Aquela foi a última carta de Abner a Alfredo.
Sobre os seus registros podemos destacar ainda:
Ele explicou que Clara lhe contou sobre a admiração que sentia pelo amigo, mas via com preocupação o fato de ele não apreciar as coisas simples... E simplicidade é o que ela havia herdado de Flora. A moça estudava artes em Paris e conheceu Alfredo durante as férias. Estava indecisa se retornaria aos estudos... Toda história sobre como se conheceram na livraria e tudo o que se passava com o casal, Clara relatou ao pai. Foi assim que ele ficou sabendo do desencanto dela em relação à conclusão de que a projeção inicial sobre ele havia se tornado irreal devido à sua insistência em encontrar respostas a todos os problemas do mundo... Isso a deixou muito assustada.
Depois de ouvir a filha sobre as incompatibilidades que afloravam em seu relacionamento com Alfredo, Abner sugeriu que ela não o procurasse mais... Ele sabia que, para ela, o “admirar as estrelas" valia mais que o "muito explicar e dizer” de Alfredo.
O fato é que Clara retornou a Paris. Imitando a sua letra, Abner mesmo escreveu o bilhete sobre sua decisão de “desaparecer com o florista”. O professor revela que fez isso tentando ajudar, pois sabia que embora Clara tivesse feito a coisa certa, seu amor por Alfredo ainda permanecia. Com essa convicção em mente, Alfredo acertou detalhes com o amigo Lamartine, o professor que tinha acesso ao moço... A história do “manuscrito inédito” também foi inventada como artifício para atrair Alfredo à correspondência com o renomado Abner.

Clara chegaria em breve e procuraria Alfredo para tratar da relação. Então Abner solicitou que o amigo não revelasse nada sobre a correspondência que trocaram ou sobre o cultivo do jardim.
Ele explicou também que havia sido diagnosticado nele o mesmo câncer que vitimou Flora. Resolveu que “trataria” a doença em casa... Contava com poucos dias para a finalização de sua existência material... Morreria reconciliado consigo mesmo. Clara sofria com essa situação e pretendia retornar o quanto antes, mas ele a impediu... Com isso esperava que o jardim de Alfredo florescesse... Clara se surpreenderia com ele.
No final de seu texto, Abner revela que Clara era o “raio de sol” que visitaria Alfredo...
Seu fim se aproximava, lamentava não conhecer o rosto do amigo, que considerava um filho... Mas aos seus cuidados deixaria Clara, e o jardim que cultivou em memória de Flora.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/08/tempo-de-esperas-de-fabio-de-melo-pe-o_17.html
Leia: Tempo de Esperas. Editora Planeta.
Um abraço,
Prof.Gilberto