Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/09/reflexoes-em-torno-da-tematica-mundo-do.html antes de ler esta postagem:
Durante muito tempo veiculou-se a ideia de que o ser humano está “condenado” ao trabalho... Então, trabalho se relacionava a uma punição... Apelava-se inclusive a referências bíblicas. Dizia-se que a desobediência de Adão e Eva no Paraíso levou a humanidade a perder a condição de ócio, já que foram condenados ao trabalho para sustentar a vida com o próprio suor. Mas esse não era o caso da nobreza... Os nobres não podiam se envolver com atividades braçais... Eles possuíam uma condição privilegiada na sociedade estruturada pela Igreja Católica.
Foi a burguesia que mudou esse modo de encarar o trabalho... Devemos entender que suas origens estão nas atividades artesanais e comerciais (seu trabalho)... Conforme essa classe social tornou-se importante, colocou fim às estruturas feudais e possibilitou a concentração de poder nas mãos dos monarcas.
Sabemos que o início do período moderno (séculos XV e XVI) foi de inúmeras conquistas burguesas... O tempo passou e os ideais liberais conduziram a burguesia ao estabelecimento do poder econômico e também político... Suas revoluções colocaram fim ao absolutismo monárquico e ao mercantilismo (que ela própria contribuiu para estruturar)... O Antigo Regime foi sendo superado...
As sociedades cada vez mais dependentes da industrialização foram também cada vez mais dirigidas pela alta burguesia... Propagou-se que o ócio contribui para a constituição de sociedades indolentes e viciadas... Justificavam-se as longas jornadas de trabalho em fábricas caracterizadas por suas péssimas condições...
A exploração extremada aumentou os índices de pobreza e muitos teóricos criticaram o modelo de produção que sugava a vida do proletariado. Karl Marx refletiu sobre a questão da “alienação do trabalho”... Ela nos remete à condição a que o operário chega devido ao seu cotidiano repetitivo (ao executar apenas uma parte do processo); sem conhecer o processo como um todo, não enxerga sua participação no produto acabado; sempre lidando com meios de produção que não lhe pertencem; produzindo bens que atingem valor (de mercado) que seu salário nunca será suficiente para adquiri-los...
* apenas
para refletir um pouco mais:
Em O Direito à Preguiça – 1883 - Paul
Lafargue contrariou a mentalidade burguesa sustentada por dogmas religiosos
(também) com passagens bíblicas, e defendeu o ócio e outros prazeres, além da
limitação da jornada a três horas diárias...
Mas a base de cálculos dos lucros dos patrões
jamais desprezou as jornadas extensas de trabalho e os salários baixos... O
trabalhador é levado a crer que seu trabalho não produz riqueza... O poema de
Vinícius de Moraes “Operário em Construção”, nesse sentido, é exemplar. (ver http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2010/12/poema-de-vinicius-de-moraes-operario-em.html).
Ao notar sua importância social, o trabalhador faz questão de ser
identificado pelo trabalho que exerce... Houve épocas em que a identidade da
pessoa era definida também pelo vínculo empregatício que possuía, quer dizer,
muitos ingressavam em uma determinada empresa e nela permaneciam até se
aposentarem...
Mas os tempos mudaram... Há
uma reserva cada vez maior de mão-de-obra, então há uma constante necessidade
de formação e especialização para aquele que pretende manter-se trabalhando...
Por isso, ao aconselhamento para os que buscam o ingresso no mercado de
trabalho (irem se acostumando a deixar para traz a condição de “poder planejar
dias sem deveres ou propósitos”), acrescenta-se a necessidade de ser “versátil”
para adaptar-se às constantes mudanças e manter-se em constante formação.
Conforme
nos inserimos nele, o “mundo do trabalho” torna-se ambiente nosso ao mesmo
tempo em que acabamos pertencendo a ele... Não é fácil ingressar (também)
porque nem sempre estamos preparados para as transformações que ele provoca em
nossas vidas... Eventualmente demora, mas acabamos aprendendo a conhecer (e nem
sempre aceitamos) sua dinâmica e conflitos... Nele vivemos alegrias e
decepções... Sem ele fica muito difícil viver dignamente...
Para
encerrar, deixo esses fragmentos de Guerreiro
Menino, de Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior (Gonzaguinha):
“Um
homem se humilha
Se
castram seu sonho
Seu
sonho é sua vida
E
vida é trabalho...
E
sem o seu trabalho
O
homem não tem honra
E
sem a sua honra
Se morre, se mata...”
Um abraço,
Prof.Gilberto