Sempre fingindo estar sobre o efeito da droga, Chumbinho foi seguindo as orientações dos tipos brutamontes... Pensou se os amigos haviam chegado à “mensagem imunda” que ele deixou no banheiro... Não tinha a menor dúvida de que, se isso ocorresse, entenderiam o que ele “escreveu às pressas”.
(...)
Um dos que o conduziam esclareceu que a partir daquele momento ele seria
o número 20, e era assim que ele seria chamado. Aparentando ares de um perfeito
idiota, Chumbinho respondia afirmativamente, sempre obedecendo.Depois ele foi conduzido a uma sala em que um grande arquivo dominava o cenário... Um papel foi passado a uma funcionária, que começou a digitar dados em um computador... Ela sequer olhou para o menino.
Na sequência, entregaram-lhe roupas que deveria passar a usar... O garoto estava impressionado com a organização e limpeza do ambiente. Como sabiam exatamente o tamanho de seu calçado? O macacão azul coube-lhe direitinho!
Então, muito mais do que o pavor, que naturalmente deveria dominar um menino de sua idade, era a excitação pelas descobertas que mantinha a mente de Chumbinho aguçada... Assim, ele passou a ficar intrigado com a sigla D.O. bordada no macacão... O que ela significava?
(...)
Devidamente catalogado e uniformizado, levaram
Chumbinho a outra ampla sala... Ele pôde ver que na porta havia a identificação
D.O. – testes. Foi ali que encontrou
os demais jovens sequestrados, rapazes e moças... Todos com “fisionomias
abobadas”... Observou que cada um possuía a identificação no macacão...abobadas”... Observou que cada um possuía a
identificação no macacão... Reconheceu o Bronca e viu que ele era o D.O.19.Os “karas” se sentiriam orgulhosos de saberem que o “novo integrante do grupo” era tão destemido... Mas Chumbinho tinha a consciência de que podia fazer bem pouco na condição de extrema vigilância a que estava sujeito. Ele bem sabia que os demais prisioneiros não tinham a menor condição de pensar ou agir... A droga devia ser mesmo muito forte, pois levava o usuário à condição de idiotia total.
(...)
O rapaz que tinha a identificação D.O.6
às costas estava caído no chão... Em outra situação, o seu estado provocaria
apreensão dos demais... Um tipo de avental branco aproximou-se de uma tela que,
após alguns comandos, iluminou-se e apresentou uma silhueta humana... O de
avental, que bem lembrava um cientista de laboratório, se dirigiu à imagem
impossível de ser identificada falando sobre os resultados do “teste de
eficiência 141/06”...Chumbinho entendeu que os funcionários ali obedeciam ao Doutor Q.I., que
era quem estava por trás da imagem que se formava na tela... Sua voz era
produto de filtragens eletrônicas e isso também contribuía para o quadro
misterioso em torno de sua figura.
Conforme o tipo relatava sobre o teste, o garoto ficou sabendo o que
significava a sigla D.O. (Droga da
Obediência)... Constatou-se que ela aumentou assustadoramente o desempenho
físico da cobaia nº 6, que recebeu uma ordem e desempenhou sua tarefa sem
opor-lhe nenhum limite. O tipo de avental estava assustado e explicou ao chefão
que necessitariam estabelecer os níveis suportáveis de esforço a que cada
cobaia poderia ser submetida... A de nº 6 não demonstrou desejo de parar e
acabou morrendo.
A misteriosa voz não esboçou nenhuma reação ao
ouvir o relato. Respondeu que, em relação à perda da cobaia, deveriam “proceder
conforme haviam planejado”... Quis saber como a droga havia sido ministrada e o
outro respondeu que havia sido na forma de comprimidos, mas isso pouco
importava porque os seus efeitos eram os mesmos independentemente de ser
injetada, bebida ou aspirada...
Antes de a tela se apagar completamente, o Doutor Q.I.
deixou claro que o teste 141 deveria prosseguir na cobaia 11. Era necessário
saber o grau de eficiência da droga, mas alertou que a ordem deveria ser
suspensa em etapa anterior à sua extenuação para impedir a perda de novas
cobaias.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/06/a-droga-da-obediencia-de-pedro-bandeira_9.html
Leia: A droga da obediência. Editora Moderna.
Um abraço,
Prof.Gilberto