segunda-feira, 20 de julho de 2020

“Rei do Congo – A mentira que virou folclore”, de José Ramos Tinhorão – as lutas entre os rebeldes liderados por Mpangu a Kitina e os apoiadores de Mbemba a Nzinga; atuação dos portugueses com suas armas poderosas em favor de Mbemba a Nzinga; a narrativa do MPLA e a carta de D. Afonso I do Congo a D. Manuel; referências ao “Mayombe”; reatando as relações diplomáticas; um regimento para o reino do Congo


Com a morte de Nzinga a Nkuwu, o D. João do Congo, seu sobrinho Npangu a Kitina tornou-se
liderança entre os que pretendiam restaurar as antigas tradições... Por outro lado, Mbemba a Nzinga, filho do falecido manicongo, fiel aos portugueses, ao catolicismo e batizado com o nome cristão de D. Afonso, reuniu os apoiadores portugueses...
Evidentemente ocorreu uma luta entre as duas partes e o D. Afonso do Congo contou com a iniciativa de sua mãe, também cristianizada e batizada com o nome de D. Leonor, que se retirou do Sundi e seguiu para tomar o poder em Mbanza, a capital.
Os guerreiros aliados a Mpangu cercaram Mbanza com condições de derrotar os apoiadores de D. Leonor, pois estavam em maioria. Mas aconteceu que os portugueses possuíam armas mais poderosas e conseguiram afugentá-los... Houve ferrenha perseguição e as tropas fiéis ao D. Afonso provocaram matança sem precedentes, na ocasião Mpangu a Kitina foi atingido mortalmente.
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Em nota, Tinhorão esclarece que para a narrativa sobre os episódios desde a morte de Nzinga a Nkuwu recorreu ao “História de Angola”, particularmente ao “capítulo sobre o período afro-português no Congo”... O referido ensaio data de 1975, é uma produção coletiva de integrantes do MPLA (Movimento pela Libertação de Angola) e foi publicado inicialmente dez anos antes, em Argel.
À página 61 há o registro sobre a morte de Mpangu a Kitina em batalha...
Já D. Afonso, filho do manicongo convertido ao cristianismo, redigiu uma carta em 1513 ao então rei de Portugal, D. Manuel... Na missiva relatou que seu primo Mpangu foi preso “e por justiça julgado que morresse, como de fato morreu por se alevantar contra nós”.
Como se vê, o MPLA adotou uma versão que faz de Mpangu a Kitina um mártir morto em combate contra seu primo “traidor da gente africana”... 
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Neste ponto vale destacar que em “Mayombe” do escritor angolano Pepetela há um personagem guerrilheiro do MPLA chamado de Pangu-A-Kitina pelos demais. Certamente uma homenagem ao personagem histórico.
A ficção baseada em fatos nos ensina muito sobre o movimento armado pela independência de Angola em relação a Portugal, os dramas pessoais dos que se engajaram na luta e as dificuldades relacionadas ao tribalismo impregnado no modo de ser dos guerrilheiros. Além do combate aguerrido, o Pangu-A-Kitina do livro de Pepetela destaca-se pelos cuidados médicos que dispensava aos camaradas feridos.
Neste blog há postagens referentes ao “Mayombe”.
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D. Afonso I do Congo chegou ao poder... Podemos imaginar que as relações com Portugal tenderiam a melhorar sensivelmente, já que a sua afinidade com o cristianismo era de todos conhecida.
Porém, em vez disso, notou-se uma espécie de “esfriamento diplomático”... O final do século XV foi marcado pela coroação de D. Manuel, que sucedeu a D. João II no trono... Como sabemos, o novo reinado foi marcado por uma série de conquistas marítimas e pelo intenso comércio com a Índia.
Da parte de Portugal o interesse pela África se arrefeceu... Mas D. Afonso I do Congo decidiu retomar as conversações com o poderoso reino europeu.
Na memória de sua gente ainda se celebravam os presentes concedidos por D. João II ao rei congolês (“um requintado guarda-roupa da última moda europeia”) e a um seu enviado do Congo chamado pelo nome cristão de D. Pedro. Os registros do Visconde de Paiva Manso em “História do Congo” (1877) dão conta de que também a mulher do citado D. Pedro e muitos outros de sua comitiva receberam “diversas peças de vestuário” no final de dezembro de 1493.
Apenas em 1508 D. Manuel resolveu enviar uma missão constituída por doze religiosos ao reino do Congo... Tal iniciativa resultou em frustrada, já que os frades adoeceram de violenta febre e morreram logo que chegaram à África.
Sem perder tempo, D. Afonso I, o congolês, encaminhou nova embaixada comandada por seu primo, Pedro, para ter com D. Manuel...
Entre 1509 e 1511 funcionários do governo português elaboraram um regimento que deveria ser adotado pelo reino do Congo... A ideia era a de “revestir o Congo de um figurino europeu”.
Em 1512 a embaixada liderada pelo primo de D. Afonso retornou ao Congo com a novidade enviada pelos aliados portugueses.
Leia: Rei do Congo. Editora 34.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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