sábado, 1 de junho de 2013

“Decamerão”, de Giovanni Boccaccio – Oitava novela do primeiro dia – contada por Laurinha – a história do avarento Ermino dos Grimaldi; uma ética controversa; indignação da narradora em relação aos gentis-homens de seu tempo (em vez do bem proceder, corrupção dos costumes); a exemplar dignidade de Guilherme Borsiere e sua bem dada lição ao ”senhor avareza”

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/05/decamerao-de-giovanni-boccaccio-setima_19.html antes de ler esta postagem:

Filóstrato terminou a sua novela... Ao seu lado estava Laurinha, que elogiou o que ouviu do amigo e, principalmente, o procedimento adotado pelo Bergamino de sua novela... Um final feliz para um homem digno foi reservado e isso foi enaltecido pela moça.
Ela disse que sua narrativa teria desfecho semelhante... Iniciou falando que a história se passava em Gênova... O personagem central era certo Ermino dos Grimaldi (evidentemente a nota esclarece não haver nenhum personagem histórico com esse nome na tradicional família genovesa da qual descendem os príncipes de Mônaco)... Esse gentil-homem possuía tanto dinheiro e propriedades que por sua época não havia nenhum outro cidadão que pudesse ser reconhecido como mais rico que ele... Porém sua riqueza era menor que a avareza, mesquinhez e miserabilidade de seu caráter...
Ocorre que este Ermino tinha tanto apego às suas posses e dinheiro que não abria mão de minúscula parcela dele para prestar homenagem a quem quer que fosse... Seu controle e escrúpulos em relação aos gastos eram tais que se dizia que ele “apertava a bolsa” e não se importava (contrariando os costumes dos genoveses) em ser notado vestido de modo deselegante... Até mesmo os seus gastos com alimentação e a boa bebida eram econômicos.
A reputação de Ermino tornou-se desprezível... Ele deixou de ser associado ao clã “dos Grimaldi”, em vez disso, passaram a chamá-lo “senhor Ermino Avareza”... De sua parte, ele pouco se importava, pois levava em consideração apenas a multiplicação de seu dinheiro e posses...
Laurinha dispensou um bom tempo de sua narrativa ao bom exemplo do digno senhor Guilherme Borsiere (a nota esclarece que em O Inferno, de Dante, este nome é citado)... Ele chegou a Gênova na época em que Ermino vivia a se enriquecer a partir de sua controversa ética...
A moça aproveitou o trecho da novela que contava para comparar Guilherme de Borsiere aos gentis-homens daqueles tempos dramáticos que viviam... Quis mostrar que eles deveriam se comportar exemplarmente em dignidade, mas em tudo se revelavam péssimos, já que se envolviam em escândalos e nos mais diversos atos de corrupção... Bem o contrário era o Guilherme de sua história, homem de caráter, que merecia ser chamado de gentil-homem, um cortesão que se esmerava em promover as negociações de paz, evitando discórdias e conflitos armados entre outros nobres...
Laurinha não economizou as críticas aos “infiéis” e “indecentes” que envergonhavam os costumes de seu tempo e, voltando a se referir ao Guilherme de sua narrativa, disse que os discursos dele eram constituídos por belas frases que alegravam as cortes... Casamentos e laços de amizade eram firmados graças à intermediação dele...
A moça seguiu lamentando que os cortesãos que ela e os de seu grupo conheciam não fossem daquela extirpe, pois viviam a falar mal uns dos outros, fomentando desentendimentos devido às maldades e tristezas que semeavam... Laurinha concluiu com um “vergonha de nosso tempo” o modo de ser dos “gentis-homens” de sua época, pois eram o testemunho da total inversão de valores, já que entre eles os mais estimados eram os de piores procedimentos.
A narradora levava os companheiros à reflexão sobre a condição de viverem tempos vergonhosos... As virtudes notadas no Guilherme Borsiere de sua história há muito haviam saído de moda... Seu prolongado relato revelou toda a sua indignação...
Retornando à narrativa propriamente dita, disse que o exemplar cavalheiro foi muito bem recebido em Gênova... Por todos foi muito bem visto... Ficou por tempo prolongado na cidade e, assim, ouviu falar do senhor Ermino e sua avareza... Quis conhecê-lo. Ermino, de sua parte, também ouviu falar do estrangeiro e ficou a par de sua digna reputação.
Então aconteceu que Ermino recebeu a ilustre visita... Tratou-a com gentileza, belas palavras e rosto alegre, pois podia manifestar lampejos de nobreza... Enfim se comportou como excelente anfitrião... Apresentou-lhe outros genoveses e, na companhia desses, Guilherme Borsiere foi levado a uma bela casa nova que Ermino havia mandado construir com todo requinte... Enquanto apresentava as instalações, perguntou ao visitante se ele poderia recomendar algum tema de pintura que pudesse decorar a sala... Ermino esperava que, com toda aquela encenação, estivesse agradando sobremaneira o virtuoso Guilherme Borsiere...
Mas Borsiere notou a incorreção e inconveniência do outro ao falar-lhe naqueles termos... Gentilmente respondeu que não se considerava apto, mas se aquele era o desejo do anfitrião, sugeriria algo que imaginava nunca ter sido visto por Ermino... Demonstrando total atenção ao visitante e natural curiosidade, este pediu-lhe que dissesse. Então o senhor Guilherme falou que ele poderia mandar "pintar cortesia”. Ao ouvir a sugestão, Ermino, que até então se apresentava dissimuladamente, envergonhou-se e garantiu que mandaria executar a pintura...
Então Laurinha finalizou sua história dizendo que Ermino, desde então, passou a se comportar de modo diferente, tornou-se cortês e o mais liberal de todos os gentis-homens na Gênova de sua época.
Fim da oitava novela.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/06/decamerao-de-giovanni-boccaccio-nona.html
Leia: Decamerão. Editora Abril.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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