Na escadaria da igreja vemos o mendigo Barata...
Ele estendia o chapéu
para pedir esmola aos que chegavam. A noite era das mais concorridas, já que se
celebrava em honra da Virgem Santíssima. O pobre Barata avaliou a quantidade de
moedas que recebeu e se virou para o lado mais escuro dos patamares, onde
estava Alvarez em seus trajes de pedinte.
O amigo quis saber se ele não se dirigiria às pessoas... Alvarez parecia
deslocado. Barata perguntou se precisaria lhe “ensinar” e ele respondeu que “aprendemos
algo todos os dias”. O outro disse que achava que o companheiro nem apareceria
mais, já que havia dito que iniciaria uma nova vida.
Alvarez
respondeu que “a nova vida” havia fugido de seu lado... Não sabia o motivo... O
amigo perguntou se a sociedade lhe havia devolvido tudo o que lhe devia. Ele
respondeu afirmativamente, mas acrescentou que o que havia de mais importante
lhe fora retirado.
Mas por que deixou
que retirassem? As pessoas defendem aquilo que querem! Alvarez demonstrou que
entendia a opinião do amigo, mas destacou que não se pode lutar contra os
sentimentos, que são mais fortes do que as teorias.
(...)
Alvarez explicou que
ele mesmo havia aprendido há pouco. Então era por isso que ele havia voltado?
Não... Ele garantiu que se sentia coerente com a própria consciência. Não podia
dizer que a situação o alegrava, mas ao menos era um consolo... Acrescentou que
“a verdadeira riqueza consiste em dar”, e não em pedir.
Barata disse que
também aquela sentença ouvia pela primeira vez... Alvarez o fez contemplar a
fisionomia das pessoas que lhes atiravam moedas... Elas sorriam, pois de certo
modo “compravam uma esperança”. O amigo redarguiu dizendo que faziam aquilo com
o que lhes sobrava e depois pediam a Deus o que não tinham.
Alvarez pensou nas palavras de Barata e acrescentou que às vezes nos
enganamos... “Dar o que se tem, pedir o que se deseja”... É algo simples, mas
talvez o amigo estivesse com a razão. O diálogo foi interrompido pela procissão
que acabava de chegar.
À frente estavam os celebrantes... Os fiéis caminhavam contritos ao lado
e atrás do andor com a imagem da Virgem... Passavam com suas velas
silenciosamente ao lado dos dois mendigos. De súbito, Alvarez se levantou e
Barata quis saber para onde ele ia... A algum lugar! E acrescentou que se
permanecesse ali teria vontade de entrar na igreja e rezar. E o que o
impediria?
O caso é que nunca fizera isso. Ele se colocou a
caminho, mas Barata o reteve e pediu para que não fosse, pois ao menos poderia
ajudá-lo na coleta se ficasse ali. Essas palavras o fizeram sentar-se
novamente.
(...)
O homem manteve-se
cabisbaixo... Barata tocou-lhe o ombro e sugeriu que estendesse o chapéu, pois
alguém se aproximava. Sem levantar os olhos, estendeu sua “ferramenta de
trabalho”. Um maço de muitas notas foi colocado no forro do chapéu.
Vemos que são os $100.000 e que só podia ser Nancy quem lhe entregava a
soma que lhe havia sido subtraída por Péricles. Alvarez levanta o olhar e a
contempla. Ela sorri e deposita também suas joias no chapéu. Ele agradece com
um “Deus lhe pague”.
Nancy
o levanta, o pega pelo braço e o conduz ao interior da igreja... Barata os
segue até a entrada e fica a contemplá-los.
Ela molhou a mão numa
pia de água abençoada e umedeceu a mão de Alvarez. Os dois fizeram o “sinal da
cruz” e se encaminharam para perto do altar, onde os celebrantes preparavam os
rituais de início da celebração... O casal se ajoelhou diante da imagem da
Virgem... Alvarez despejou o conteúdo de seu chapéu no local das ofertas...
Trocaram sorrisos e, ainda de joelhos, acompanharam a cerimônia religiosa.
A
câmara se afastou e nos deu uma tomada ampla da igreja repleta de fiéis.
Fim.
Indicação (não informada)
Um abraço,
Prof.Gilberto