domingo, 6 de dezembro de 2015

“A Guerra do Futebol”, de Ryszard Kapuscinski – a necessidade de fuga levou Kapuscinski a pedir socorro a um comissário da ONU; sobre as condições de trabalho mais razoáveis do pessoal das Nações Unidas; Stanleyville, seus conflitos e incertezas ficarão para trás

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/12/a-guerra-do-futebol-de-ryszard_5.html antes de ler esta postagem:

Ninguém discorda que Kapuscinski, Jarda e Duszan eram mesmo destemidos jornalistas...
Mas acontece que a situação em Stanleyville estava das mais complicadas... Vimos que o governo Gizenga enfrentava muita dificuldade... A falta de recursos desmotivava as tropas...
Também podemos concluir que os inimigos, sobretudo as tropas de Mobutu, recebiam mercenários, assistência e vários outros incentivos de países imperialistas.
A conversa que os três tiveram com o major Sabo no acampamento militar gerou muito desconforto... Eles não tinham como fornecer a ajuda que esperavam dos países do bloco socialista... Não tinham como viabilizá-la...
Sem dúvida, o pior foi saber que estavam se tornando os bodes expiatórios da situação, pois seriam denunciados às tropas como culpados pela penúria que enfrentavam...
(...)
Ao retornarem ao hotel começaram a pensar sobre o que poderiam fazer... Não teriam como enfrentar a fúria dos soldados armados que já não obedeciam a nenhum comando.
Para salvar as próprias peles teriam de fugir... Mas isso era praticamente impossível... Também poderiam se instalar em uma das casas abandonadas pelos belgas... Todavia isso se revelava inviável, pois fatalmente seriam descobertos e denunciados. Além disso, a fome, que era problema para todos em Stanleyville, os levaria à morte.
(...)
Kapuscinski tinha um conhecido na sede das Nações Unidas... Ele sabia que aquele pessoal constituía uma equipe bem fechada, que sempre tratavam das questões a partir de seu “caráter global” sem se ater aos casos “mais simples” ou particulares.
Os três desesperados jornalistas decidiram que Kapuscinski devia procurar o comissário (que é citado no livro apenas como H.B.).
H.B. marcou um encontro com o polonês... Jantariam juntos e assim poderiam conversar...
(...)
Kapuscinski não deixa de salientar que para o pessoal da ONU não faltavam alimentos... Além disso, nunca se sentiu tão seguro em território congolês quando pôde sentar-se à mesa por duas horas com o contato...
Após o jantar, o polonês fez o seu pedido... Explicou que ele e os amigos tchecos precisavam sair do Congo o mais rápido possível... Deixou claro que não tinha a quem recorrer e que ficaria muito agradecido se os ajudasse...
O tipo explicou que a ONU estava ali apenas para observar e que não podia “tomar partido”...
Kapuscinski sabia que não podia entrar em detalhes aprofundados sobre a delicada questão com o pessoal de Lumumba... Certamente a repercussão política no resto do mundo seria das mais complicadas... Sem entender o processo que ocorria localmente, as pessoas confundiriam tudo.
Mas a ajuda era necessária... Então o polonês disse qualquer coisa sobre “construir uma ponte” que naquele momento serviria para socorrer a ele e os amigos... No futuro eles poderiam (quem sabe) intervir em favor do comissário.
(...)
H.B. resolveu ajudá-los...
Dois dias depois do encontro, os três jornalistas foram conduzidos por um automóvel com bandeirolas da ONU até o aeroporto...
O Taunus ficou para trás com a chave no contato e tudo...
Eles nem sabiam para onde seriam levados...
Diziam que para o nordeste, com destino a Juba.
Leia: A Guerra do Futebol. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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