sábado, 15 de outubro de 2016

“O Homem Duplicado”, de José Saramago – imaginando as dúvidas de Antônio Claro ao saber do misterioso telefonema; identidade revelada pelo disfarce

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/10/o-homem-duplicado-de-jose-saramago_14.html antes de ler esta postagem:

A semana passou sem que Tertuliano decidisse telefonar novamente para a casa do Antônio Claro... Concluiu que a conversa que tivera com a esposa do outro foi das mais satisfatórias...
Enquanto resolvia os afazeres escolares pensava sobre como deviam ter sido os diálogos entre Antônio Claro e a mulher... Seria divertido vê-lo indignado com a insistência dela a respeito da semelhança entre as vozes... Ela só podia desejar que ele estivesse presente quando o estranho voltasse a ligar.
Talvez o ator duvidasse que novo telefonema ocorresse... Principalmente porque a mulher já revelara ao tipo tudo o que ele pretendia... Ou seja, saber do endereço de Daniel Santa-Clara.
(...)
Com o final das aulas se aproximando, Tertuliano poderia planejar melhor os próximos passos... Sem dúvida as informações que coletara de modo antecipado lhe proporcionariam vantagens...
É claro que havia a penosa atividade com a qual se comprometera com o diretor... Mas teria três meses de férias pela frente! Podia visitar a mãe por alguns dias... A despeito de ter sido desencorajado pelo Senso Comum, não descartava a ideia de dirigir até o bairro de Antônio Claro para conhecer a área e seus frequentadores.
Ao se lembrar das observações da esposa de Antônio Claro (sobre atraso nas filmagens), Tertuliano calculou que talvez o casal planejasse viagem de férias... O fato de a carreira do ator estar em ascensão podia resultar em rotina mais exaustiva de filmagens...
Esse raciocínio alimentou a dúvida em Tertuliano a respeito do “desencontro” no caso de o casal viajar durante o período em que ele estivesse pronto para avistá-los.
Não foi por acaso que tratou de planejar um disfarce que o permitisse “ir a campo” sem causar maiores transtornos entre os que conheciam o Antônio Claro. Afinal as palavras do Senso Comum tinham servido para alertá-lo a esse respeito. Barba e bigode? Boné e óculos escuros?
Não faltavam lojas especializadas no comércio de todo tipo de penduricalho, enchimentos e outras composições interessantes para a maquiagem artística... Não é possível que num desses estabelecimentos o confundissem com o ator... A menos, é claro, que o próprio Antônio Claro tivesse que cuidar desses detalhes em sua carreira.
Mas isso era improvável!
(...)
Dado que não teria nenhum problema ao comparecer numa loja de comércio de disfarces, Tertuliano teria apenas de decidir os modelos que adotaria...
Adquiriu uma barba postiça... Achou melhor que ela fosse do tipo “cheia”, porém sem ser longa...
Manipulou-a no banheiro para que ficasse no estilo que pretendia... Teria de falar com aquilo grudado no rosto... Considerou também que talvez precisasse se alimentar. A barba não podia atrapalhá-lo de nenhuma maneira.
Quanto mais se via transformado no espelho, mais parecia estar encontrando a própria identidade... Via que se tornava “mais ele mesmo”.
E tão impressionado ficou com o aspecto geral que decidiu sair de casa usando a barba... Tomou cuidado para que ninguém o notasse... Seguiu para um estabelecimento fotográfico com a intenção de fazer um retrato profissional porque achou interessante conservar para o futuro aquela imagem que tão boa sensação lhe provocava.
Tertuliano pagou uma taxa para apressar o trabalho do funcionário da loja. Logo o serviço fotográfico ficou pronto.
(...)
Além do retrato ampliado, o professor recebeu “meia dúzia de retratos de formato médio”... Decidiu que estes seriam destruídos.
Utilizou-se do banheiro de um centro de compras para retirar a barba... Desse modo pôde voltar para casa tranquilamente.
Tertuliano lidou tão bem com a situação que poderia se dizer que possuía talento para atividades diferentes, como a de policial investigador e de delinquente disfarçado.
Leia: O Homem Duplicado. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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