segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Tempo de Esperas, de Fábio de Melo (PE.) – o desprendimento nos torna pessoas melhores

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/08/tempo-de-esperas-de-fabio-de-melo-pe_11.html antes de ler esta postagem:

Na última carta a Alfredo, Abner registrou que ele “poderia experimentar novas encantadoras descobertas em seu futuro”... O trecho diz “prepare seu coração. Raios de luz merecem ser bem recebidos”.
Dessa vez o rapaz enviou um pequeno bilhete no qual levantava a questão sobre esses “raios de sol”... “Pode algum nos iluminar mais que outros?”
Com outro bilhete, Abner respondeu que perguntas são o que se espera de uma afirmação como aquela. Para o professor, o fato de o jovem amigo não desdenhar de sua metáfora era um sinal de que estava curado de “ser como gente grande”, que só espera aproveitar-se e tirar utilidade das relações com os outros. 
Depois, Alfredo escreveu concordando com a ideia de “curar-se de ser gente grande”. Agora encarava a maturidade como o equilíbrio que nos leva a experimentar a grandeza e a simplicidade com a mesma disposição. Estaria aí a síntese entre inteligência e sabedoria? Agora ele admite que sabedoria não combina com arrogância. De modo algum. A busca do conhecimento não pode relacionar-se a necessidades de comprovações. É preciso "encolher-se" para conhecer...
Ele destacou que (no jardim que estava formando) decidiu deixar em destaque algumas frases de poetas que há muito “cultivava”... Explicou que as palavras também têm o “tempo de semente”... Elas devem passar pelo processo que é o nosso amadurecimento interior. Ele revelou que pretendia escrever um livro, mas admitia que antes disso há muita vida e aprendizado a serem saboreados... Estava dispensando o texto inédito de Abner, algo que outrora o atraía tanto... O momento era de espera. O texto poderia ficar para um momento futuro.
Abner valorizou as iniciativas do amigo pupilo. A poesia tornaria o jardim ainda mais florido... Recomendou poesia àqueles que estão desencorajados. Ele mesmo já vinha experimentando este “tratamento”. Seguiu esclarecendo que Deus criou o mundo a partir do verbo... A palavra tem pode ressuscitador, e cita o caso de Lázaro, despertado da morte pelo “grito de Deus”.
O professor aproveitou para relacionar essas ideias ao fluxo da vida que segue nos ciclos que podemos notar na natureza... Até que o rio chegue ao seu destino ele envolve muitas misturas... Deságua, e é como se estivesse deixando de existir, mas na verdade está ressurgindo para uma nova realidade.
Essas coisas são muito complicadas, mas estão carregadas de profundidade... Para exemplificar, ele citou os movimentos de inspiração e expiração. Depois tratou de como os cristãos alimentam a ideia de que o Cristo ressuscitado “está no meio de nós”... E é o que acontece com ele em relação à Flora, que se torna presente em sua vida. Ele já havia revelado que após a morte de sua amada, decidiu se desfazer de vários de seus pertences (bilhetes, fotografias, livros...)... Reter é “a pior forma de perder”. Tudo aquilo que a ela pertenceu poderia dar a falsa impressão de ainda possuí-la.
Normalmente as pessoas procuram garantir a proximidade daquele que ama e se cercam de situações confortáveis... Nelas pretendem permanecer. Isso até proporciona uma sensação de liberdade, mas o cuidado com tantas posses acaba aprisionando. Foi Flora quem, nos estertores de sua vida, acabou ensinando ao professor que ele deveria apegar-se menos aos bens.
Seus projetos de jardins foram por ele iniciados... O desprendimento o fez um homem melhor. A antiga casa onde viviam foi transformada numa clínica para tratamento de crianças com câncer...
Abner encerra sua carta afirmando que procura viver os seus dias com intensidade... Em sua idade, a vida vai de despedindo dele... O tempo que lhe resta está diminuindo, mas não vê problema nisso. Sente-se leve e livre. Segue administrando o espaço em se situa... E também o sopro que ainda reside nele...
Segue feliz, contemplando as harmonias e belezas... Falta tempo para que tudo seja apreciado.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/08/tempo-de-esperas-de-fabio-de-melo-pe_15.html
Leia: Tempo de Esperas. Editora Planeta.

Um abraço,
Prof.Gilberto

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