quarta-feira, 5 de junho de 2013

“Decamerão”, de Giovanni Boccaccio – Nona novela do primeiro dia – contada por Elisa – a história da nobre dama que decidiu visitar o Santo Sepulcro; sua indignação ao ser ultrajada em Chipre e não ser defendida por ninguém; o rei local e seu procedimento ético questionável; palavras como advertência

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/06/decamerao-de-giovanni-boccaccio-oitava.html antes de ler esta postagem:

A nona narrativa coube a Elisa. Ela comentou a história contada por Laurinha... Concordou que muitas vezes as palavras têm maior poder de transformar as atitudes das pessoas do que as repreensões e sofrimentos que recaiam sobre elas... A moça disse que seria breve em sua novela e que todos notariam que o ensinamento da narrativa anterior seria mais uma vez destacado.
A novela de Elisa se situa no tempo em que Godofredo de Bulhões (primeira cruzada) liderou a conquista da Terra Santa... A ocasião mereceu muita atenção dos cristãos, e não poucos foram os que se decidiram por peregrinações aos locais sagrados. Entre os que se dispuseram à longa viagem, uma nobre dama da região da Gasconha animou-se pela visita ao Santo Sepulcro.
O retorno da nobre dama foi marcado por sua passagem pela ilha de Chipre... Ali, ela passou por situações muito delicadas devido a ofensas que sofreu de tipos violentos e de maus costumes... Não há referência direta à especificidade da ofensa, mas é certo que a delicada senhora indignou-se por não ter encontrado ninguém que intercedesse por ela... Nenhuma satisfação lhe foi dada.
Então a vítima dos abusos pensou que poderia recorrer ao rei de Chipre para tratar de sua situação, talvez conseguisse reparos aos danos sofridos e punições aos infratores... Elisa destacou que se tratava do primeiro monarca da ilha...
Aconteceu, porém, que a nobre dama foi aconselhada a desistir de seus intentos porque o rei tinha péssima fama, levava uma vida desregrada e não se importava com justiça ou bondade... A mulher foi desmotivada a buscar qualquer auxílio junto à autoridade porque, segundo se sabia, era possível que o rei achasse graça do episódio do qual foi vítima, e ele até podia terminar dando apoio aos infratores... O rei era do tipo que sentia prazer em aumentar a humilhação dos que sofriam agressões ou eram lesados... Nisso parecia estar o seu regozijo.
Apesar de todos os conselhos que recebeu para desistir de apresentar-se ao rei, a nobre mulher decidiu que não devia desistir... Pensou em um modo de ferir a estupidez do monarca.
Assim, acabou conseguindo uma audiência com a autoridade máxima do lugar... Disse-lhe que sinceramente não esperava nenhuma providência de sua parte, de modo que demonstrava não se importar mais com o fato de as ofensas que havia recebido permanecerem sem reparação... Disse que estava ali para saber dele como é que conseguia suportar as ofensas que cometiam contra ele. Completou dizendo que, ao ouvi-lo, poderia suportar qualquer ofensa que ainda viesse a sofrer... Garantiu (mesmo) que, sabendo que ele era “tão bom suportador”, poderia obter dele as informações sobre as ofensas das quais ele próprio havia sido vítima. Dessa forma, também ela saberia suportar a futuras agressões e maledicências.
A singela história de Elisa termina com final feliz... As palavras da nobre mulher despertaram o rei para uma realidade para a qual se comportava como cego... A partir daquele momento fez-se autoridade que perseguia e punia a todos os que atentassem contra a sua honra e dignidade... Também se tornou um soberano justo, que punia toda e qualquer ofensa e injúria a quem quer que estivesse em seus domínios. E deu início à mudança de postura “castigando a ofensa que se cometera contra aquela mulher, ofensa que foi terrivelmente vingada”.
Fim da nona novela. 
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/06/decamerao-de-giovanni-boccaccio-decima.html
Leia: Decamerão. Editora Abril.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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