Depois do comitê do SRL, Henri Perron seguiu de carro para o escritório de Vigilance, onde Dubreuilh afirmou existirem manuscritos para leitura e posterior contato com os autores. Henri lembrou que fazia tudo isso muito apressadamente, sendo assim, admitia que não realizava satisfatoriamente suas tarefas. No escritório encontrou-se com Nadine, que passou-lhe os vários envelopes, cadernos e livros para serem analisados. A moça resolveu que ficaria com o texto do jovem autor Peulevey. Gostaria de ler e, como marcaram um encontro para as dez da noite, depois entregaria mais este texto a Henri.
Nadine gostaria de encontrá-lo antes, no Marconi, onde os amigos festejariam a queda de Berlim. Henri lamentou não participar, principalmente porque a casa contava com novos discos de jazz... Tinha compromisso com Tournelle à tarde, pois devia satisfações ao velho das Viernas (de Portugal).
Despediu-se de Nadine pensando sobre os prazeres que acabara de dispensar (conversa com os amigos, bebida ao som do jazz...). Talvez passar a noite com Nadine no hotel localizado à frente do jornal compensaria a intensidade de seu “dia sério”. Antes da conversa com Tournelle começaria o editorial no jornal... Ao estacionar, notou a alta quilometragem no odômetro do carro, 2327, o que significava que alguém deveria ter percorrido 225 quilômetros na última noite. Pensou em quem poderia ser e concluiu que Vincent devia ter estado com o carro (Lambert estava na Alemanha; Luc estivera no jornal)... A questão era saber o que o teria feito percorrer 225 quilômetros... Na sala de redação encontrou o rapaz.
Subitamente, Henri recordou-se de uma matéria do France-Soir sobre o assassinato do doutor Baumal, um suspeito de ter trabalhado para a Gestapo, mas estava livre de processo judicial, benefício concedido pelo tribunal. Este Maumal vivia em Attichy, localizada a aproximadamente 100 quilômetros de Paris. Henri notou que Vincent havia sorrido ao ouvir, no Bar Rouge, o comentário dele mesmo sobre o artigo do France-Soir... Assim relacionou o comportamento de Vincent à quilometragem do carro.
Henri convidou-o para beber algo e iniciaram a conversa... Ele foi logo querendo saber se o rapaz havia pego o carro. Vincent respondeu que não, e disse que Henri só poderia estar enganado a respeito dos algarismos... Além disso, a desconfiança gerava um mistério sem a menor importância...

Então Vincent perguntou se o certo era filiar-se ao SRL... Henri disse que atirar contra “patifes mal conhecidos” não era mais nobre do que o comportamento da direita... Vincent citou Lachaume para justificar as críticas ao SRL, e Dubreuilh para justificar as críticas ao PC...
Vincent disse que não mais usaria o carro. Henri disse que isso era o que menos importava... Vincent quis saber se ele não iria ao Marconi, pois todos gostariam de sua presença... Henri deu a desculpa de que tinha muito serviço...
Então seguiu lamentando o fato de nem ele, nem o jornal ou o SRL, poderem oferecer alternativa de engajamento ao rapaz, que seguia se embriagando após cada assassinato que cometia (já somava 12 execuções).
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/08/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_17.html...
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto