Podemos estranhar a tranquilidade do Tertuliano depois de ter falado com Antônio Claro... Sua cabeça estivera muito agitada por conta da descoberta do seu “igual”... Penara para chegar aonde chegou... Depois de tanto sufoco reconheceu que havia incomodado o outro... Pediu desculpa e garantiu que não mais telefonaria...
De fato, a serenidade do personagem parece descabida e desproporcional às expectativas que havia criado.
(...)
A verdade é que ele
considerou satisfatória a conversa... Em nenhum momento se alterou e respondeu à
altura os questionamentos feitos pelo ator.
Além
disso, Tertuliano não pensou mesmo que Antônio Claro permaneceria por muito
tempo indiferente à história da duplicação...
(...)
Certamente,
em algum momento, o tipo também pretenderia buscar a verdade a respeito do
fenômeno.
Após
o telefonema vemos Antônio Claro se dirigindo à esposa para comentar a respeito
da convicção do desconhecido professor...
Perguntou
à mulher o que ela faria se estivesse em seu lugar... Visivelmente mais vulnerável
emocionalmente, ela respondeu que se esforçaria para “varrer o assunto” da
cabeça... Tentaria se convencer que não é possível existirem duas pessoas
idênticas no mundo...
Mas
não procuraria conferir? Antônio queria saber se não seria correto procurar o
Tertuliano... Obviamente a mulher não tinha como considerar a situação porque o
drama não lhe dizia respeito... Pelo menos de forma direta.
Ela
disse que, se estivesse no lugar do marido, talvez por medo, não procuraria o
tipo.
Antônio Claro expressou que talvez não houvesse motivo
para se apavorarem... A esposa emendou que só o fato de atender ao telefonema
de um estranho com a voz idêntica à dele já lhe causara vertigem. Ele
concordou, pois também experimentou uma sensação muito desagradável ao
conversar com o estranho... Era como se estivesse ouvindo a própria voz!
Neste ponto da conversa,
Helena (este é o nome da mulher) explicou que ficou a pensar sobre a
possibilidade de “em todo o mais” o tipo ser idêntico ao marido. Antônio Claro
foi rápido ao dizer que a coincidência não devia ser muito maior.
Helena também foi rápida ao
insistir que o misterioso professor disse que as coincidências iam além das
vozes idênticas.
Para ter certeza
daquilo só se comprovassem... O ator saiu com essa... A mulher se desesperou...
Quis saber como fariam uma coisa daquelas... Convidariam o tipo a casa? Os dois
ficariam nus um ao lado do outro para que ela julgasse quem era quem? E no caso
de, sendo mesmo idênticos, como teria certeza de que o verdadeiro Antônio Claro
permaneceria ao seu lado após o exame?
A
mulher cogitou até uma troca de roupas entre os dois! Antônio Claro pediu que
se acalmasse, pois estavam apenas conversando... Nada daquilo ocorreria...
Mas Helena pronunciou que
ficava a perguntar-se a respeito do que o tipo quis dizer sobre, sendo iguais,
tudo o que acontecia a um podia ocorrer ao outro... Inclusive a morte!
Mais
uma vez Antônio pediu a ela que se acalmasse. Explicou que o professor não
tinha afirmado aquilo... Ele fizera “uma suposição, como se estivesse a
interrogar-se a si mesmo”. Provavelmente falara daquele modo para impressionar.
O
casal não podia avançar muito mais no raciocínio porque sabiam pouco a respeito
de Tertuliano... Talvez fosse mesmo um professor de História... Pelo menos parecia
culto...
Antônio Claro admitiu que,
no lugar dele, talvez procurasse pesquisar sobre a vida do “seu igual”...
Buscaria o telefone, entraria em contato... Mais ou menos o que sabiam o que o
tipo andara fazendo.
Helena não estava se conformando... Em suas
preocupações buscava respostas para perguntas sobre como viveria a partir de
então... Olharia para o marido e se lembraria de que “um fantasma rondava a
casa”.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/10/o-homem-duplicado-de-jose-saramago_21.html
Leia: O
Homem Duplicado. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto