A nona narrativa coube a Elisa. Ela comentou a história contada por Laurinha... Concordou que muitas vezes as palavras têm maior poder de transformar as atitudes das pessoas do que as repreensões e sofrimentos que recaiam sobre elas... A moça disse que seria breve em sua novela e que todos notariam que o ensinamento da narrativa anterior seria mais uma vez destacado.
A novela de Elisa se situa no tempo em que Godofredo de Bulhões (primeira cruzada) liderou a conquista da Terra Santa... A ocasião mereceu muita atenção dos cristãos, e não poucos foram os que se decidiram por peregrinações aos locais sagrados. Entre os que se dispuseram à longa viagem, uma nobre dama da região da Gasconha animou-se pela visita ao Santo Sepulcro.
O retorno da nobre dama foi marcado por sua passagem pela ilha de Chipre... Ali, ela passou por situações muito delicadas devido a ofensas que sofreu de tipos violentos e de maus costumes... Não há referência direta à especificidade da ofensa, mas é certo que a delicada senhora indignou-se por não ter encontrado ninguém que intercedesse por ela... Nenhuma satisfação lhe foi dada.
Então a vítima dos abusos pensou que poderia recorrer ao rei de Chipre para tratar de sua situação, talvez conseguisse reparos aos danos sofridos e punições aos infratores... Elisa destacou que se tratava do primeiro monarca da ilha...
Aconteceu, porém, que a nobre dama foi aconselhada a desistir de seus intentos porque o rei tinha péssima fama, levava uma vida desregrada e não se importava com justiça ou bondade... A mulher foi desmotivada a buscar qualquer auxílio junto à autoridade porque, segundo se sabia, era possível que o rei achasse graça do episódio do qual foi vítima, e ele até podia terminar dando apoio aos infratores... O rei era do tipo que sentia prazer em aumentar a humilhação dos que sofriam agressões ou eram lesados... Nisso parecia estar o seu regozijo.
Apesar de todos os conselhos que recebeu para desistir de apresentar-se ao rei, a nobre mulher decidiu que não devia desistir... Pensou em um modo de ferir a estupidez do monarca.

A singela história de Elisa termina com final feliz... As palavras da nobre mulher despertaram o rei para uma realidade para a qual se comportava como cego... A partir daquele momento fez-se autoridade que perseguia e punia a todos os que atentassem contra a sua honra e dignidade... Também se tornou um soberano justo, que punia toda e qualquer ofensa e injúria a quem quer que estivesse em seus domínios. E deu início à mudança de postura “castigando a ofensa que se cometera contra aquela mulher, ofensa que foi terrivelmente vingada”.
Fim da nona novela.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/06/decamerao-de-giovanni-boccaccio-decima.html
Leia: Decamerão. Editora Abril.
Um abraço,
Prof.Gilberto