Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/06/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir-as.html
antes de ler esta postagem:
No passeio seguinte
continuaram a ziguezaguear pelas estradinhas até alcançarem uma pequena cidade
do sul... Ali se acomodaram para um café numa instalação de amplo terraço...
Debruilh retornou de uma banca de jornal trazendo um periódico, chegou à mesa
onde estavam Anne e Henri e mostrou-lhes a notícia da capa Os americanos atiram uma bomba atômica sobre Hiroshima... Leram a
matéria em silêncio... É claro, o episódio marcava o ultimato para que o Japão
capitulasse... Anne demonstrou-se indignada, estarrecida pronunciou que não
aceitava o fato de cem mil inocentes serem sumariamente condenados à morte... A
questão que levantava era sobre a real necessidade de precipitarem aquele
bombardeio... Disse que o governo japonês poderia ser intimidado de outra
forma...
Dubreuilh duvidou que os americanos fizessem o mesmo caso o alvo tivesse
de ser uma cidade alemã... Justificou que isso se devia ao preconceito deles aos
asiáticos. De sua parte, Henri argumentou que “volatizar uma cidade inteira”
deveria trazer muitos incômodos à consciência dos norte-americanos... Seguiram
conversando sobre isso, Robert dizendo que o episódio era resultado de uma
demonstração de força daqueles que se colocavam como “condutores da política
mundial”; Anne (ainda escandalizada) em relação à crueldade cometida, e também
sobre a possibilidade de os alemães construírem a “monstruosidade” antes dos
ianques... Enquanto ela concluía que todos haviam escapado desse grande perigo,
Dubreuilh afirmava que o fato de a tecnologia estar em poder dos americanos não
era algo digno de comemoração.
Anne lamentou a possibilidade de destruição da Terra,
Henri (citando conversa que tivera com Larguet) esclareceu que a atmosfera é
que seria destruída e que o planeta se assemelharia à Lua... Falaram sobre
essas catástrofes até voltarem às pedaladas...
Então retornaram à paisagem e à harmonia... Céu azul, terra fresca e
amarelada, folhas verdes... Mas que grande perigo havia, dado que aquele mesmo
planeta “transportava” seres humanos aptos a transformá-lo numa velha (ou nova?)
e gigantesca Lua... A loucura que se processava na natureza seria também
responsável pelas maluquices que operariam as decisões de cérebros voltados à
destruição em massa?
Pararam à margem de um rio, e Dubreuilh retirou papéis e caneta de uma
sacola... Henri espantou-se com a disposição e coragem do outro em permanecer
escrevendo mesmo tendo acabado de receber a notícia da enorme tragédia... Anne
disparou que o marido escreveria mesmo em meio às ruínas de Hiroshima... Robert
rebateu a crítica afirmando que em toda parte sempre houve ruínas...
Em sua tarefa, Robert seguiu refletindo sobre o mundo que se divisava
após a estrondosa bomba... É claro que o mundo se dividiria... A União
Soviética correria grande risco... Os mesmos erros de antes da grande guerra
estavam sendo repetidos. Dubreuilh incluía a todos, inclusive a eles mesmos,
que nem participavam dos palcos onde se encenavam os principais atos... O fato
de os comunistas serem “odiosos” repelia-o, e impedia que seus amigos também se
tornassem comunistas. Mas ao mesmo tempo pesava em sua consciência fazer a
França tornar-se inimiga “do único grande partido proletário” do país...
Certamente não era o que desejava.
Henri conversou sobre essas reflexões com
Robert... E perguntou se o SRL teria
mesmo que ceder às chantagens do PC... O outro respondeu que a união deveria
ser mantida... Henri argumentou que isso era aceito pelos comunistas apenas com
a condição de o SRL ser dissolvido e
de seus membros se filiarem ao PC... Robert reconheceu que o amigo tinha razão...
Henri perguntou se ele se inscreveria no PC, e sua pergunta era pertinente
porque entre Robert e o PC havia muitas incompatibilidades... A isso Dubreuilh
respondeu que, em caso de necessidade, sim, saberia se calar.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/10/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir.html
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto