Caspérides estava muito decepcionado... Não podia acreditar que a droga que ele havia criado (mas que sequer conhecia profundamente) estava sendo testada em humanos. Suas dúvidas eram inúmeras... Não havia como saber se a droga provocaria danos permanentes, se o código genético seria afetado, se comprometeria a descendência dos jovens...
O pesquisador começou a pensar no que fazer para impedir que o Doutor Q.I. continuasse com aquela loucura completamente contrária à ética dos cientistas.
(...)
Pela vidraça do laboratório, ele viu que os três
seguranças da “Pain Control” caminhavam em sua direção... Os tipos eram enormes
e truculentos... Caspérides não sabia os seus nomes e, como os conhecia de
vista, chamava-os em pensamento de “Coisa”, “Animal” e “Fera”. Apesar do cansaço
da noite insone, entendeu que aquela visita se relacionava à sua ousadia por se
contrapor ao Doutor Q.I.
Sem
tempo a perder, e considerando que os seguranças também não o conheciam, tirou
os óculos e tomou posse de uma vassoura... Não demorou e os três homenzarrões
invadiram o laboratório... O tipo que Caspérides chamava e Animal perguntou-lhe
onde estaria o doutor “Caspa não sei o quê”.
O
improvisado disfarce funcionou, já que nem deram conta de que o faxineiro com o
qual falavam era exatamente quem procuravam... Varrendo o chão, Caspérides
respondeu que o doutor passara a noite em claro e que naquele momento estava no
laboratório de engenharia genética. Disse isso e apontou para o fim do
corredor... Enquanto os seguranças se encaminhavam para lá, Caspérides saiu de
fininho.
(...)
Ele
mesmo sabia que não seria fácil deixar os domínios da “Pain Control”... Tinha
certeza de que a portaria principal já estava em alerta e aguardando a sua
saída para detê-lo.
O
momento em que o bioquímico deixava a indústria era de chegada e saída de
funcionários... Ele sabia que se se colocasse entre os que se dirigiam para
fora seria mais facilmente detectado... Então improvisou um artifício simples,
mas que funcionou: posicionou-se no meio das pessoas que estavam de frente para
o interior da fábrica, mas os seus passos o levavam para fora porque andou para
trás... De repente viu que estava na rua e, sem demora, entrou no primeiro
ônibus que conseguiu. Ao olhar para trás notou o Coisa, o Animal e o Fera
apontando em sua direção...
(...)
O
ônibus teve de parar bruscamente. Em pleno centro da cidade o veículo que
conduzia os perseguidores bloqueou sua passagem. Caspérides não teve dúvida e
saiu do coletivo pela janela... Coisa, Animal e Fera dispararam em sua captura,
mas para eles a situação também não era das mais fáceis... Tiveram de correr
entre transeuntes apressados e passar pela agitada Rua da Quitanda. Quando
chegaram à 15 de Novembro o fluxo de pessoas praticamente se interrompeu...
Havia um alvoroço porque um banco estava sendo assaltado naquele mesmo momento,
e a polícia agia em meio ao aglomerado... No meio da confusão dos seguranças da
“Pain Control” ficaram sabendo da ocorrência em que o perigoso e procurado
assaltante “Zé da Silva” acabou detido...
O
episódio foi marcado pela movimentação de várias viaturas policiais... E sobrou
também para os três tipos que acabaram presos por serem flagrados armados em
meio ao tumulto. Eles foram colocados em um dos camburões e levados para a
delegacia... Em outra viatura, o perigoso “Zé da Silva” também seguia algemado.
(...)
Enquanto
essa confusão toda ocorria no centro da capital, num matagal de Taboão da Serra
um jovem era encontrado morto a tiros.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/06/a-droga-da-obediencia-de-pedro-bandeira_12.html
Leia: A droga da obediência. Editora Moderna.
Um abraço,
Prof.Gilberto