sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

“A Guerra do Futebol”, de Ryszard Kapuscinski – escapando da morte; espetacular expedição ao prédio dos correios, envio de textos aos periódicos; o “esquadrão da morte” prossegue atuando

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/12/a-guerra-do-futebol-de-ryszard_3.html antes de ler esta postagem:

Vimos que depois do assassinato de Lumumba, o fragilizado governo não conseguia deter as ações de grupos armados que estavam “fazendo justiça com as próprias mãos”... Esses tipos visavam inimigos políticos e europeus.
A situação dos jornalistas era das piores... Além de perseguidos, passavam fome e não tinham a quem recorrer... Apesar disso, não pretendiam deixar o Congo.
(...)
Estamos no ponto em que Kapuscinski e os companheiros Jarda e Duszan permaneceram no Residence Equateur logo após varredura feita por um esquadrão de extermínio...
Milagrosamente escaparam de linchamentos e de captura...
Estavam no hall do hotel quando jovens fardados e fortemente armados chegaram...
Tudo indicava que dessa vez não se safariam... Até porque o tipo que parecia chefiar os moços se apressou para se colocar diante dos três rendidos...
Porém aconteceu que, em obediência a um gesto de comando, as armas foram recolhidas.
Kapuscinski percebeu que chefe do grupo havia reconhecido Jarda... É por isso que mais uma vez se salvaram...
Perguntado a respeito, Jarda explicou que aquele era certo Bernard Salmon, entrevistado por ele no Cairo, onde o tipo estivera como “emissário de Lumumba”...
Não trocaram nenhuma palavra dessa vez, mas era certo que o militar poupara a vida dos três ao reconhecê-lo.
(...)
Passado mais esse sufoco, Kapuscinski, Jarda e Duszan redigiram telegramas contendo matérias jornalísticas acerca da morte de Lumumba e sobre o estado de coisas em Stanleyville... Os textos que emitiriam aos seus periódicos careciam de maiores informações e, também por isso, eram sucintos... Nenhuma linha sobre seus dramas particulares foi escrita.
O problema seguinte passou a ser o da ida até o correio... Teriam de atravessar a cidade! É claro que atrairiam a atenção de outros bandos armados!
(...)
O trio havia comprado um velho carro logo que chegaram à cidade... O modelo Taunus pertencera a um hindu que não se importou de abrir mão do desgastado veículo... Jarda costumava dirigi-lo e propôs saírem no meio da tarde quente e abafada.
Apesar dos temores que nutriam, já que podiam ser identificados facilmente, conseguiram atravessar os quarteirões com tranquilidade... As ruas estavam tão desertas que parecia que circulavam por uma gigantesca maquete... Encontraram o prédio dos correios isolado.
(...)
Uma pequena porta de metal deu passagem para o porão. Os jornalistas percorreram um corredor malcheiroso e depois subiram uma escada que dava para um grande salão abarrotado de lixo... Passaram por outra porta e atingiram nova escadaria que conduzia ao segundo andar.
O prédio parecia abandonado!
Ao menos não haviam topado com soldados hostis... Mas ainda não sabiam como poderiam enviar os textos aos seus jornais...
Subiram para o terceiro andar sabendo que se fossem capturados por gendarmes teriam sérias complicações...
Como seriam tratados? Provavelmente teriam execução sumária, já que prédios de correios sempre foram estratégicos para as nações agitadas por movimentos sociais... Caso houvesse alguma repercussão internacional, provavelmente argumentariam que “os três estrangeiros eram sabotadores”.
Percorreram várias salas até que encontraram aparelhos de telex e transmissores... No mesmo momento apareceu um tipo “curvado e ressecado”, o único funcionário presente... Kapuscinski o chamou de “irmão” e explicou que deviam conseguir conexões com a Europa, pois tinham telegramas urgentes para enviar...
Enquanto o rapaz trabalhava com os textos, os três seguiram para o Taunus com a intenção de retornar ao hotel.
(...)
As ruas permaneciam desertas...
De repente um veículo lotado de gendarmes apareceu e freou bem em frente ao Taunus...
Jarda manobrou com perícia e escapou...
Mais uma vez os três conseguiram se safar...
Brincando, Kapuscinski tenta explicar o episódio afirmando que os gendarmes só podiam ter pensado que ficaram diante de uma miragem... Assim puderam retornar ao hotel.
Leia: A Guerra do Futebol. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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