sexta-feira, 28 de setembro de 2012

“O Queijo e os Vermes”, de Carlo Ginzburg – Ziannuto tenta defender o pai; opinião de Menocchio sobre missas e esmolas em honra aos mortos; o moleiro se dispõe a falar muito

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/09/o-queijo-e-os-vermes-de-carlo-ginzburg_26.html antes de ler esta postagem:

Ziannuto, o filho de Menocchio, continuou buscando alternativas para livrá-lo dos problemas com o Santo Ofício. O moço procurou Trappola, um advogado de Portogruaro. Além disso, dirigiu-se a Serravalle para falar pessoalmente com o inquisidor. Em Montereale conseguiu uma declaração da prefeitura sobre seus bons antecedentes... O documento dava conta de que as autoridades receberiam, caso desejassem, comprovações sobre a “vida exemplar” de Menocchio em Montereale (confessava e comungava todo ano; havia sido magistrado e administrador de cinco vilas; fora administrador da paróquia de Montereale e coletor de dízimos...).
Ziannuto considerava o pároco de Montereale o delator de Menocchio... Com os irmãos, pressionou-o a redigir uma carta ao prisioneiro com as orientações para que pudesse se livrar do transtorno que enfrentava... A carta indicava a Menocchio a necessidade de prometer “obediência à Santa Igreja”, além de aceitar que não acreditava nas coisas que andava falando... Devia deixar claro que viveria de acordo com os mandamentos da Igreja... Que perderia a vida pelo amor de Deus e da Igreja, pois “devia a vida e tudo o que há de bom à Santa Mãe Igreja”.
Menocchio pensou que a carta e seu conteúdo fossem de Domenego Femenussa, um mercador de lã que o socorria com eventuais empréstimos. Ginszburg registra que ao fim do primeiro interrogatório, o moleiro disse ao vigário-geral que não confirmava ou desmentia o que dissera, e nem sabia se proferia as palavras por inspiração de Deus ou do demônio... Pedia misericórdia e dizia que faria o que lhe ensinassem... Quer dizer, queria ser perdoado, mas não renegava.
Os interrogatórios dos dias 7, 16, 22 de fevereiro, e de 8 de março de 1584 foram longos e, diante do vigário Maro, Menocchio manteve-se firme. Foram apresentadas denúncias sobre a sua incredulidade em relação ao papa e à doutrina da Igreja... O moleiro respondeu que Deus poderia matá-lo se aquilo fosse verdade... Dos depoimentos de Guiliano Stefanut, extraiu-se que Menocchio desprezava as missas aos mortos... Em relação a isso, ele tinha a dizer que as pessoas deviam fazer o bem enquanto vivas porque, depois da morte, Deus decidia tudo em relação às almas. Disse ainda que orações e esmolas em honra dos mortos eram devidas mais por causa do amor que se tem a Deus, que afinal é Quem decide receber as obras “em benefício dos vivos ou mortos”. Ginzburg alerta que essa defesa de Menocchio o complicava porque contrariava os ensinamentos católicos sobre o Purgatório... Mas ele não conseguia se controlar e falava o máximo que podia em defesa própria, sem se importar com os conselhos para “falar pouco”.
Ao final do mês de abril, Menocchio foi levado ao palácio do magistrado em Portogruaro... Ali deveria confirmar os depoimentos prestados até então... É que os casos investigados e julgados pelo Santo Ofício deviam contar com a presença de um magistrado secular (não religioso), pois essa era uma norma da República Veneziana... Assim, o frei Felice da Montefalco (inquisidor de Aquileia e Concordia) permitiu a oitiva (Ginzburg explica que o conflito entre as autoridades eclesiásticas e seculares era antigo na região)... Pode ser que, por essa ocasião, Trappola (o advogado) tenha tido algum acesso para defender o acusado.
As autoridades sabiam, por depoimento de Francesco Fasseta, que Menocchio estava disposto a "falar muito" se não sofresse nenhum tipo de ameaça... Falaria sobre suas ideias ao papa ou a qualquer rei e, se depois de tudo o matassem, morreria satisfeito. Ginzburg registra que ele foi perguntado sobre isso. Ele confirmou.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/10/o-queijo-e-os-vermes-de-carlo-ginzburg.html
Leia: O Queijo e os Vermes. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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