Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/06/o-guarani-de-jose-de-alencar-alvaro.html
antes de ler esta postagem:
Enquanto a noite se
encerrava no casarão de d. Antônio, na instalação dos aventureiros ainda podiam
ser ouvidas as vozes que tratavam da expedição... Trinta e seis estavam ao
redor de uma grande mesa que não podia ser comparada à dos Mariz, porém há que se
destacar que ali também havia fartura... Enquanto se refestelavam com carnes de
caça, bebiam vinho de caju e de ananás... A embriaguez os animava, mas Loredano
se destacava pelo silêncio...
E tanto chamou a atenção que os demais passaram a falar sobre ele em tom
de chacota... O primeiro a provocá-lo foi Bento Simões. Na sequência foi Martim
Vaz, que disse que aquela mudez só podia significar que o outro tinha algo a manifestar.
Rui Soeiro disse que aquele comportamento só podia ser devido a alguma moça com
a qual Loredano havia se encantado em São Sebastião (a cidade do Rio de
Janeiro)... Vasco Afonso se intrometeu e deu a sua opinião sem concordar que
Loredano fosse tipo que se amuasse por causa de moças as quais nenhum deles tinha
acesso... Falavam sobre essas coisas enquanto o italiano se mantinha a pensar
em silêncio. Como passaram a falar, rir e aplaudir as piadinhas que faziam
sobre o seu olhar perdido, fizeram algazarra. E isso atraiu o escudeiro Aires
Gomes, que chegou chamando-lhes a atenção e ordenando que dois dos aventureiros
assumissem seus postos de sentinelas.
Foi Martim Vaz quem notou
que o escudeiro estava mais sério que o de costume... Gomes explicou que era
obediente às ordens, e todos entenderam que era d. Antônio quem recomendava mais
atenção na guarda do lugar... Bento Simões brincou, dizendo que estava farto de
ter de atirar apenas em pacas e porcos-do-mato. Vasco Afonso quis saber, então,
qual era a ação que os esperava... O outro respondeu que os índios
proporcionariam aquela “folia”.
Este assunto despertou Loredano, que quis saber se Martim Vaz pensava
que aquilo poderia ocorrer de fato. Este não deu resposta, mas brincou com o
fato de a conversa a respeito de tiros e mortes ter despertado aquele que até
então estivera amuado... A seriedade de Aires Gomes fez com que os tipos fossem
se retirando cada um para o seu canto... Loredano fez um sinal a Rui Soeiro e a
Bento Simões, e os três seguiram para o meio do terreiro... Ali, em meio à
escuridão, o italiano disse-lhes apenas uma palavra: “amanhã”! Evidentemente os
outros dois entenderam a mensagem, já que o deixaram no mesmo instante e
seguiram seus rumos.
Depois disso, Loredano dirigiu-se à beira do precipício. Dali podia
observar o quarto de Cecília... A moça tinha acabado de falar com Álvaro e,
como sabemos, estivera ali pensando em Peri e na possibilidade de o amigo ter
morrido, mas isso durou um breve tempo, pois o avistou em seu retorno à
cabana...
Sabemos que Peri chegava depois de dois dias de
ausência... Devemos saber também o quanto ele se dedicava aos caprichos de sua
senhora. Ele também sentia muita falta dela, e o seu desejo naquele momento era
o de vê-la o quanto antes... Sem que ela soubesse, lá estava o índio saltando
de um galho a outro... E foi com extrema agilidade que ele posicionou-se numa
folhagem de árvore, tornando-se camuflado por ela... Dali ele conseguiu
contemplar a doce Cecília a examinar as encomendas que haviam chegado do Rio de
Janeiro... Peri notou a felicidade de sua querida amiga... Entristecido pensou
que os agrados que podia proporcionar-lhe eram aqueles que a natureza
exuberante oferecia... Havia trazido a onça viva...
O pretendente Álvaro só tinha pensamento para a filha de d. Antônio e
não se conformava com o desprezo manifestado por ela. O moço tomou a decisão de
colocar a lembrança que trouxe para ela em uma bolsa de seda. E resolveu que
correria o risco de deixar o seu presente na janela de Cecília ainda naquela
noite.
Então, enquanto Cecília recolhia-se para o
descanso de seu sono, notamos esses três homens, cada um num ponto da mata, a
focarem a “janela frouxamente iluminada” e a pensar unicamente nela. Sem
dúvida, o intento de Álvaro era dos mais arriscados.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/07/o-guarani-de-jose-de-alencar-em-meio.html
Leia: O guarani. Editora Ática
Um abraço,
Prof.Gilberto