sábado, 4 de dezembro de 2010

A Ideologia - Considerações sobre A Consciência Ingênua - Ari Herculano de Souza

Hoje estou postando essas considerações que fiz há muitos anos. Até “onde” consigo lembrar, faz uns 19 anos que a utilizei pela primeira vez... Retomei este texto em várias outras ocasiões, inclusive neste ano.

A Ideologia, livro de Ari Herculano de Souza é de fácil compreensão... Fiz essas considerações sobre a Consciência Ingênua, que está logo no começo, e também de outros textos do Ari que vão nos ajudando a entender o que é Ideologia...

Posso dizer que é um assunto que sempre rende muitas discussões. Para as próximas ocasiões prometo postar outras considerações de texto do mesmo livro com algumas questões e comentários.

A CONSCIÊNCIA INGÊNUA


Muitas vezes falamos que é preciso ter consciência. Dizemos que é “importante sermos conscientes sobre isso ou sobre aquilo”. Também é muito comum ouvirmos que o conhecimento está nas escolas, nos laboratórios e nas palavras dos doutores engravatados. Além disso, ouvimos que “é preciso estudar para ser alguém na vida”, ou ainda que “até para trabalhar de faxineiro precisa-se de um diploma”.

Acontece que o conhecimento é um produto de nossa vida em constante relação com as pessoas e com o mundo. E, também, conforme vivemos no mundo e nos relacionamos com ele, vamos conhecendo. Somos sujeitos de transformação do mundo, só que não agimos sozinhos e sim nos relacionando com toda a sociedade. É nessa constante relação com os outros e com o mundo que se manifesta a consciência.

A consciência é uma característica própria da pessoa humana. Tomar consciência depende de nossas relações com o mundo. Existiram e existem diferentes tipos de consciência.

Entre as sociedades mais primitivas existe uma compreensão bem limitada do mundo, isso as leva a explicá-lo pela fantasia, pelo mágico, pelo fantástico. Esta compreensão limitada é uma forma de tomar consciência da realidade: podemos chamá-la de consciência ingênua.

Esta consciência é uma forma de aceitar o mundo passivamente, sem se preocupar em refletir sobre a realidade das coisas. Essa consciência ingênua se satisfaz em se submeter às crenças, às explicações preconcebidas, às verdades inquestionáveis (dogmas), à aceitação das aparências. Ela (a consciência ingênua) apenas “vê” os fatos sem se preocupar em analisá-los. O indivíduo de consciência ingênua simplesmente “aceita as coisas”. Para ele, as coisas estão apenas acontecendo no mundo. Ele não se sente como alguém que pode agir sobre os fatos, imprimir-lhe resultados.

Uma forma de consciência ingênua é aquela em que a pessoa “vê e aceita” os fatos, não tenta explicá-los ou compreendê-los... O indivíduo trabalha a vida toda e vive na miséria. Ele aceita isso sem questionar, acha mesmo que o seu trabalho não produz bem estar, só miséria, então, para ele, tudo bem.

Outra forma de consciência ingênua é aquela em que o indivíduo quer explicar o mundo, e as coisas que nele acontecem, apenas a partir de sua visão, sem considerar outras possibilidades. Ou, ainda, quando aceita qualquer explicação que lhe é imposta. Sua curiosidade é satisfeita a partir de explicações que se resumem a “frases feitas”. Por exemplo: “Os alunos não aprendem porque são burros”; “Tinha de ser um negro!”; “Estude para progredir na vida”; “Se é Bayer é bom”, etc.

Existe ainda a consciência ingênua que atribui às forças divinas, extraterrenas ou mágicas as explicações dos fatos do dia-a-dia. Por exemplo: “O Brasil vai melhorar porque Deus é brasileiro”; “Deus quis assim”; “O filho nasceu doente, foi castigo de Deus”; “Papai Noel não esquece ninguém”; “Somos pobres porque Deus quer”.


Leia: A Ideologia. Editora do Brasil.

Páginas