quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

O Pequeno Príncipe - fragmentos selecionados - Antoine de Saint-Exupéry


Por hoje estou deixando esses fragmentos de O Pequeno Príncipe. Eles foram selecionados pela professora Mariana Sales, por ocasião do Módulo “Trabalho e Cidadania”, em curso da Unicamp, que ministrou... Depois vou destacar uma questão que ela elaborou e a resposta que formulei àquela época (outubro de 2007).


Seguem os fragmentos:

O quinto planeta era muito curioso. Era o menor de todos. Mal dava para um lampião e o acendedor de lampiões... O principezinho não podia atinar para que pudessem servir, no céu, num planeta sem casa e sem gente, um lampião e o acendedor de lampiões. No entanto, disse consigo mesmo:

– Talvez esse homem seja mesmo absurdo. No entanto, é menos absurdo que o rei, que o vaidoso, que o homem de negócios, que o beberrão. Seu trabalho ao menos tem um sentido. Quando acende o lampião, é como se fizesse nascer mais uma estrela, mais uma flor. Quando o apaga, porém, é estrela ou flor que adormecem. É uma ocupação bonita. E é útil, porque é bonita.

Quando abordou o planeta, saudou respeitosamente o acendedor:

– Bom dia. Por que acabas de apagar teu lampião?

– É o regulamento, respondeu o acendedor. Bom dia.

– Que é o regulamento ?
– É apagar meu lampião. Boa noite. E tornou a acender.

– Mas por que acabas de o acender de novo?

– É o regulamento, respondeu o acendedor.

– Eu não compreendo, disse o principezinho.

– Não é para compreender, disse o acendedor. Regulamento é regulamento. Bom dia.

E apagou o lampião.

Em seguida enxugou a fronte num lenço de quadrinhos vermelhos.

– Eu executo uma tarefa terrível. Antigamente era razoável. Apagava de manhã e acendia à noite. Tinha o resto do dia para descansar e o resto da noite para dormir...

– E depois disso, mudou o regulamento?

– O regulamento não mudou, disse o acendedor. Aí é que está o drama! O planeta de ano em ano gira mais depressa, e o regulamento não muda!

– E então? disse o principezinho.

– Agora, que ele dá uma volta por minuto, não tenho mais um segundo de repouso. Acendo e apago uma vez por minuto!

– Ah! que engraçado! Os dias aqui duram um minuto!

– Não é nada engraçado, disse o acendedor. Já faz um mês que estamos conversando.

– Um mês ?

– Sim. Trinta minutos. Trinta dias. Boa noite. E acendeu o lampião.

O principezinho considerou–o, e amou aquele acendedor tão fiel ao regulamento. Lembrou–se dos pores–do–sol que ele mesmo produzia, recuando um pouco a cadeira. Quis ajudar o amigo.

– Sabes ? Eu sei de um modo de descansar quando quiseres...

– Eu sempre quero, disse o acendedor.

Pois a gente pode ser, ao mesmo tempo, fiel e preguiçoso.

E o principezinho prosseguiu:

– Teu planeta é tão pequeno, que podes, com três passos, dar–lhe a volta. Basta andares lentamente, bem lentamente, de modo a ficares sempre ao sol. Quando quiseres descansar, caminharás... e o dia durará quanto queiras.

– Isso não adianta muito, disse o acendedor. O que eu gosto mais na vida é de dormir.

– Então não há remédio, disse o principezinho.

– Não há remédio, disse o acendedor. Bom dia. E apagou seu lampião.

Esse aí, disse para si o principezinho, ao prosseguir a viagem para mais longe, esse aí seria desprezado por todos os outros, o rei, o vaidoso, o beberrão, o homem de negócios. No entanto, é o único que não me parece ridículo. Talvez porque é o único que se ocupa de outra coisa que não seja ele próprio.

Suspirou de pesar e disse ainda:

– Era o único que eu podia ter feito meu amigo. Mas seu planeta é mesmo pequeno demais. Não há lugar para dois...


Um abraço,
Prof.Gilberto
Leia: O Pequeno Príncipe. Editora Agir.

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