sábado, 11 de agosto de 2012

"Os Mandarins", de Simone de Beauvoir. Henri e o seu L’Espoir estão na berlinda; as pressões vêm de todos os lados

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/08/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_9.html antes de ler esta postagem:

Henri ouviu as indignações de Paule. Ele mesmo comungava daquelas opiniões. Mas, sem dar muito crédito às palavras dela, procurava acalmar a situação dizendo que nada estava acertado sobre L’Espoir tornar-se aparelho do SRL.
No jornal a situação era de agitação... Os textos de Lachaume repercutiram a ideia de que L’Espoir seguia as ordens dos comunistas... Isso estava sendo explorado pelos jornais de direita... Lambert concordava que, no mínimo, os leitores mereciam esclarecimentos sobre a situação... Henri não desejava de modo algum ser taxado de comunista. Era melhor, em sua opinião, que dessem ao jornal a “pecha” de representar o SRL. Vincent era da opinião de que as ideias (de vínculo com o PC e de vínculo SRL) eram nocivas ao jornal... Então, Henri que decidisse...
Ele pensou que talvez a aliança com o SRL fosse mesmo uma “necessidade histórica”, algo a serviço da paz... Não... L’Espoir não era um brinquedo... Percebeu que aquele aparelho todo lhe incutia deveres... L’Espoir era uma arma, e exigiam que ela exercesse a sua função. Henri observou que mergulhava no mundo político e pensou sinceramente em sua angustiante condição de não se deixar devorar pelas negociações nem sempre claras ou bem intencionadas do jogo político...
Pensou nas atuações de Samazelle e Dubreuilh, no modo como “não se importavam com os meios utilizados para atingir o fim”... Conseguiram financiamento para o jornal a custo de uma negociação que ele não compreendia bem... Na rua observou o movimento das pessoas em meio à bruma. Pensou sobre o que lhe dava prazer (companhias femininas, dançar, ouvir músicas, ler descompromissadamente...)... Há muito não dispensava momentos mais tranquilos a si mesmo... Isso à parte, não havia como não considerar também que ainda carecia de formação mais embasada. Suas decisões eram consistentes? Refletiu sobre todas essas necessidades, e considerou que o tempo de que dispomos é insuficiente para todas elas.
Prosseguia em suas reflexões... Será que nossos atos são tão importantes assim para os destinos da humanidade? Nem ele e seus textos, nem o SRL possuíam essa condição... As pessoas seguem pelas ruas, vão apressadamente. Com qual objetivo assim procedem? O fim de todos é a morte... Sim, isso é para todos. Lembrando-se da conversa com Lambert, pensou que talvez fosse melhor abandonar tudo (Paris, L’Espoir, SRL, acertos e desacertos com o seu pessoal)... Ele se via como mais um que se envolvia na trama da existência, e de nada adiantaria perder-se em elucubrações.
Então buscaria a felicidade “em algum lugar do Mediterrâneo” escrevendo seus livros, sem se importar com os destinos da humanidade? Mas e aí? Escrever o quê? Se as decepções com o mundo e com os indivíduos perdem a importância não vemos mais sentido nos esforços de reflexão e produção de ideias. Absorto em seus pensamentos decidiu que o melhor era recolher-se por alguns dias em casa.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/08/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_15.html...
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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