sábado, 2 de junho de 2012

Tempo de Esperas, de Fábio de Melo (PE.) - reconhecer-se derrotado; encontrar as sementes do recomeço

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/06/tempo-de-esperas-de-fabio-de-melo-pe.html antes de ler esta postagem:

Para Abner, seria interessante Alfredo pensar nessas possibilidades (sua ansiedade em tornar-se alguém reconhecido por seus dotes intelectuais)... O seu caso poderia bem ser o daqueles que se agarram a realizações desse tipo para obter afagos e bajulações... Abner notou que o outro nunca refletira sobre a “pureza de seus ideais”. Ele registra que também se enganou nas buscas pessoais que realizou em diversas ocasiões. Revela também que já vivera dias em que buscava a vaidade de ser notado por pares, de quem esperava admiração.
O professor recorda de tempos dedicados às buscas de produções filosóficas para render-lhe prestígio... “Tempos perdidos”, segundo sua própria definição. Para ele, o momento de dor pelo qual Alfredo passava era especial. Ele deveria aproveitá-lo para interiorizar-se, auto avaliar-se, refletir sobre seus reais objetivos... Abner revela ao outro que “o rei está nu”. Cita frase de Ortega y Gasset, “eu sou eu e minhas circunstâncias”... O meio onde vivemos, as pessoas com as quais convivemos e os valores que importam à sociedade da qual participamos, interferem na formação de nossa personalidade.
A situação vivenciada por Alfredo era, nos dizeres de Abner, oportunidade para dar ao Ser “o abrigo que ele realmente necessita”... Possuía alguma sugestão? Viver despojadamente, na simplicidade da “resolução das possibilidades do Ser”... Afirmou ainda que há mais sabedoria no “lidar com os questionamentos” do que nas respostas que eventualmente encontramos para eles.
Abner retoma a ideia de Jardinagem e jardins... Afirma que a beleza e simplicidade estão atadas. As flores são belas e se ocupam apenas do que são, seu destino é florir... A realização é algo simples, pois não há desperdícios de força e energia... As flores não têm pretensões de durar mais que o seu tempo... Sua necessidade é o instante... Ele segue nesse raciocínio e conclui que não é por acaso que as pessoas mais felizes são as que vivem na simplicidade, pois não se perdem com complexidades...
Ele pediu desculpas por tratar desses assuntos relacionados a flores e jardins... Sabia que o outro lamentava perder o amor de sua vida para um florista. Neste ponto, Abner diz que a flor foi mais poderosa que as argumentações e estudos filosóficos... Pergunta se alguma vez Alfredo teria presenteado Clara com flores.
Nisso tudo há um tom não disfarçado de ironia. Certamente Alfredo, mais afeito aos textos filosóficos e suas problematizações, não teria dispensado para Clara “tratamento brindado a flores”. Abner o instiga a reconhecer que, muito provavelmente, perdera sua amada para alguém mais simples que ele, dotado da sensibilidade de oferecer uma “rosa recém-colhida”, mais significativa do que seus devaneios.
O texto de Abner quer fazer crer que a perda que Alfredo sentira era na verdade uma grande vitória. O seu sofrimento deveria se transformar numa nova motivação para a vida, pois a perda sempre esconde algum ganho. Abner registra sobre a sua própria dor e revela que, para continuar vivendo, teve de aprender a encará-la de frente como condição para continuar a viver. Sem entrar em maiores detalhes, afirma que “a dor é sua companheira”, adaptou-se a ela sem perder-se com racionalismos para explicá-la. Volta ao caso de Alfredo e sentencia que este deve ter paciência, notar que a filosofia não foi páreo para a simplicidade. O rapaz deve reconhecer-se derrotado, mas sem perder a coragem de encarar novos desafios e prosseguir a vida. O sofrimento deve ser passageiro, a perda que ele provoca poderá se transformar numa conquista se ele se mantiver a humildade daquele que sabe que “os frutos só são gerados se a semente morrer”.
Uma última orientação pode ser resumida na ideia de encararmos “os fantasmas” que nos afligem; eles “sobrevivem” de nossos medos.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/06/tempo-de-esperas-de-fabio-de-melo-pe_06.html
Leia: Tempo de Esperas. Editora Planeta.

Um abraço,
Prof.Gilberto

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