sexta-feira, 1 de junho de 2012

Tempo de Esperas, de Fábio de Melo (PE.) - a "dor de amor" de Alfredo pode levá-lo ao autoconhecimento

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/05/tempo-de-esperas-de-fabio-de-melo-pe_24.html antes de ler esta postagem:

Abner esclareceu que reconhecia o desconforto sentido por Alfredo. Escreveu palavras bonitas sobre o amor e o conforto que sentimos quando somos reconhecidos pela pessoa amada... O aconchego é confortante e nos encaminha a um conhecimento outrora vago... Então queremos sempre a presença da outra pessoa. Junto a ela, o momento presente se torna prolongado e o futuro passa a ser “apenas um detalhe”. Todos desejamos essas sensações, e as queremos duradouras, mas quando perdemos aquele que amamos, nos sentimos esvaziados demais... Nas palavras de Melo “é como se uma ponte nos fosse retirada”; “o acesso terminou”.
Então Abner trata da situação particular de Alfredo, mostra que, com Clara, o outro não era mais solitário e seu presente era de tal intensidade que suas lacunas existenciais estavam sendo preenchidas... O futuro era pouco mais que um pormenor... A ausência sentida tornou imensas as lacunas em Alfredo... Assim, as suas angústias em relação ao futuro retornaram, só que com o peso dessa perda que ele não conseguia entender (“Sem ela não há presente, tampouco futuro”). Abner dá razão às palavras da mãe de Alfredo, de fato “só o amor é capaz de dar jeito nas pessoas”... Ele leva o outro a refletir sobre o desequilíbrio que enfrenta. Só o desejo filosófico, de buscar a verdade pela razão, não preencherá suas lacunas epistemológicas e as do coração... O professor sugere que o outro tem esse problema de se restabelecer para “voltar a sonhar o futuro”. Alfredo, então “sofria de amor”.
Mas Abner não relaciona essa “dor de amor” a “algo menor” ou desprezível. Ele registra em sua carta que trata-se de um momento fecundo para o outro, uma situação que pode levá-lo a um notável crescimento interior. A ausência da amada pode levá-lo a reflexões sobre o reconhecimento que pretendia no mundo acadêmico (ao lado da moça, isso nem pesava tanto...). Abner adverte conhecera muita gente que enveredara por certas carreiras apenas para resolver questões afetivas, satisfazer necessidades existenciais mais relacionadas a status em meio ao grupo ao qual pertenciam... Sem aptidão alguma para as metas que alcançaram, embora estivessem em “pedestais reveladores de seus títulos e conquistas”, frustraram-se ao se perceberem “não amadas”. A vida e os afazeres intelectuais eram apenas refúgio para aquelas pessoas, que tornaram-se extremamente amargas e arrogantes.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/06/tempo-de-esperas-de-fabio-de-melo-pe_02.html
Leia: Tempo de Esperas. Editora Planeta.

Um abraço,
Prof.Gilberto

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