Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/05/decamerao-de-giovanni-boccaccio-setima_19.html
antes de ler esta postagem:
Filóstrato terminou a
sua novela... Ao seu lado estava Laurinha, que elogiou o que ouviu do amigo e,
principalmente, o procedimento adotado pelo Bergamino de sua novela... Um final
feliz para um homem digno foi reservado e isso foi enaltecido pela moça.
Ela
disse que sua narrativa teria desfecho semelhante... Iniciou falando que a
história se passava em Gênova... O personagem central era certo Ermino dos
Grimaldi (evidentemente a nota esclarece não haver nenhum personagem histórico
com esse nome na tradicional família genovesa da qual descendem os príncipes de
Mônaco)... Esse gentil-homem possuía tanto dinheiro e propriedades que por sua
época não havia nenhum outro cidadão que pudesse ser reconhecido como mais rico
que ele... Porém sua riqueza era menor que a avareza, mesquinhez e
miserabilidade de seu caráter...
Ocorre que este Ermino
tinha tanto apego às suas posses e dinheiro que não abria mão de minúscula
parcela dele para prestar homenagem a quem quer que fosse... Seu controle e
escrúpulos em relação aos gastos eram tais que se dizia que ele “apertava a
bolsa” e não se importava (contrariando os costumes dos genoveses) em ser
notado vestido de modo deselegante... Até mesmo os seus gastos com alimentação
e a boa bebida eram econômicos.
A
reputação de Ermino tornou-se desprezível... Ele deixou de ser associado ao clã
“dos Grimaldi”, em vez disso, passaram a chamá-lo “senhor Ermino Avareza”... De
sua parte, ele pouco se importava, pois levava em consideração apenas a
multiplicação de seu dinheiro e posses...
Laurinha
dispensou um bom tempo de sua narrativa ao bom exemplo do digno senhor
Guilherme Borsiere (a nota esclarece que em O
Inferno, de Dante, este nome é citado)... Ele chegou a Gênova na época em
que Ermino vivia a se enriquecer a partir de sua controversa ética...
A moça aproveitou o trecho da novela que contava para
comparar Guilherme de Borsiere aos gentis-homens daqueles tempos dramáticos que
viviam... Quis mostrar que eles deveriam se comportar exemplarmente em
dignidade, mas em tudo se revelavam péssimos, já que se envolviam em escândalos
e nos mais diversos atos de corrupção... Bem o contrário era o Guilherme de sua
história, homem de caráter, que merecia ser chamado de gentil-homem, um
cortesão que se esmerava em promover as negociações de paz, evitando discórdias
e conflitos armados entre outros nobres...
Laurinha
não economizou as críticas aos “infiéis” e “indecentes” que envergonhavam os
costumes de seu tempo e, voltando a se referir ao Guilherme de sua narrativa,
disse que os discursos dele eram constituídos por belas frases que alegravam as
cortes... Casamentos e laços de amizade eram firmados graças à intermediação
dele...
A
moça seguiu lamentando que os cortesãos que ela e os de seu grupo conheciam não
fossem daquela extirpe, pois viviam a falar mal uns dos outros, fomentando
desentendimentos devido às maldades e tristezas que semeavam... Laurinha
concluiu com um “vergonha de nosso tempo” o modo de ser dos “gentis-homens” de
sua época, pois eram o testemunho da total inversão de valores, já que entre
eles os mais estimados eram os de piores procedimentos.
A
narradora levava os companheiros à reflexão sobre a condição de viverem tempos
vergonhosos... As virtudes notadas no Guilherme Borsiere de sua história há
muito haviam saído de moda... Seu prolongado relato revelou toda a sua
indignação...
Retornando à narrativa propriamente dita, disse que o
exemplar cavalheiro foi muito bem recebido em Gênova... Por todos foi muito bem
visto... Ficou por tempo prolongado na cidade e, assim, ouviu falar do senhor
Ermino e sua avareza... Quis conhecê-lo. Ermino, de sua parte, também ouviu
falar do estrangeiro e ficou a par de sua digna reputação.
Então aconteceu que
Ermino recebeu a ilustre visita... Tratou-a com gentileza, belas palavras e
rosto alegre, pois podia manifestar lampejos de nobreza... Enfim se comportou
como excelente anfitrião... Apresentou-lhe outros genoveses e, na companhia
desses, Guilherme Borsiere foi levado a uma bela casa nova que Ermino havia
mandado construir com todo requinte... Enquanto apresentava as instalações,
perguntou ao visitante se ele poderia recomendar algum tema de pintura que
pudesse decorar a sala... Ermino esperava que, com toda aquela encenação,
estivesse agradando sobremaneira o virtuoso Guilherme Borsiere...
Mas
Borsiere notou a incorreção e inconveniência do outro ao falar-lhe naqueles
termos... Gentilmente respondeu que não se considerava apto, mas se aquele era
o desejo do anfitrião, sugeriria algo que imaginava nunca ter sido visto por Ermino...
Demonstrando total atenção ao visitante e natural curiosidade, este pediu-lhe
que dissesse. Então o senhor Guilherme falou que ele poderia mandar
"pintar cortesia”. Ao ouvir a sugestão, Ermino, que até então se
apresentava dissimuladamente, envergonhou-se e garantiu que mandaria executar a
pintura...
Então Laurinha finalizou sua história dizendo
que Ermino, desde então, passou a se comportar de modo diferente, tornou-se
cortês e o mais liberal de todos os gentis-homens na Gênova de sua época.
Fim da oitava novela.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/06/decamerao-de-giovanni-boccaccio-nona.html
Leia: Decamerão. Editora Abril.
Um abraço,
Prof.Gilberto