Mais tarde todos seguiram para o agradável passeio pelo jardim... Formaram-se casais e os cavalheiros seguiram de braços dados às senhoras... Trocaram palavras delicadas como era do costume... Conversas animadas, respeitosas e carinhosas... Uma elegância só na qual se percebia o afetuoso jogo da conquista... Afinidades afloravam... Augusto, porém, permanecia só... Além dele, Carolina estava desacompanhada porque não fazia mesmo questão de companhia. Rejeitava os acompanhantes porque preferia correr, saltar e permanecer livre para poder caçoar das amigas.
Foi dona Ana quem se aproximou de Augusto... Ela principiou dizendo que estranhava o modo como ele havia defendido durante o jantar a sua condição de tipo inconstante quando o assunto era o amor... Ela rebateu a sua ideia (de que se tratava apenas de uma opinião sem maiores consequências)... Disse que, se assim fosse, as famílias corriam riscos, pois a base da paz familiar está na constância das relações... Depois, a avó de Filipe falou que não acreditava que Augusto pensasse sinceramente daquela maneira, e argumentou que provavelmente o rapaz se manifestava assim para atrair o interesse das moças. Augusto disse que não, e manifestou que aquilo era consequência de seu desejo de buscar sossego... Explicou que, permanecendo inconstante, mantinha-se fiel a um antigo amor.
Dona Ana se interessou... Quis saber se era bonita a moça pela qual seu coração devotava tanta fidelidade... Augusto disse não ter condições de responder, pois sequer lembrava-se do semblante da amada... Nem mesmo sabia onde ela vivia. Ao perceber que aguçava a curiosidade da anfitriã, propôs que conversassem mais calmamente numa gruta localizada num rochedo.

Ele contou que quando tinha treze anos, passou alguns meses na corte... Viviam numa fazenda do interior, mas negócios importantes levaram seu pai a deslocar a família ao Rio de Janeiro... Numa ocasião, quando brincava numa praia, conheceu uma menina que contava uns oito anos de idade... Ele a descreveu como agradável e alegre... A criança mais bonita que já vira... Um anjo de cabelos negros e anelados... Contou que se aproximou dela e notou que ela estava encontrando dificuldades para apanhar uma concha na areia por causa das fortes ondas... Resoluta, a menina suspendeu o vestido até os joelhos e tentou alcançá-la, mas caiu e, ofegante, disparou na direção dele... Disse que “ia morrer afogada”. Mas isso foi por um instante, pois a seguir pôs-se a rir muito da situação... Augusto conta que decidiu pegar a concha para a bela menininha... Depois disso tornaram-se amigos e por horas a fio brincaram e riram na areia.
Veremos que esse encontro casual não terminou por aí...
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Leia: A Moreninha. Série Reencontro – Literatura. Editora Scipione.
Um abraço,
Prof.Gilberto