segunda-feira, 3 de setembro de 2012

“Os bandeirantes”, de Mustafa Yasbek – Série O Cotidiano da História – conhecendo mais de perto um bandeirante

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/09/os-bandeirantes-de-mustafa-yasbek-serie.html antes de ler esta postagem:

Devemos levar em consideração que por aquele tempo, início do século XVII, Portugal e Espanha estavam vinculados pela União Ibérica (referências sobre o assunto em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/07/fortaleza-dos-reis-magos-natal.html e http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2010/11/prece-in-mensagem-de-fernando-pessoa.html)... Os holandeses, por diversos motivos, realizavam ações no litoral da colônia portuguesa (principalmente na região nordeste de produção açucareira) e impediam o comércio de escravos trazidos da África... Assim, estava difícil para os grandes fazendeiros adquirem esse tipo de mão-de-obra... Deviam desembolsar muito dinheiro caso encontrassem algum para comprar... Sobretudo para os bandeirantes da vila de São Paulo, a captura de índios das missões jesuíticas se tornara negócio... Os mais fortes índios eram negociados a cinco mil réis.
O texto de Os bandeirantes nos leva a conhecer as características típicas dos bandeirantes que se dispuseram a desbravar os sertões e seus perigos... Para uns tornaram-se heróis; para outros, representaram o que podia haver de mais cruel entre os colonos da coroa portuguesa por essas terras... Podemos conhecer um pouco mais sobre aqueles homens ao lermos a parte do livro que descreve o personagem Fernão Lobo Leme.
(...)
Participar de uma bandeira era ocasião que os homens da vila de São Paulo não podiam deixar passar... Juízes, vereadores e até os mais simples habitantes da localidade se dispunham à empreitada... Em pouco tempo, a notícia da partida da expedição comandada por Lobo Leme tomou conta de todos os ambientes... Mas então, quem era este tipo?
Para começo de conversa, podemos dizer que apesar de todo o respeito que gozava entre os moradores da vila, este não era o ambiente onde se pudesse localizá-lo com facilidade... A maior parte do tempo Lobo Leme passava em sua propriedade, na vizinhança, a administrar o trabalho de capatazes e escravos... Ele contava mais de 50 anos, era um homem alto, forte e autoritário, a barba grisalha por fazer. Detinha grandes extensões de terras que, como outros fazendeiros, destinava ao cultivo do milho, trigo, feijão trigo, cana-de-açúcar e algumas frutas... Era dono de escravos negros e indígenas, mas não em quantidade suficiente para que as terras produzissem o que intencionava... Argumentava-se que, por isso, ele organizou a bandeira... Todos sabiam que só alguém como ele, rico e poderoso, tinha condições de liderar tal expedição.
Ele era famoso também por seu destemor em relação às autoridades religiosas. Tinha muitas histórias para contar... Desde menino participava de caçadas aos índios... Já adulto, em certa ocasião, organizou fazendeiros necessitados de mão-de-obra e invadiram um colégio jesuíta numa aldeia da capitania... Sob sua liderança, os fazendeiros agrediram os padres e levaram os índios para o trabalho escravo... O vigário de Parnaíba escreveu documento que dava conta da excomunhão de Lobo Leme... Quando o papel lhe foi entregue por padres, ele picou em pedacinhos e expulsou os religiosos de sua propriedade afirmando que não precisava daquilo porque era excomungado de nascença, além disso, falou que não precisava de nenhuma aprovação de padres para ser cristão...
O autor coloca o nosso bandeirante em conversa com o escrivão Sebastião Pires numa ocasião em que esteve na Câmara Municipal... Assim ficamos sabendo o que os grandes proprietários pensavam acerca das autoridades de além-mar... Ele protestou categoricamente contra as cartas régias que solicitavam à Câmara a proibição do apresamento de índios. E, além disso, mostrou que os paulistas não deviam se preocupar em obedecer “nenhum” Tratado de Tordesilhas, já que os espanhóis também o descumpriam... O rico fazendeiro expressava a mentalidade dos colonos de Piratininga que, praticamente abandonados à própria sorte, sentiam-se na condição de autonomia daqueles que devem procurar por si mesmos as soluções para os problemas que enfrentam. 
Os paulistas concordavam que a única saída que tinham era buscar índios nas colônias jesuíticas localizadas entre os rios Iguaçu e Paranapanema, em terras da América espanhola. Nas reduções missionárias, os jesuítas catequizavam os índios e ensinavam-lhes várias habilidades como plantar e criar animais; tocar instrumentos musicais e cantar durante as celebrações; lidar com tecidos, madeira e ferro. Evidentemente a cultura original dos indígenas era anulada pelos jesuítas... E esses das reduções tornavam-se mais dóceis na medida em que conviviam com os padres, que os proibiam de portar armas além das de caça...
Lobo Leme contou a Sebastião Pires sobre sua participação na bandeira de 1623, comandada por Manuel Preto... Lembrou que naquela ocasião os índios praticamente não ofereceram resistência. Eram dirigidos por dois jesuítas e a chegada dos paulistas provocou neles grande pavor... Os índios embrenhavam-se pelo mato, mas os bandeirantes ateavam fogo... Eles escapavam, eram cercados e aprisionados.
Essa conversa fazia com que os candidatos à bandeira se alvoroçassem. Esse era o caso de Pires... E também o daqueles que chegaram à vila fazendo com que sua população duplicasse às vésperas da partida da expedição.
Leia: Os bandeirantes. Série O Cotidiano da História. Editora Ática
Um abraço,
Prof.Gilberto

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