Temos de entender que aquele imenso lugar era uma indústria químico-farmacêutica chamada “Pain Control”. Sabemos que o misterioso Doutor Q.I. estava empenhado no desenvolvimento da Droga da Obediência, e que ninguém tinha acesso físico a ele ou sabia de sua verdadeira identidade... Afinal ninguém sabia sequer em qual ambiente da fábrica ele se instalava... O acesso a ele se restringia às telas (havia várias delas)... Mas, em vez da voz e imagem reais, o que se via e ouvia eram sua silhueta e fala “filtrado eletronicamente”.
(...)
Caspérides acionou uma das telas para se comunicar com o chefe... Chumbinho
concluiu que o cientista estava desenvolvendo a Droga, mas não conhecia ainda
todos os seus efeitos, e nem sabia que o Doutor Q.I. tinha objetivos diferentes
dos seus...
O cientista não conseguia esconder sua
preocupação com os resultados obtidos nas últimas horas... Vacilava ao
responder às perguntas do Doutor Q.I., que se irritava com o nervosismo do
funcionário... Afinal, se as cobaias obedeciam aos comandos, o que havia de
errado?
Márius Caspérides imaginava que o patrão ficaria
aborrecido ao saber que os animais perdiam qualquer vontade e também a
iniciativa voluntária, já que, quando submetidos à droga, eles adotavam uma
postura como que de “máquinas à espera de comandos”.
Mas aconteceu que, para o Doutor Q.I., os resultados anunciados soaram
como música aos ouvidos...
Chumbinho percebeu a contradição...
Ele viu que Caspérides movia-se pela ética científica e não aceitava
comprometer a integridade da vida com uma droga tão perigosa... É que o seu
interesse inicial estava na busca de um tratamento para os casos mais agudos e
agressivos de loucura... Era com sinceridade que dizia que testes mais apurados
com “animais maiores” (orangotangos, cavalos, touros, ursos, leões...) seriam
necessários.
Neste ponto, o doutor Q.I. procurou fazer Caspérides concluir o seu
pensamento, e perguntou sobre a sua opinião a respeito da experiência com seres
humanos. O químico-farmacêutico refutou de pronto tal cogitação, pois estava claro
que o conhecimento que se tinha a respeito da droga não autorizava a
iniciativa. Então o enigmático chefe da “Pain Control” deixou claro que já
havia autorizado os testes da droga em humanos...
(...)
Chumbinho percebeu que Caspérides ficou completamente
estarrecido com aquela informação...
Sem saber o que dizer, o cientista perguntou se estavam fazendo
experiências com loucos... E foi só então que soube do próprio Doutor Q.I. que
a “Pain Control” fazia os teste da Droga da Obediência com jovens saudáveis...
É claro que Caspérides não pôde deixar de
advertir que aquilo não era um procedimento ético... Não havia um conhecimento
definitivo sobre a droga, que era muito perigosa... Além disso, nenhum médico “aplica
medicamentos em um corpo são”. Indignado, completou dizendo que não permitiria
que aquilo continuasse...
(...)
Mas para o Doutor
Q.I. aquelas palavras soaram cômicas... Disse que o especialista não era
ninguém para permitir ou impedir qualquer procedimento adotado pela “Pain
Control”... A empresa que financiava a pesquisa é que definia a “ética que
importava”...
Sem interesse em prosseguir a discussão, o poderoso e misterioso Doutor
Q.I. desligou a comunicação...
Enquanto a tela apagava-se à frente de Caspérides,
as lágrimas molhavam o seu rosto... Estava decepcionado, sobretudo porque se sentia
culpado pela tragédia provocada a inocentes jovens.
Também Chumbinho sentiu vontade de chorar... Manteve-se
firme como qualquer um dos “karas” certamente teria permanecido. Em vez de
lamentar-se, o garoto concluiu que deveria refletir mais sobre o que havia
presenciado... Com muita prudência, retornou ao dormitório.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/06/a-droga-da-obediencia-de-pedro-bandeira_11.html
Leia: A droga da obediência. Editora Moderna.
Um abraço,
Prof.Gilberto