É claro que o corpo do jovem encontrado no matagal de Taboão da Serra se tratava da “Cobaia 6”, morto de exaustão no teste 141/06 nas dependências da “Pain Control”.
De fato, o modo como a indústria do Doutor Q.I. se livrou do cadáver envolvia mistério e requintes de crueldade.
Houve muita agitação com a notícia do encontro do Ricardinho Medeiros Tremembé... Muitos veículos da imprensa pararam em frente à delegacia e o detetive Andrade teve de suportar holofotes e perguntas.
(...)
O fato de o rapaz ter aparecido morto foi muito
lamentado... Os jornalistas queriam saber se o caso não se relacionava ao
Esquadrão da Morte, porque havia tiros espalhados por todo o corpo. Queriam
saber se o menino havia sido torturado e se a polícia não estava envolvida no
crime. Perguntaram também se Ricardinho pertencia a alguma quadrilha e se os
outros jovens sequestrados também apareceriam mortos.
O detetive não tinha como responder a tudo aquilo e entre os próprios
jornalistas alguém quis saber se era verdade que mais dois estudantes do Elite
tinham desaparecido... Logo os nomes de Miguel e Calu foram citados.
Andrade quis acalmar a todos dizendo que a polícia se
empenhava nas investigações, e que era bem provável que os meninos estivessem
se divertindo por aí. Um dos repórteres provocou ao dizer que aquilo era pouco
provável, já que se sabia que na casa de Calu um desconhecido se apresentou
como criado da casa para a própria polícia... Sem muita firmeza, Andrade
respondeu que estavam investigando.
(...)
A notícia da morte de Ricardinho agitou os parentes dos demais
estudantes desaparecidos... Eles quiseram que a polícia esclarecesse de uma vez
por todas aqueles casos. Cercaram o detetive Andrade, e uma das mães quase o
agrediu fisicamente.
Diferentemente do chefe das investigações, o detetive Rubens se mantinha
completamente tranquilo. Ele até brincou com o chefe ao perguntar se ele tinha
conseguido responder satisfatoriamente às perguntas dos jornalistas... Antes
que Andrade tivesse tempo de proferir impropérios, o médico legista apareceu informando
que a autópsia do cadáver de Ricardinho já havia sido realizada.
(...)
As conclusões apontavam que o jovem havia morrido na tarde do dia
anterior, mas não se podia dizer que foram os tiros que lhe tiraram a vida.
Andrade esbravejou porque estava claro que a conclusão dava a entender, então,
que os criminosos pretenderam enganar a opinião pública montando um cenário
típico dos casos relacionados aos dos deixados pelos corruptos policiais do
Esquadrão da Morte...
É claro que Andrade quis saber do legista qual havia sido a causa mortis... Então ficou estarrecido
ao ouvir do médico que Ricardinho tinha morrido depois de um “esforço físico
exagerado”.
Desde meados da década de 1960 havia o Esquadrão da Morte formado por
policiais que se dedicavam ao justiçamento de tipos considerados “socialmente inconvenientes”
para ricos comerciantes e, em alguns casos, para o crime organizado. O
Esquadrão agia também em represália ao assassinato de policiais. Existiram Esquadrões da Morte em outros estados e sabe-se que durante certo período eles
atuaram em parceria com instituições de repressão política ao tempo da ditadura
militar no país.
(...)
Precisamos retornar ao esconderijo dos “karas”.
Os quatro estavam reunidos.
Magrí foi quem falou
sobre a repercussão dos últimos episódios... Calu achou graça daquela história
de os jornalistas pensarem que ele e Miguel também haviam sido sequestrados.
Miguel deu sua opinião dizendo que o detetive Andrade devia estar em sua
casa quando Calu ligou para lá imitando a sua voz... Era certo que o policial
sabia que ele não era um sequestrado, mas sim que devia estar escondido, e que
representava “um risco para o esquema todo”.
Crânio tocava a sua gaita e ouvia a conversa dos
amigos... Calu respondeu que não representavam risco algum, pois se limitavam a
se esconder como na brincadeira de “mocinhos e bandidos”... E o mais grave era
que cadáveres começavam a aparecer.
Foi neste ponto que o pensador do grupo interveio dizendo
que pensava diferente...
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/06/a-droga-da-obediencia-de-pedro-bandeira_18.html
Leia: A droga da obediência. Editora Moderna.
Um abraço,
Prof.Gilberto