Abner esclareceu que reconhecia o desconforto sentido por Alfredo. Escreveu palavras bonitas sobre o amor e o conforto que sentimos quando somos reconhecidos pela pessoa amada... O aconchego é confortante e nos encaminha a um conhecimento outrora vago... Então queremos sempre a presença da outra pessoa. Junto a ela, o momento presente se torna prolongado e o futuro passa a ser “apenas um detalhe”. Todos desejamos essas sensações, e as queremos duradouras, mas quando perdemos aquele que amamos, nos sentimos esvaziados demais... Nas palavras de Melo “é como se uma ponte nos fosse retirada”; “o acesso terminou”.

Mas Abner não relaciona essa “dor de amor” a “algo menor” ou desprezível. Ele registra em sua carta que trata-se de um momento fecundo para o outro, uma situação que pode levá-lo a um notável crescimento interior. A ausência da amada pode levá-lo a reflexões sobre o reconhecimento que pretendia no mundo acadêmico (ao lado da moça, isso nem pesava tanto...). Abner adverte conhecera muita gente que enveredara por certas carreiras apenas para resolver questões afetivas, satisfazer necessidades existenciais mais relacionadas a status em meio ao grupo ao qual pertenciam... Sem aptidão alguma para as metas que alcançaram, embora estivessem em “pedestais reveladores de seus títulos e conquistas”, frustraram-se ao se perceberem “não amadas”. A vida e os afazeres intelectuais eram apenas refúgio para aquelas pessoas, que tornaram-se extremamente amargas e arrogantes.
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Leia: Tempo de Esperas. Editora Planeta.
Um abraço,
Prof.Gilberto