segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Tempo de Esperas, de Fábio de Melo (PE.) – quem ama quer a criatura amada por perto

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/07/tempo-de-esperas-de-fabio-de-melo-pe_27.html antes de ler esta postagem:

Alfredo escreveu para Abner. Ele ficou muito grato ao saber que a sequência de cartas levara o professor a considerá-lo um filho. Seus registros agora estavam revelando a tremenda satisfação que encontrara ao se dedicar à confecção do jardim. Preparou sementeiras diversas, variou nas flores e cores. Queria ter opções para construir algo bonito. Estava estudando para conhecer melhor a arte florista.
Lamentou ter de concordar com Abner sobre sua constatação de que os momentos de insônia significam amarguras que ainda conserva. Quer dizer, aceitou a interpretação do professor que comparava a condição daquele que alimenta o ódio à daquele que aponta uma arma de fogo contra a própria testa. Mas ainda assim admitia nutrir ódio pelo florista que levou a amada Clara, mesmo sem conhecê-lo.
Agora estava preocupado em saber se, depois de pronto, o jardim se destacaria por sua beleza à frente da casa... Ou se a casa, de nobre beleza, prevaleceria em relação ao jardim...
Abner escreveu para Alfredo. Para ele, a natureza da beleza é complementar... Um complementa o outro. Ele citou Martin Buber para esclarecer que na relação entre dois, temos o aparecimento de um "terceiro ente". É ele que nos leva a pretender permanecer ao lado do outro... O que consideramos bom e belo no outro, na verdade, é o que resulta neste "terceiro ente"... O contrário também se processa, já que as aversões em relação ao outro contam com a nossa participação. Somos e nos comportamos de determinada forma com as pessoas, disso resulta que pretendemos viver mais próximos ou afastados delas...
Abner escreveu sobre um casal de canadenses que conheceu no passado. Explicou que se tratava de um belo e harmonioso casal. Destacou, em particular, a beleza da mulher... Numa certa ocasião o marido teve de se afastar dela devido a compromissos no Canadá. O professor constatou, então, que na ausência do amado, a beleza da mulher perdeu o brilho. E concluiu: “quem ama quer a criatura amada por perto”.
Depois escreveu sobre a sua solidão. Destacou que assumia essa condição... Revelou sobre como conheceu Flora numa fria tarde de segunda-feira. Ela descia a escadaria quando deixou cair um exemplar de O amor ao cair da tarde... Coincidências... Inclusive com a ocasião em que Alberto conheceu Clara. Escreveu sobre a perda da esposa para o câncer fatal e a sua firme decisão de cumprir o que ela pediu antes de morrer (que após a reforma da casa dos pais de Abner, ele se mudasse para lá e concluísse o jardim)... O professor assumia sua condição solitária sem se importar com aparências, inclusive nem mantinha espelhos em casa... Não teria condição de enxergar a si mesmo desacompanhado daquela que o completava. Tristes trechos de desabafos...
Ao final orientou que Alberto cuidasse bem das sementeiras, pois “cuidar de flor é o mesmo que cuidar de amor”.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/08/tempo-de-esperas-de-fabio-de-melo-pe_8.html
Leia: Tempo de Esperas. Editora Planeta.

Um abraço,
Prof.Gilberto

Páginas