Fragmentos de documentos selecionados por Kapuscinski para o seu A Guerra do Futebol no capítulo em que trata da África do Sul e seu regime de segregação racial (1965).
Os africânderes fundamentavam-se em sua religião.
A Igreja africânder ensinava que a segregação tinha explicação bíblica. Dessa
forma, na luta do Bem contra o Mal, os brancos tinham a missão de concretizar
as “promessas de Deus”, os negros deviam ser submetidos e estariam fadados ao extermínio
divino.
Também graças a isso, os
africânderes impuseram-se politicamente e nutriram-se de determinação para
resistir até o fim (contra todos) em sua “cruzada”. Pois eram convictos de sua “predestinação”.
Fragmentos de G.D. Scholtz – historiador africânder:
A religião
tornou possível a sobrevivência africânder entre os negros, já que lhes
permitiu comparar o seu papel com o representado pelo povo bíblico de Israel –
assim como era proibido a um israelense misturar-se com os pagãos, os
africânderes consideram uma proibição divina misturar-se com aqueles que não
têm pele branca.
Fragmentos extraídos de The History of apartheid, de L. E. Neame
(1962):
Ameaças e advertências não surtem efeitos sobre os africânderes. Um
observador de fora não tem condições de imaginar com que força interior os
africânderes tratam das questões de raça e do futuro de sua nação. Nesse campo,
não há para ele nenhuma possibilidade de compromisso. Trata-se de calvinistas
que acreditam fanaticamente que Deus os encaminhou para a África do Sul, que os
conduziu por inúmeros perigos, e eles se mostram prontos a morrer em defesa de
seu destino. Acreditam que, ao colocá-los na África do Sul, o Onipotente
confiou-lhes uma missão divina e que é sua obrigação defender o país para seus
filhos e netos. Eles se trancam em sua fortaleza, dispostos a enfrentar uma
nova guerra contra hordas de bárbaros e, caso a Providência abra um túmulo
diante deles, entrarão nesse túmulo – lutando.
Fragmentos de A. B. Dupresh – um teólogo africânder muito influente no
governo:
Se tivermos que desaparecer do sul da África
e o nosso destino for morrer como Nação Branca, anunciamos ao mundo todo, em sã
consciência e em nome da nação dos africânderes, que preferiremos desaparecer,
como deseja Deus, que dirige o nosso destino, a cometer o suicídio que seria
assumir o caminho da integração e da assimilação com os negros, Se os
não-brancos nos massacrarem será um novo triunfo da barbárie, que Deus tão
milagrosamente evitou às margens do Rio de Sangue (batalha contra os zulus,
vencida em 1882 pelos africânderes). Apesar disso, acreditamos piamente que
Deus, na Sua grandeza, continua a zelar pelo destino de nossa nação. Preferimos
morrer confiantes na predestinação a nos ligar aos negros, perdendo assim nossa
singularidade e traindo a missão que Ele nos confiou.
(ver também http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/12/a-guerra-do-futebol-de-ryszard_29.html).
A imagem selecionada para ilustrar a postagem
foi extraída de http://www.abcdesign.com.br/especial/design-subversivo/.
Um abraço,
Prof.Gilberto