quinta-feira, 9 de agosto de 2012

"Os Mandarins", de Simone de Beauvoir. Dubreuilh consegue financiamento para L’Espoir; está difícil manter a independência do periódico

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/08/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_2.html antes de ler esta postagem:

Depois da conversa com Lambert, vemos Henri de volta ao estúdio. Paule pergunta sobre o “romance alegre” (aquele “texto gratuito” que ele vinha tentando escrever desde que retornara de Portugal)... Ele disse apenas que “está caminhando”.
Envolvido em suas reflexões, não apreciava a proximidade de Paule ao mesmo tempo em que percebia que o texto não destravava... Folhas em branco à mão, vinha pensando que situaria sua história em 1935, mas havia a incômoda certeza de que havia mudado muito desde então... Não seria fácil relatar os sonhos de dez anos atrás... Quantas folhas! Talvez fosse melhor escrever sobre o momento presente.
Mas isso também se revelava complicado. Inúmeras questões vinham-lhe à mente... Tinha mesmo algo a dizer?Interessava-se pelos outros e em um cenário em que as pessoas pudessem pensar melhor? Será que pensava apenas em satisfazer sua própria consciência? A ideia do romance não seria apenas um objetivo de “sonhador humanitário”?
Tudo isso o deixou decepcionado... E irritou-se ao notar que Paule estava nas proximidades, testemunhando que nada escrevia. Ela estava deitada e já sonolenta. Henri passou a cobrar uma atitude dela sobre o retorno às atividades artísticas. Quis saber se ela procuraria Grépin na manhã seguinte. Disse que a música de Bergère era um encanto, que Sabririo a ouviria para uma avaliação... Então, em vez de cochilar, por que não treinar a voz e preparar-se? Paule desconversou... Falou que compareceria aos compromissos acertados por Henri. Mas ficava evidente que não participaria da audição...
Meia noite e dez... A caneta não deixava nenhum registro nos papéis onde Henri esperava rascunhar o romance... Paule cochilava um pouco mais profundamente. Ela despertou com as batidas na porta... Era Dubreuilh... Henri viu-se libertado de sua tarefa.
Robert estava animado e já foi ocupando a poltrona onde normalmente se instalava. Henri se mostrou disposto a uns tragos e Paule trouxe uma garrafa de conhaque. Dubreuilh anunciou que dinheiro não seria mais problema para que L’Espoir se tornasse um jornal do SRL... Contou que por intermédio de Samazelle, entrou em contato com Trarieux, um rico comerciante de sapatos, que estava disposto a garantir o financiamento... Inclusive para o meeting (um comício) que o SRL faria em junho...
Este Trarieux não era desconhecido do pessoal da Resistência, ele até havia participado moderadamente... Mas Henri mostrou-se desconfiado e não se sentia à vontade com a felicidade estampada no rosto de Robert. Dubreuilh seguiu falando da proeza de Samazelle, que sabia convencer tipos como Trarieux. De qualquer forma, em relação aos argumentos sobre a associação de L’Espoir ao SRL, Robert estava em vantagem.
Henri estava se convencendo, pois sabia que cedo ou tarde todos os veículos de comunicação precisariam contar com algum financiamento... Todavia procurava não demonstrar nenhum entusiasmo. A mesma conversa sobre a importância da aliança veio à tona. Henri argumentou que a aceitação do dinheiro do outro poderia significar intromissões nos editoriais... De sua parte, Robert garantiu que isso não ocorreria de forma alguma... Inclusive ofereceu a Henri a possibilidade de ligar para Trarieux e conferir ele mesmo. O encontro foi encerrado logo que Henri disse que precisaria conversar com Luc.
Robert Dubreuilh estava de saída, mas convidou Paule para a noite... Ela dispensou e, tão logo ele se retirou, disparou sua não concordância em relação à aliança que estava prestes a se firmar. Indignada, proferiu duras palavras contra Robert... Lamentou o fato de Henri ter de se sujeitar a ele... Henri ponderava que não era bem assim, pois além de fundador de L’Espoir, era membro do SRL... Paule lamentava também o fato de, em se concretizando a parceria, Henri se afastar cada vez mais do cotidiano que o realizava intelectualmente... Dedicando-se à política, dificilmente escreveria seus romances...
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/08/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_11.html...
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.

Um abraço,
Prof.Gilberto

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