As leituras de “A menina que roubava livros”, “Caçadores de pipas” e muitas outras foram proporcionadas por essa troca... Não vamos atrás dos best sellers, mas essas generosidades acabam colocando-os em nossas mãos. Foi isso que aconteceu com o Tempo de Esperas, do padre Fábio de Melo... Mais um livro que me foi emprestado pela Lourdes (minha irmã parapsicóloga que aparece ali entre os seguidores).
Quero registrar aqui o porquê de ter decidido partilhar a história e as mensagens que seguiram... Foram muitas postagens... Livro de narração é simples... Leitura fácil mesmo... Viram-me com ele e ouvi que se tratava de “livro de padre”, “autoajuda”, essas coisas... Pelo menos de minha parte, não foi com essa perspectiva que decidi escrever sobre ele... Nem o blog tem essa característica, já que ele permanece mais como continuador daquelas “antigas anotações”, produto de leituras (como nos velhos tempos).
O conteúdo deste Tempo de Esperas instiga e nos leva a refletir sobre nossas vivências. O percurso de Alfredo é o de muitos estudantes (especialmente os de Filosofia)... Os estudos que iniciam parecem “divisores de águas” de suas existências... Eles os levam a questionar o modo de viver que até então experimentavam. Sua “visão de mundo” muda sensivelmente. Sentem-se conduzidos ao desprezo a tudo o que seja senso comum e simples demais... Lá se vão os laços de família, os aprendizados que forjaram sua infância, vínculos religiosos...
É muito difícil segurar o ímpeto dos mais jovens que se rebelam com as estruturas tradicionais (família, escola, igreja...), principalmente aqueles que acreditam ter encontrado a “verdade numa Filosofia”... Amargurados e cheios de razão, distanciam-se de seu “eu verdadeiro”, desorientados, não conseguem se resgatar.
Fábio de Melo apresenta-nos a situação do jovem intelectual que acreditou ter encontrado o “grande amor de sua vida”, Clara, a pessoa que o completaria... Ele tem suas ambições e entende que a veneração dos que o cercam deva ser consequência natural. Para ele, quanto mais se tornar o “porto seguro” e centro das atenções de Clara, tanto mais se tornará realizado... Então, fundamentado em seus estudos, pretende ser para ela aquele que esclarece suas dúvidas e explica-lhe todos os mistérios da vida.
Mas nem os seus esforços para apresentar-se um tipo seguro em seu racionalismo conseguiram evitar a separação... Isso o deixou amargurado, derrotado... A trama marcada pela “fuga” de Clara com o florista serviu para Alfredo experimentar seu “ressurgimento”. É Abner (Alfredo não sabia que ele era o pai de Clara), o intelectual admirado pelo jovem, quem se intromete na situação... E se torna o seu "orientador"... Fez isso porque via que a relação do casal poderia ser salva... Há a inevitável correspondência entre os dois e, conforme ela flui, verifica-se o aprendizado de Alfredo.
Abner vive seus últimos dias... O rapaz não sabe, mas aquele que admira como modelo intelectual ideal tem muito a dizer sobre os equívocos de seu racionalismo egocêntrico exacerbado... A partir da experiência que ele mesmo acumulou, sugere o cultivo do jardim... Algo bem simples... E é no cotidiano lidar com a terra, sementes, plantas e flores que Alfredo trilhou a transição para a sabedoria... Ali experimentou o “tempo das esperas”... Aprendeu que “há vitória nas derrotas”, que nossas vidas são de perdas que devem ser superadas para que o novo ocorra... No jardim valorizou a “personalidade das flores”, e passou a respeitar a sabedoria dos que são simples, e a dar importância aos vínculos familiares.
Particularmente, cultivo um pequeno jardim (um canteirinho) que possibilita o contato com um gramado, plantas, flores e visitas de pássaros... Concordo com os ensinamentos do velho professor... Inclusive sobre como somos tentados a mergulhar em certos “projetos intelectuais” que, analisados profundamente, são esvaziados de sentido e camuflam “frustrações indizíveis”...
Leia: Tempo de Esperas. Editora Planeta.
Um abraço,
Prof.Gilberto