quarta-feira, 1 de agosto de 2012

"Os Mandarins", de Simone de Beauvoir. reflexões de Henri sobre sua relação com os leitores; conversa com Lambert sobre suas novelas, ser intelectual não é um defeito

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/07/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir.html antes de ler esta postagem:

Depois da troca de idéias com Luc, Henri seguiu para a casa dos Dubreuilh. Anne o recebeu com a gentileza habitual. O motivo que o levava ali era a decisão de fazer Robert crer que não haveria como esperar algo de L’espoir porque o mesmo estava “quebrado”, à beira da bancarrota. Dubreuilh insistia, afirmava que não era o fato de o jornal se tornar um órgão do SRL que o faria desaparecer. Disse que o SRL não é um partido, mas sim um “movimento amplo”... O debate seguiu assim, Henri dizendo que L’espoir se reduziria a apenas aos leitores adeptos do SRL; Robert ia à carga dizendo que os membros do SRL seriam infinitamente numerosos quando contassem com o apoio se um jornal... A questão ficou mais ou menos fechada no ponto em que precisavam de dinheiro. Os dias seguintes foram de demonstração, por parte de Henri, de que gostaria de cooperar... Luc ponderou junto a Henri que ele poderia fazer o que quisesse, porém sempre mantendo a independência de L’espoir.
As coisas não eram tão fáceis assim... As matérias publicadas podiam levar os leitores a considerarem o jornal um instrumento do PC (como no caso dos textos de Lachaume que enfatizavam os artigos de Henri sobre Portugal), ou a julgarem L’espoir insignificante (no caso de Henri ser forçado a redigir algo que esclarecesse um eventual mal entendido em relação ao PC)... Poderia perder público intelectual que estimava a imparcialidade do jornal... Poderia indispor-se com os leitores comunistas...
Essas reflexões levaram-no a concluir que era necessário dedicar-se mais ao jornal... Pensou sobre a relação com os leitores e como nem tudo é sincero nela. Sentia que havia muito blefe, também de sua parte, nessa relação.
Seguiu ao Scribe, onde jantou com Lambert. O restaurante era frequentado por militares americanos, provavelmente muitos eram hóspedes ali... Lambert, correspondente de guerra, também se apresentava com um uniforme de tenente. Ele foi logo dizendo que ali comeriam bem... Fez ironia ao comparar essa oportunidade à condição dos prisioneiros alemães. Conversaram sobre isso e Lambert deixou claro que não via com bons olhos o fato de eles serem tão bem tratados, inclusive os nazistas... Decididamente ambos não concordavam com o fato de o gerenciamento americano, no trato com os prisioneiros de guerra, não ser “entusiasmante”.
Lambert fez uma referência a Lachaume, dizendo que a este parecia agradar o fato de os americanos sofrerem críticas dos franceses... Henri apenas completou com um “você diz uma palavra contra o PC e faz o jogo da reação! Critica Washington e é (taxado de) comunista”... Na sequência lamentou não ser fácil manter L’Espoir sem tomar partido. Lambert argumentou que o importante era manter coerência e falar de acordo com a consciência. Henri disse que era isso mesmo o que fazia. Seguia sua consciência. Lambert elogiou o outro afirmando que poucos eram jornalistas como ele, que examinava a correspondência e procurava saber das opiniões e anseios dos leitores... Era a honestidade de Henri que o impelia a reflexões sobre as necessidades de estudar mais a fundo as coisas das quais falava e escrevia... Lambert disse apenas que conhecia muitos estudantes que confiavam plenamente no periódico dirigido pelo amigo.
Logo após, Henri resolveu tratar das novelas que Lambert havia deixado com ele. Avaliou que o moço poderia revelar nelas as experiências de sua vivência... Mas Lambert respondeu que nada de suas vivências interessariam a alguém. Em síntese considerava-se “não dotado” para o ofício de escritor. Henri tentou animá-lo orientando-o a escrever sobre o que havia no próprio coração. Disse que a falha do rapaz foi escrever sobre assuntos estranhos à própria existência... Disse que certamente da próxima vez ele faria melhor... Reconhecia que Lambert era competente nas reportagens que redigia... Finalizou o assunto dizendo ainda que “ser intelectual não é um defeito”. 
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/08/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_2.html...
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.

Um abraço,
Prof.Gilberto

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