotel marcado por rara movimentação... Apurou os ouvidos e assim teve noção dos passos de botas militares percorrendo o corredor... Portas se abriam... Ouviam-se gritos, pancadaria e corpos sendo arrastados.
(...)
Mas aconteceu que os soldados não chegaram ao quarto onde Kapuscinski e Duszan estavam... É que a porta do cômodo não dava para o corredor, mas para um terraço no fundo da construção...
Aos poucos o silêncio voltou a reinar no “Equateur”... Jarda, que utilizava outro quarto, chegou com um rádio sintonizando a emissora local.
Os três ouviram que o governo insistia para que os brancos deixassem a cidade imediatamente... Informaram que a frágil administração não tinha como controlar “certos grupos militares”.
(...)
Kapuscinski e os companheiros seguiram para o hall na esperança de obterem informações sobre a situação... Não cogitavam deixar o país, pois não eram meros turistas... Faziam questão de exercer o seu ofício.
Mas aconteceu que não encontraram ninguém na recepção, gerência ou nas áreas comuns aos hóspedes...
Não havia o que fazer...
Nem mesmo podiam matar a sede...
Sentaram-se bem em frente à porta de entrada, junto a umas mesinhas... Estavam em péssimas condições também porque já fazia muito tempo que vinham se alimentando mal... Diariamente dividiam cinco salsichas holandesas, e a isso se resumia sua refeição... O estoque de latas estava no fim...
Enfraquecidos, desesperançados, assustados e esfomeados, só podiam esperar...
(...)
Um veículo militar estacionou em frente ao hotel... Jovens tipos fardados desceram armados com metralhadoras e seguiram para o hall.
Kapuscinski não teve dúvida de que aqueles tipos formavam um “esquadrão de extermínio”... Eles se aproximaram encostando os canos das armas em suas cabeças.
Na sequência, o militar que parecia chefiar o grupo se aproximou apressadamente... O polonês confessa que naquele momento nada esperava além de seu trágico fim... Não conseguia mensurar o peso de seu corpo, que parecia enrijecido e contar uma tonelada.
Leia: A Guerra do Futebol. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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