quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Tempo de Esperas, de Fábio de Melo (PE.) – últimas considerações

Não é preciso encontrar motivos para ler... Se os procurarmos, elencaremos muitos. Normalmente escolhemos os livros, pois já temos gosto e interesse específico por determinados temas. Não poucas vezes, textos chegam às nossas mãos sem que fôssemos atrás deles... É muito comum descartar esses porque já estamos comprometidos com outros conteúdos. Em nosso convívio sempre há leitores que dão dicas sobre algo que leram... Insistem para que reservemos um tempinho para a sugestão... Isso propicia troca de ideias, é saudável... Acontece diversas vezes... O saldo é positivo.
As leituras de “A menina que roubava livros”, “Caçadores de pipas” e muitas outras foram proporcionadas por essa troca... Não vamos atrás dos best sellers, mas essas generosidades acabam colocando-os em nossas mãos. Foi isso que aconteceu com o Tempo de Esperas, do padre Fábio de Melo... Mais um livro que me foi emprestado pela Lourdes (minha irmã parapsicóloga que aparece ali entre os seguidores).
Quero registrar aqui o porquê de ter decidido partilhar a história e as mensagens que seguiram... Foram muitas postagens... Livro de narração é simples... Leitura fácil mesmo... Viram-me com ele e ouvi que se tratava de “livro de padre”, “autoajuda”, essas coisas... Pelo menos de minha parte, não foi com essa perspectiva que decidi escrever sobre ele... Nem o blog tem essa característica, já que ele permanece mais como continuador daquelas “antigas anotações”, produto de leituras (como nos velhos tempos).
O conteúdo deste Tempo de Esperas instiga e nos leva a refletir sobre nossas vivências. O percurso de Alfredo é o de muitos estudantes (especialmente os de Filosofia)... Os estudos que iniciam parecem “divisores de águas” de suas existências... Eles os levam a questionar o modo de viver que até então experimentavam. Sua “visão de mundo” muda sensivelmente. Sentem-se conduzidos ao desprezo a tudo o que seja senso comum e simples demais... Lá se vão os laços de família, os aprendizados que forjaram sua infância, vínculos religiosos...
É muito difícil segurar o ímpeto dos mais jovens que se rebelam com as estruturas tradicionais (família, escola, igreja...), principalmente aqueles que acreditam ter encontrado a “verdade numa Filosofia”... Amargurados e cheios de razão, distanciam-se de seu “eu verdadeiro”, desorientados, não conseguem se resgatar.
Fábio de Melo apresenta-nos a situação do jovem intelectual que acreditou ter encontrado o “grande amor de sua vida”, Clara, a pessoa que o completaria... Ele tem suas ambições e entende que a veneração dos que o cercam deva ser consequência natural. Para ele, quanto mais se tornar o “porto seguro” e centro das atenções de Clara, tanto mais se tornará realizado... Então, fundamentado em seus estudos, pretende ser para ela aquele que esclarece suas dúvidas e explica-lhe todos os mistérios da vida.
Mas nem os seus esforços para apresentar-se um tipo seguro em seu racionalismo conseguiram evitar a separação... Isso o deixou amargurado, derrotado... A trama marcada pela “fuga” de Clara com o florista serviu para Alfredo experimentar seu “ressurgimento”. É Abner (Alfredo não sabia que ele era o pai de Clara), o intelectual admirado pelo jovem, quem se intromete na situação... E se torna o seu "orientador"... Fez isso porque via que a relação do casal poderia ser salva... Há a inevitável correspondência entre os dois e, conforme ela flui, verifica-se o aprendizado de Alfredo.
Abner vive seus últimos dias... O rapaz não sabe, mas aquele que admira como modelo intelectual ideal tem muito a dizer sobre os equívocos de seu racionalismo egocêntrico exacerbado... A partir da experiência que ele mesmo acumulou, sugere o cultivo do jardim... Algo bem simples... E é no cotidiano lidar com a terra, sementes, plantas e flores que Alfredo trilhou a transição para a sabedoria... Ali experimentou o “tempo das esperas”... Aprendeu que “há vitória nas derrotas”, que nossas vidas são de perdas que devem ser superadas para que o novo ocorra... No jardim valorizou a “personalidade das flores”, e passou a respeitar a sabedoria dos que são simples, e a dar importância aos vínculos familiares.
Particularmente, cultivo um pequeno jardim (um canteirinho) que possibilita o contato com um gramado, plantas, flores e visitas de pássaros... Concordo com os ensinamentos do velho professor... Inclusive sobre como somos tentados a mergulhar em certos “projetos intelectuais” que, analisados profundamente, são esvaziados de sentido e camuflam “frustrações indizíveis”...
Leia: Tempo de Esperas. Editora Planeta.

Um abraço,
Prof.Gilberto

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