segunda-feira, 31 de outubro de 2016

“O Homem Duplicado”, de José Saramago – bebericar para “digerir” a espantosa semelhança; Antônio Claro levou a arma ao encontro

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/10/o-homem-duplicado-de-jose-saramago_30.html antes de ler esta postagem:

Ao constatar que Antônio Claro ficara surpreso com a semelhança impressionante entre os dois, Tertuliano anunciou que se retiraria... Nada tinha a fazer ali, pois o outro já tinha a prova que necessitava.
Antônio Claro posicionou-se contra... Estava mesmo espantado com a “duplicação”... Não era justo se apartarem no mesmo instante em que acabavam de se conhecer pessoalmente. Disse que podiam conversar... Havia bebida na casa, só não podia oferecer gelo.
O professor explicou que não queria dar trabalho... O ator disse que se sua esposa ali estivesse seriam mais bem servidos... Acrescentou que ao vê-los lado-a-lado ficaria mais confusa do que ele. Tertuliano concordou afirmando que as últimas semanas haviam sido de muita perturbação para ele.
Antônio Claro insistiu que serviria uma bebida ao seu idêntico... Tertuliano não pretendia ingerir nada porque não era dado a tragos mesmo que ocasionais. Aceitou “uma gota de conhaque”... O outro se serviu de “três dedos de uísque sem água”.
Sentaram-se em lados opostos de uma pequena mesa... Antônio Claro não conseguia deixar de manifestar sua admiração... Parecia assombrado com a revelação. Tertuliano o entendia bem porque já havia passado pela mesma situação. Sua dúvida era em relação ao que poderia ocorrer depois de terem se conhecido e constatado a impressionante igualdade.
Antônio Claro quis saber como que Tertuliano descobrira o fenômeno... Mais uma vez ele explicou a respeito dos filmes que assistiu... O outro perguntou como foi que chegara até ele se o nome Daniel Santa-Clara não consta da lista telefônica... Tertuliano esclareceu que antes disso teve de chegar ao nome através das informações contidas nos letreiros das várias fitas... Explicou como eliminou nomes até chegar ao Santa-Clara...
O ator perguntou a razão de ter se dedicado a tarefa tão difícil... Tertuliano respondeu que qualquer pessoa em seu lugar teria feito o mesmo... Emendou que ligou para as pessoas que tinham sobrenome Santa-Clara. O próprio Antônio concluiu que nenhuma delas conhecia Daniel... E era isso mesmo... Porém Tertuliano acrescentou o caso do tipo que informou que, antes dele, alguém mais havia ligado querendo saber a respeito de Daniel Santa-Clara... Também Antônio Claro estranhou o fato, ainda mais porque o tipo informara que quem ligou disfarçava a voz.
Ele quis saber como Tertuliano havia chegado finalmente até ele... O professor explicou sobre a carta que escrevera à produtora... Revelou que a própria empresa fornecera os dados, nome verdadeiro e endereço.
Neste ponto da conversa, Antônio Claro afirmou que achava que as informações haviam sido obtidas a partir da conversa de Tertuliano com Helena... Sinceramente estranhava o procedimento da produtora... O professor explicou que talvez aquilo se devesse ao fato de a carta conter um trecho em que valorizava os atores secundários...
Para Antônio Claro, o procedimento da produtora havia sido estranho... Ele jamais esperaria algo do tipo... Mas nada podia ser feito a respeito, afinal estavam um diante do outro com várias outras dúvidas que podiam ser esclarecidas ali mesmo. Ele ingeriu o uísque que tinha no copo... Tertuliano mal encostou o conhaque nos lábios.
O professor abriu as mãos e imprimiu as palmas contra o tampo da mesa... Sugeriu que o outro fizesse o mesmo para compará-las. Antônio pressionou as mãos, talvez para mantê-las firmes, sem tremores... Em tudo eram iguais... Veias, rugas, pelos, unhas... Era como se tivessem saído do mesmo molde!
É claro que o ator possuía a aliança no anelar esquerdo... Tertuliano não trazia nenhum acessório.
Tertuliano quis conferir os sinais do antebraço direito... Antônio fechou a porta e acendeu as luzes... Os dois arregaçaram as mangas.
Enquanto Antônio ajeitava seu casaco na cadeira, a arma que estava no coldre provocou um ruído... No mesmo instante Tertuliano entendeu do que se tratava e disse que não acreditava que o outro trouxesse o artefato.
O ator quis tranquilizá-lo e garantiu que estava descarregada... Para não gerar maiores suspeitas, retirou a arma e abriu o carregador... De fato estava vazio... Também na câmara não havia nenhum projétil.
Ele quis saber se seu gesto o convencera... A resposta foi afirmativa...
Haveria motivos para crer que o outro trouxesse outra arma escondida?
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/11/o-homem-duplicado-de-jose-saramago.html
Leia: O Homem Duplicado. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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