"Os Mandarins", de Simone de Beauvoir. Repercussão da provável aliança L’Espoir-SRL; discussões no comitê do movimento
De volta ao escritório, Henri recebeu a visita
de Lachaume (que normalmente aparecia ali para falar com Vincent). Lachaume,
sem maiores rodeios, protestou contra o que vinham dizendo sobre “L'Espoir se
enfeudar ao SRL”. Henri disse que
ainda não havia nada definido... As reclamações de Lachaume eram sobre o SRL estar cada vez mais vinculado ao
movimento anticomunista... Mas Henri questionou sobre a realidade dos fatos, já
que Dubreuilh dizia as mesmas coisas que ele, mas ao mesmo tempo em que
Lachaume “cobria L”Espoir de flores”, demonizava o outro. O rapaz
argumentava que o meeting e o suporte
do jornal tornariam o SRL muito
forte, e isso desorganizaria o PC... E prosseguiu afirmando que o SRL já se declarara contra o PC
anteriormente.
Henri perguntou se o movimento tivesse um tamanho insignificante, e
permanecesse à sombra do PC, não seria tolerado... Lachaume desconversou, disse
que estavam de olho no SRL e que o
apoio do jornal o tornaria muito perigoso... Henri disparou que Scriassine tinha
razão quando dizia que não havia como trabalhar com o pessoal do PC... Lachaume
insistia que L’Espoir deveria permanecer independente, no entanto seu intento
era apenas o de manter o PC como principal movimento de vanguarda... Ele
finalizou dizendo que o SRL jamais
conseguiria conquistar o proletariado, e que trabalho sério Henri poderia
realizar junto ao PC. Farto daquilo, Henri o dispensou dizendo que precisava
encerrar um artigo.
Dubreuilh havia sido
procurado pelo comunista Lafaurie, que tentou dissuadi-lo da ideia do meeting... Henri concordava que o SRL não deveria retroceder... O início
da “primeira primavera dos tempos de paz” estava marcado por essas inserções
políticas... Em meio ao comitê para tratar desses assuntos, Henri ouvia as
opiniões de seus camaradas... Lenoir defendia a posição dos comunistas contra o
meeting; Savière concordava que o PC
era tirano e isso devorava o movimento de esquerda; Samazelle não via
desacordos, apenas as questões práticas deviam ser esclarecidas por ambas as
partes. Ele era o mais eloquente e defendia um meeting em que os discursos não agredissem ao PC... Henri alimentava certa desconfiança em
relação a Samazelle, considerava-o um politiqueiro, e não sabia a qual dos
lados o moço penderia no caso de ataques vindos do PC. Observou que Bruneau e
Morin eram tipos “sinceros, mas hesitantes”... Bem parecidos com ele mesmo que,
nos dizeres de Lachaume, transpira suas intenções políticas sem abrir mão do
individualismo.
O comitê do SRL votou favoravelmente à realização
do meeting... Samazelle se aproximou
de Henri e disse que seria bom para o SRL
que o comício desse certo, e que o jornal faria a diferença... Ele estava
cobrando uma resposta de Henri, que o advertiu que já havia mostrado que
precisava de “alguns dias”...
Mas as palavras do outro eram as de alguém que cobra insistentemente uma tomada
de decisão... Henri cumprimentava a todos enquanto refletia sobre os laços de
amizade que mantinha ali... Notava cada vez mais que os vínculos dependiam da
concretização da aliança que esperavam de L’Espoir.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/08/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_16.html...
Leia:
Os Mandarins. Editora
Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto