sábado, 18 de dezembro de 2010

João Cândido e a Revolta da Chibata - Cem Anos

A Revolta da Chibata foi um movimento de resistência de marinheiros. Um de seus líderes foi João Cândido Felisberto.

A maioria aí já ouviu falar desse episódio, que teve início em novembro de 1910. Os marinheiros se revoltaram e exigiram o fim das chibatadas, o fim dos castigos corporais. Pode parecer um absurdo, mas era assim mesmo... Havia castigos corporais aos marinheiros acusados de atos de indisciplina.


Os oficiais graduados da Marinha brasileira eram oriundos das famílias mais abastadas, quer dizer, das famílias de brancos ricos. Já a marujada era recrutada entre os mais pobres, normalmente os descendentes dos ex-escravos. Esse também era o caso de João Cândido. O recrutamento para a Marinha, inclusive, era considerado um castigo para jovens que não se “comportavam bem” na sociedade. Está claro que os negros eram a maioria entre esses, que cumpriam com as tarefas mais pesadas nas embarcações.

Os marinheiros estavam cansados daquela situação. Não fazia muito tempo que a Marinha brasileira havia participado das festividades do centenário das lutas de independência do Chile. Infelizmente os episódios festivos foram marcados por uma série de castigos para eles... Então, motivos não faltavam, eles estavam acertando um movimento para exigir o fim dos castigos físicos. Os fatos se precipitaram a 16 de novembro, por ocasião das celebrações de posse do presidente Hermes da Fonseca. Os marinheiros se revoltaram porque na madrugada deste dia tiveram de assistir à punição sofrida por Marcelino Rodrigues Menezes (250 chibatadas)...

Durante a Revolta os marinheiros liderados por Cândido tomaram as principais embarcações do país, incluindo os couraçados São Paulo e Minas Gerais. Disparos em direção à capital (Rio de Janeiro) foram realizados... Os marinheiros clamavam “abaixo a chibata!”. Percebendo a coesão e o poder de fogo dos rebelados, o governo partiu para a negociação... Mas traiu as lideranças, que foram aprisionadas na ilha das Cobras. Mais tarde foram anistiados, e esse foi o caso de João Cândido, que sobreviveu a um incêndio no presídio. Após a liberdade, sofreu diversos tipos de perseguição, sem conseguir viver com dignidade. Ele morreu em 1969, aos 89 anos, quando ainda trabalhava nas docas da Praça XV... Anos depois foi relembrado como o “Almirante Negro” da Revolta da Chibata, e imortalizado na canção O Mestre-Sala dos Mares, de João Bosco e Aldir Blanc.

Em O Estado de São Paulo deste sábado, a professora Lilia Moritz Schwarcz (Antropologia, USP) escreve artigo sobre a centenária Revolta e sobre dois livros lançados em sua memória (João Cândido, do jornalista Fernando Granato; e João Cândido - O Almirante Negro, escrito por Alcy Cheuiche).

Um abraço,
Prof.Gilberto

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