Alfredo escreveu para Abner. Ele ficou muito grato ao saber que a sequência de cartas levara o professor a considerá-lo um filho. Seus registros agora estavam revelando a tremenda satisfação que encontrara ao se dedicar à confecção do jardim. Preparou sementeiras diversas, variou nas flores e cores. Queria ter opções para construir algo bonito. Estava estudando para conhecer melhor a arte florista.
Lamentou ter de concordar com Abner sobre sua constatação de que os momentos de insônia significam amarguras que ainda conserva. Quer dizer, aceitou a interpretação do professor que comparava a condição daquele que alimenta o ódio à daquele que aponta uma arma de fogo contra a própria testa. Mas ainda assim admitia nutrir ódio pelo florista que levou a amada Clara, mesmo sem conhecê-lo.
Agora estava preocupado em saber se, depois de pronto, o jardim se destacaria por sua beleza à frente da casa... Ou se a casa, de nobre beleza, prevaleceria em relação ao jardim...

Abner escreveu sobre um casal de canadenses que conheceu no passado. Explicou que se tratava de um belo e harmonioso casal. Destacou, em particular, a beleza da mulher... Numa certa ocasião o marido teve de se afastar dela devido a compromissos no Canadá. O professor constatou, então, que na ausência do amado, a beleza da mulher perdeu o brilho. E concluiu: “quem ama quer a criatura amada por perto”.
Depois escreveu sobre a sua solidão. Destacou que assumia essa condição... Revelou sobre como conheceu Flora numa fria tarde de segunda-feira. Ela descia a escadaria quando deixou cair um exemplar de O amor ao cair da tarde... Coincidências... Inclusive com a ocasião em que Alberto conheceu Clara. Escreveu sobre a perda da esposa para o câncer fatal e a sua firme decisão de cumprir o que ela pediu antes de morrer (que após a reforma da casa dos pais de Abner, ele se mudasse para lá e concluísse o jardim)... O professor assumia sua condição solitária sem se importar com aparências, inclusive nem mantinha espelhos em casa... Não teria condição de enxergar a si mesmo desacompanhado daquela que o completava. Tristes trechos de desabafos...
Ao final orientou que Alberto cuidasse bem das sementeiras, pois “cuidar de flor é o mesmo que cuidar de amor”.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/08/tempo-de-esperas-de-fabio-de-melo-pe_8.html
Leia: Tempo de Esperas. Editora Planeta.
Um abraço,
Prof.Gilberto