segunda-feira, 10 de junho de 2013

“O Guarani”, de José de Alencar – mais sobre Peri; o descanso de Cecília, seus animaizinhos de estimação, suas preocupações - com a ausência do amigo - e seus escrúpulos; Isabel e sua opinião sobre Peri, seu desconforto ao também sentir-se desprezada na casa; retorno da expedição de Álvaro de Sá e expectativas indizíveis das moças

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/06/o-guarani-de-jose-de-alencar-peri-e-sua.html antes de ler esta postagem:

A intenção é prosseguir apresentando detalhes da obra original que, por diversos motivos, não aparecem na adaptação que seguiremos acompanhando... O episódio narrado anteriormente (Caçada) destaca características de Peri que não foram apresentadas aqui porque os registros que fiz estavam num papel esquecido em meio a outros tantos. Antes dos relatos específicos dessa postagem, vale retomá-los: Peri vestia o aimará, uma simples túnica de algodão, e carregava à cintura uma faixa de penas avermelhadas... Seu cabelo era bem cortado, tinha olhos negros, boca e dentes fortes... À cabeça levava uma fita de couro onde estavam presas duas plumas... O moço era alto e apresentava mãos delicadas e pernas ágeis...
(...)
À tarde daquele mesmo dia, Cecília descansava no lento balançar da rede de palha amarrada num pé de acácias... O cenário é o jardim do casarão do Paquequer... A beleza da moça se tornava ainda mais encantadora com as perfumadas flores que caíam ao seu redor... Sonolenta, apenas por breves instantes seus olhos azuis davam o ar da graça... Sua alvura e cabelos louros completavam a “arte de perfeição admirável”. Para muitos, a moça carregava as características do que imaginavam serem os anjos. Sua vestimenta era simples, mas os adornos conferiam-lhe o luxo possível àquelas paragens.
Dezoito anos. E o que podia se passar em sua mente? Sonhava com um príncipe, um tipo idealizado que chegava das nuvens e caía aos seus pés... Mas em vez desse cavalheiro, a realidade oferecia-lhe um selvagem... Seus sonhos eram sempre assim... O príncipe encantado a socorria nos sonhos, enquanto que o fiel escravo, sempre pronto a servi-la, magoava-se ao notar-se rejeitado... Isso a entristecia muito... Mas era só um sonho que se repetia.
Sempre próxima de Cecília estava a sua prima Isabel, um tipo bem diferente, “brasileiro em toda a sua graça e formosura”, de olhos negros e cabelos pretos, rosto moreno e sorriso provocador. Cecília disse que se sentia triste... As duas seguiram falando sobre os dramas da filha do fidalgo e Isabel estranhava porque a prima travessa só tinha sorrisos a ela direcionados durante o ano todo... Mas a moça não se iludia... As árvores, o rio e as montanhas já não eram novidade para Cecília, que de tão integrada ao ambiente se sentia como se ali tivesse nascido e (desde sempre) vivido... Enfadonho cotidiano, ela protestava... Isabel quis adivinhar o que faltava à prima. Então falou sobre os seus “bichos de estimação” que estavam por ali: um pequeno cervo, filhote de veado, e uma pequena rolinha... Estando ali os seus bichinhos, a pequena princesa só podia estar sentindo falta de seu outro “animal selvagem”, o índio Peri.
Isabel julgava Peri o mais feio e desengraçado dos “bichos de estimação” de Cecília... Confirmando o seu estado entristecido, Cecília disse que o amigo estava sumido desde a tarde do dia anterior... Manifestou sincera preocupação, mas a prima a tranquilizava dizendo que nenhum mal poderia ocorrer ao selvagem que vivia a “bater o mato” e a correr como “fera bravia”. Cecília prosseguiu em suas ilações sobre os perigos que Peri poderia correr, já que nunca se ausentara por tanto tempo do entorno da casa... A outra perguntou-lhe que tipo de perigo ela imaginava que Peri poderia correr... A moça não respondeu, apenas baixou os olhos e passou a se entreter com o embalo da rede... Percebe-se que a caçada à onça empreendida pelo índio era assunto que ela conhecia e a envolvia de alguma maneira.A loira chamou a atenção da morena por falar mal de Peri e não tratá-lo bem. Isabel se justificou demonstrando que o seu comportamento em relação a Peri era influência de dona Laurinda, que se referia a ele como animal comparável ao cavalo ou ao cachorro. Mas ela notou que a prima não aceitava aquele preconceito... Aproveitou a ocasião para dizer que os demais não eram como Cecília e que também ela era tratada com desdém, principalmente por Laurinda... Cecília procurou consolar a amiga dizendo que sua interpretação era resultado de sua desconfiança... E completou dizendo que entre as duas o tratamento podia ser, como já haviam combinado em outra ocasião, o de irmãs... Cecília ainda brincou que escolheu ser tratada como “irmã mais velha”, mesmo sendo mais jovem que a outra.
Na sequência vemos Cecília se comunicar através de estalinhos nos dedos e assobios com os seus dois bichinhos e ser atendida por eles... O pequeno passarinho até desceu da árvore para ganhar o aconchego da palma de sua mão... De repente Isabel soltou um grito que mesclava alegria, susto e surpresa ao ver que a comitiva chefiada por Álvaro de Sá passava pela cerca... Cecília admirou-se pela chegada e também pelo fato de a prima saber por quantos dias estiveram ausentes... Até perguntou se a outra contou os dias... De algum modo as duas sabiam que tinham motivos para se sentirem acanhadas.
Cecília quis que fossem saber das novidades que traziam, e se um fio de pérolas que havia encomendado para Isabel estava na bagagem... Revelou que a peça ficaria muito bem destacada em sua pele morena, motivo de inveja... A outra destacou que daria a vida para ter a alvura da prima.
Leia: O guarani. Editora Ática
Um abraço,
Prof.Gilberto

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