Depois que Chumbinho presenciou a discussão de Caspérides com o Doutor Q.I. no meio da noite, percebeu que seu papel de infiltrado na “Pain Control” era dos mais importantes...
Sabemos que o cientista teve de fugir da indústria e que havia se tornado o principal inimigo do projeto que ajudou a desenvolver... Chumbinho, que não havia ingerido a droga como as demais jovens cobaias humanas, retornou ao dormitório. Antes, porém, apoderou-se de caneta e papel de uma das salas pelas quais passou... O garoto pensava que, de algum modo, tinha de se comunicar com os “karas”. Mas não sabia como faria isso.
Chumbinho queria transmitir aos amigos que a droga fazia parte de um plano diabólico, e que o próprio bioquímico que a criou poderia se tornar um aliado do grupo... Mas não tinha a menor ideia de como proceder... Logo o dia amanheceria e ele teria de tomar uma decisão... Escreveria uma mensagem curta, em código, e com letras bem miúdas. Pensou nos vários códigos utilizados pelos “karas” e utilizou um que considerou de mais difícil decifração pelos criminosos...
Teve tempo de fazer os registros em uma tira de papel e de escondê-la no curativo que tinha no dedo (um enorme esparadrapo, que mais parecia um dedal, providenciado por sua mãe no corte feito por ocasião de sua “iniciação” no grupo)... Enquanto encaixava o curativo no dedo, um tipo chegou ao dormitório... Ele fingiu dormir como os demais e percebeu que se tratava de um funcionário de avental branco que trazia bandeja com novo reforço da droga... O tipo ordenou que todos se levantassem, e isso aconteceu automaticamente... Depois disse que deveriam tomar os comprimidos e se dirigirem ao banheiro, pois logo teriam muita atividade.
(...)
Podemos perceber que o pessoal da “Pain Control” não se importava muito
com a vigilância quando a tarefa era ministrar o reforço da droga... As cobaias
idiotizadas seguiam as ordens sem o menor desvio... E é por isso que, logo
depois de ter dado a ordem, retirou-se para “cuidar de outra coisa qualquer”.
Como se fossem autômatos, os jovens estudantes se
colocaram em fila para ingerir a “droga maldita”... Chumbinho fez o mesmo, mas
em vez de um comprimido, pegou dois e os escondeu em seu macacão...
Disfarçadamente amaçou uma tirinha de papel que havia sobrado e a depositou na
bandeja. Ele notou que justamente o Bronca tomou posse da bolinha de papel, que
ingeriu como se fosse um dos comprimidos.
(...)
Aconteceu o que Chumbinho já previa... Ele esperava mesmo que, se não
fosse ministrado um reforço da droga para as cobaias, elas logo deixariam o
estado idiotizado. O fato de Bronca ter ingerido o fragmento de papel em vez do
comprimido o tornaria consciente de tudo o que estava acontecendo... Para
Chumbinho isso significaria a companhia de um aliado para as próximas ações.
Mas as coisas não ocorreram da melhor forma.
(...)
Depois de engolir a droga, os jovens estudantes seguiram ao banheiro... Ali
não havia nenhuma divisão entre meninos e meninas, afinal eles estavam
completamente “coisificados”. Chumbinho notou que o Bronca começou a agitar-se
confusamente... Ele se aproximou imediatamente e quis explicar o que estava
acontecendo, mas o rapaz estava bem grogue e querendo saber o que estava fazendo
naquele lugar estranho...
A esperança de Chumbinho era que o outro despertasse completamente do
estado inconsciente, então perguntou se ele não se lembrava dele, do Bino, do
Elite... Disse que não tinham tempo para maiores explicações e que o mais
importante que ele devia saber era que havia sido drogado com a Droga da
Obediência que o tornara um “morto-vivo” como os demais que estavam ali...
O pequeno Chumbinho queria que Bronca entendesse
que ele só podia manter-se com autonomia naquele momento porque, em vez da
droga, engolira a bolinha de papel, então deveria fingir-se de drogado para
poderem traçar um plano de fuga juntos. Mas o rapaz não entendia nada e se mostrava
inconformado com a situação.
Bronca gritou com
Chumbinho, pediu que o deixasse em paz, pois queria sair dali... Dois
funcionários da “Pain Control” cuidavam da saída do banheiro, mas o Bronca
partiu para cima deles com violência... Chumbinho correu em sua direção, mas
não tinha como alcançá-lo, pois o garoto era forte e conseguia livrar-se dos
obstáculos com empurrões.
Já em carreira pelo dormitório, o Bronca foi atingido por um disparo de
arma de fogo de um tipo que ele havia lançado ao chão... Bronca estava morto...
Chumbinho alcançou-o quase sem conseguir controlar-se de tanta lamentação...
Teve tempo apenas de tirar o curativo de seu dedo e colocá-lo no dedo da ensanguentada
cobaia D.O.19.
É claro que uma nova confusão se estabeleceu na “Pain Control”.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/06/a-droga-da-obediencia-de-pedro-bandeira_21.html
Leia: A droga da obediência. Editora Moderna.
Um abraço,
Prof.Gilberto